C. M. BASCONCILLO

(Pastor-evangelista da Missão Central de Luçon, Filipinas)

A MEDIDA que os discípulos mais privavam com Cristo seu Senhor e Mestre, experimentavam uma sensação profundamente reconfortante. Era-lhes uma honra e um privilégio ouvirem-Llhe as instruções, trabalharem com Êle e beneficiarem-se com as correções feitas com tato e bondade pelo Evangelista-mestre.

Não posso pensar em outra associação mais doce e sagrada do que o companheirismo que existia entre nosso Senhor Jesus Cristo e Seus discípulos durante os três e meio anos de Seu ministério ter-restre. Como pastor e copastores estudaram juntos, trabalharam juntos e juntos oraram. Isto aconteceu faz uns dois mil anos. Mas nós, que somos chamados para ser colaboradores Seus, podemos desfrutar hoje o mesmo companheirismo, se nos associamos uns com os outros e edificamos para a eternidade, dando a decisiva advertência para os últimos dias: “Prepara-te . . . para te encontrares com o teu Deus”.

O assunto que quero salientar é êste: Podemos melhorar o companheirismo existente entre os co-edificadores?

Sejamos Cautelosos

Existe entre alguns de nós, pastôres ordenados, a tendência de crer que os recém-graduados possuem preparo mais valioso do que o que pode alcançar-se no campo do trabalho. Valorizamos tanto sua habilitação para trabalhar para Deus, que quando o jovem aspirante ao ministério dá os primeiros passos no terreno da experiência, podemos ficar desiludidos. Esperamos dêle demais no comêço.

Conquanto seja certo que não devemos menosprezar o preparo dos jovens formados, temos que reconhecer que Deus os coloca sob nosso cuidado, com o objetivo de que sirvamos um “copo de água fresca” da fonte da experiência. Muito certo é que os professores de nossos colégios são homens de experiência. Mas o compacto programa dos colégios, com muita freqüência acabrunha de forma tal a professores e alunos, que impede a obra de partilhar os inestimáveis conselhos que são filhos da experiência. Neste sentido, nós, que estamos no campo, podemos cooperar com nossos irmãos dos colégios, ao suprir o que sabemos ser-lhes de necessidade vital.

Com esta idéia em mente, não devemos criticar demais os defeitos de nossos companheiros mais jovens. Em vez disso, nosso desejo deve ser o de modelar e formar os obreiros jovens para a glória de Deus, de modo que se tornem capazes de ocupar seus cargos na organização do Senhor. Pessoalmente, creio na necessidade de tolerar-lhes os erros, porque também os cometo. Sempre procuro ver nêles o melhor, porque creio que isso mesmo faz Deus comigo.

Amiúde se insinua em nosso ânimo de obreiros experimentados um desejo egoísta. Fácil é pensarmos que ao formá-los devidamente, êsses jovens nos desviarão do alvo que nos propusemos atingir, ou talvez do cargo que já ocupamos. Êste modo de pensar encerra perigo grave. Pode neutralizar todo o poder de realização dos obreiros mais antigos. Estamos na causa do Senhor porque fomos chamados. Visto tratar-se de Sua obra, e Êle tem a direção em Suas mãos, tem a prerrogativa de pôr e depor obreiros, para o bem de Sua igreja.

O desafio que se nos apresenta, como ministros ordenados, é a nossa oportunidade de fomentar o valor daqueles com quem estamos associados, com êles partilhando gratuitamente a sabedoria e a experiência que de Dens recebemos. Deve constituir para nós grande gôzo e desafio maior, o fato de que aquêles a quem ajudamos, ocupem posições de maior responsabilidade que as que ocupamos. Representa um grande desafio espiritual o sermos capazes de minguar, ao passo que êles crescem.

Amor e Compreensão Maiores

Quem dentre nós passou por grandes aperturas, deve ser mais fervoroso e pedir a Deus consagração maior e mais amor, de modo que seja capaz de ajudar os jovens ministros a levarem a tocha da verdade a alturas por inós não atingidas.

Se temos demasiada tendência para criticar, não poderemos ajudar os obreiros jovens de personalidade em formação. Houve quem chegasse a recomendar que um aspirante ao ministério fôsse demitido da causa, sem que se lhe desse tempo suficiente nem ajuda para que chegasse a desenvolver-se.

Algumas vêzes esperamos que outros se desenvolvam rapidamente demais, quando o Senhor foi tão paciente conosco. Cremos que o bom que em nós há deve ser tão variado como o que pensamos que os demais vêem em nós. É possível que o Construtor-mestre esteja formando nêles valores de outra espécie, em proveito do propósito para que os prepara. Nossa maior contribuição para a edificação da causa de Deus é a nossa capacidade de ver em nossos companheiros a mesma que Deus nêles vê.

