JOHN W. OSBORN

(Presidente da Associação de Nova Jersey, E. U. A.)

OCASIÕES há em que o pastor sai do púlpito, sábado pela manhã, completamente envergonhado de seu fracasso na pregação da Palavra. Com expectação intensa, o rebanho esperava ser alimentado, mas tudo quanto recebeu foi palha. Êle está profundamente ciente de seu fracasso, e êsse reconhecimento muitas vêzes lança uma sombra sôbre todo o seu dia.

Muitas vêzes isso é devido ao preparo inadequado que, por sua vez, é devido a planejamento fraco. As ocupações assoberbantes da semana adiaram o preparo do sermão até aos umbrais do sábado. Então é que decidirá sôbre que irá pregar, e busca à pressa assimilar material digerido. Prega com desconforto e apreensão, a congregação percebe a falta do preparo.

Infelizmente êste exemplo se torna muitas vêzes hábito. O ministro desenvolve a mediocridade, a congregação continua a sofrer em silêncio, esperando que haja troca de pastor. Pior ainda é que o Senhor Se envergonha dessa espécie de trabalho.

Conseqüentemente Paulo adverte o ministro com estas palavras: “Procura apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade. II Tim. 2:15”. Obreiro que não tem de que envergonhar-se é obreiro que estuda. Obreiro que estuda é obreiro que planeja o seu estudo.

O planejamento de uma série de sermões com um ano de antecipação, estabelece orientação aos hábitos de leitura do pastor. O conhecimento antecipado do assunto do sermão da semana seguinte, leva ao preparo bem antecipado e adequado. Os pastôres que são poderosos no púlpito, semana após semana, são em geral homens que devotam esfôrço longo e ardoroso à sua tarefa. São homens que planejam seus sermões com meses de antecipação. O notável ministro presbiteriano contemporrâneo, Clarence Macartney, em seu livro Preaching Without Notes, pág. 90, faz esta observação: “É altamente importante que o pregador planeje o seu trabalho com bastante antecedência”.

Henry Sloan Coffin, escolhido para assumir a cátedra de Lyman Beecher em Yale, faz alguns anos, seguiu o mesmo método: “Distribuí os assuntos das pregações, tanto quanto possível, no terreno das previsões, durante um ano inteiro. . . . Impus-me começar um de meus sermões [êle falava duas vêzes por domingo] na têrça-feira pela manhã. Isto para evitar o acúmulo de trabalho no fim da semana.” — Em Here Is My Method, (Edição McLeod), págs. 53 e 54.

Quando Planejar os Sermões para o Ano

Como devem ser planejados os sermões para o ano? Poderá ser dito, de passagem, que o melhor tempo para planejar os sermões para o ano são os meses do inverno. Em muitos casos o período mais suave do ano para o pastor é a época das férias. Se o inverno fôr tempo de muita ocupação, deve o pastor escolher a época mais aliviada do ano para êste planejamento, considerando êle essa época o seu ano pastoral.

O primeiro passo é riscar uma fôlha de papel. Isto pode ser feito de duas maneiras. Tomai uma fôlha de papel de carta e riscai nela cinco colunas verticais, de igual largura. Riscai, horizontalmente, onze linhas paralelas. Com isto feito tereis 55 retângulos, suficientes para os 52 sábados do ano. Em cada um dêsses retângulos, escrevei, no ângulo esquerdo superior, o mês e a data do respectivo sábado. O espaço restante será usado para o tema do sermão. Todo o plano de um ano pode, assim, ser visto num relance, quando os retângulos houverem sido preenchidos com os respectivos assuntos.

A fôlha de papel pode também ser preparada na maneira seguinte: Os meses do primeiro trimestre podem ser escritos a máquina, por colunas, em espaço triplo, com a data de cada sábado debaixo do mês correspondente. Há, numa fôlha de papel de carta, espaço para o primeiro e segundo trimestres do ano, em duas colunas. Ao lado de cada data será escrito o tema para êsse dia.

Consideremos agora sete fatôres que podem ser proveitosos no planejamento dos sermões do ano:

  • 1. Calendário Denominacional. — O calendário denominacional, geralmente chamado Calendário Missionário da Igreja, contém certas exigências. Há dias especiais que exigem sermões especiais, tais como os dias pró-Liberdade Religiosa, Educação e Temperança. Além disso, há dois sábados da Semana de Oração e quatro da cerimônia da Santa Ceia. Êsses, automàticamente se enquadram no projeto dos sermões para o ano.

  • 2. Calendário Secular. — O calendário que indica os feriados e fastos nacionais também fornece sugestões para assuntos de sermões. A Páscoa, se bem que não seja oficialmente celebrada pelo nosso povo, é momento excelente para pregar-se a ressurreição e assuntos correlatos. O Dia das Mães fornece a oportunidade para um sermão sôbre algum aspecto das relações de família. O Natal oferece a oportunidade para um sermão sôbre a encarnação.

  • 3. Grupos Especiais. — Ao planejar os sermões para o ano tem o pastor de pensar nas necessidades dos membros jovens de sua congregação. Nas igrejas maiores, deve ser dedicado um dia aos casais jovens, com uma mensagem apropriada. Isto é muito oportuno e proveitoso, em vista do número alarmante de casamentos fracassados. Há os jovens, que necessitam de sermões especiais, para êles preparados. Os sermões planejados para os jovens da congregação devem ser pregados nos sábados da Semana de Oração dos Jovens. Também há as necessidades das crianças. Anos. a fio segui o costume de, uma vez por trimestre, dedicar às crianças vinte e cinco minutos da hora do culto. Isto pode não ser factível nas igrejas maiores, mas é altamente recomendável na maioria das congregações. Nas congregações em que haja bastantes crianças, pode realizar-se uma vez por mês, ou mais freqüentemente, um culto especial para elas, à parte do culto regular da igreja.

  • 4. Problemas Congregacionais. — Os sermões devem ser planejados para atender às necessidades específicas e individuais da congregação. Dois meios há pelos quais o pastor pode descobrir essas neces-sidades. Em sua visitação pastoral, descobrirá êle problemas especiais, comuns à maioria de seus membros. O planejamento de sermões que atendam a essas necessidades tornará o seu ministério muito mais prático e eficaz. Neste particular deve ser feita uma advertência: Sob nenhumas circunstâncias deverá o pastor, em seu sermão, trair a confiança de um membro. Seria injusto e imperdoável.

Outro método de averiguar as necessidades especiais da congregação é uma fôlha de inquérito. Periodicamente, talvez anualmente, pode o pastor mandar mimeografar uma fôlha de inquérito, em que fará constar assuntos que considerará de interêsse geral, os quais os membros poderão assinalar. Êle animará cada membro a assinalar o assunto que pense deva ser apresentado pelo pastor em data posterior.

  • 5. Assuntos de Reforço Espiritual. — Há certos assuntos que devem figurar anualmente no calendário de sermões do pastor. Muitos pastôres concordam com que nunca deve passar um ano sem haver pelo menos um sermão sôbre os temas seguintes: Espírito de Profecia, Mordomia, Segunda Vinda de Cristo e Conquista de Almas.
  • 6. Sermões em Série. — O interêsse da congregação no culto de sábado é aumentado pelos sermões em série. Se o pastor quiser, poderá apresentar até três séries pequenas num ano. É crença generalizada de que, com raras exceções, o interêsse não é mantido além de seis a oito sábados.