Ajude-nos Deus a compreender que essa associação com os obreiros jovens é um dos privilégios ministerias mais delicados e sagrados. Quando com êles me associo gosto de sentir que tenho uma responsabilidade que fala da eternidade — a de modelar e habilitar êsses instrumentos que Deus, escolheu. Apraz-me considerar as grandes possibilidades existentes em meus companheiros jovens, desprendo-me de tôda forma de estreiteza egoísta. Quando me associo com meus colaboradores jovens, compreendo minha sagrada responsabilidade sempre crescente. Sei que um dia terei que comparecer perante Deus e dar-lhe conta de qual foi o meu comportamento com os instrumentos por Êle escolhidos. A pergunta que me poderia ser feita no dia do juízo, é esta: “Ajudaste teus colaboradores a vencerem a própria natureza, seu desejo de fama e popularidade à custa dos demais?”

Como estou eu vivendo perante meus colaboradores? Respeitam-me unicamente por minhas credenciais e posição? Quando com êles trabalho na tarefa de dar a última mensagem de misericórdia divina, reconhecem que em mim há profunda consagração e amor duradouro às coisas de Deus?

Aponto-lhes bondosamente os perigos que lhes espera no caminho do dever. Se cometem erros ao apresentarem a verdade, precisam êles de nossa benévola compreensão. Quase sempre é mais difícil construir que destruir. À medida que nossos companheiros jovens avançam na senda da experiência, ponhamo-nos ao seu lado e digamo-lhes: “Irmão, continue progredindo, e Deus o acompanhe. Os erros que cometer, também serão os meus.”

Novas Idéias

Algumas vêzes cremos que as idéias dos aspirantes ao ministério são um insulto aos nossos muitos anos de experiência. E há quem menospreze essas idéias pelo único motivo de serem êles os seus autores. Tampouco falta quem se apressa a apoderar-se da nova idéia e tirar dela proveito, como se sua fôsse. Essa atitude produz maior dano aos obreiros experimentados que procedem dessa manei-ra, do que aos jovens que com êles trabalham. E também pode chegar a desenvolver-se no pastor ordenado um complexo de inferioridade, que se manifestará de diversas formas, tais como ciúmes, espírito de crítica e censura. Difícil é lutar e vencer êsses males, uma vez que se tenham apossado do coração. Escurecem-nos a visão das coisas celestiais, e à medida que os alimentamos, vai-nos reduzindo o poder pára trabalhar em prol da causa de Deus. Nunca perdemos por reconhecer o valor de uma idéia, quando o merece. Nunca!

Causa júbilo ver os jovens ingressarem no ministério. Necessitam êles de nossas orações e direção. Aprovemos-lhes as idéias com entusiasmo e sempre reconheçamos todo o seu direito de propriedade. A devida consideração das boas idéias de nossos colaboradores é um modo excelente de animá-los a desenvolver a individualidade que Deus lhes concedeu. Não aceitaremos com prazer as idéias e os planos de nossos obreiros jovens, e buscaremos com êles melhorar nosso próprio ministério?

Deus quer que vivamos vida consagrada e ajudemos a formar companheiros consagrados no ministério. Segundo fôr a semeadura, será também a colheita que produzirá. Se assumirmos atitude de suficiência própria, de “sou mais santo do que tu”, provável é que o obreiro a quem ajudamos a formar-se se pareça conosco. Se somos sensíveis ao eu e não à influência divina, também o será o nosso associado. Se nossa apresentação das mensagens é argumentativa e em nós predomina o espírito de debate, a mente de nossos companheiros jovens formar-se-á inconscientemente pelo mesmo padrão. Quando houvermos aprendido a tratar corretamente nossos colaboradores, nosso testemunho em favor de Deus será poderoso; quando mantivermos o olhar fixo em Jesus Cristo, e na nova Terra, nosso ministério será ativo, magnético, repleto do Espírito Santo.

Contemplai a abundante chuva do divino Espí-rito Santo, que espera um ministério consagrado, harmonioso e cooperador! Irmãos se quisermos terminar a enorme obra que resta para fazer, temos que receber o poder do Pentecostes dos últimos dias. Oxalá fixemos a vista na Nova Jerusalém, e estejamos preparados para receber êste incomparável privilégio que é a ascensão dos santos para a amada cidade que espera os remidos.

Em Rom. 12:1, Paulo nos faz o seguinte convite: “Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus, que apresenteis os vossos corpos em sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional”.

Queira Deus persuadir-nos a esforçar-nos para alcançar um ministério mais nobre, agradável e plenamente consagrado, para que Deus cumpra o propósito divino, reservado para todos nós.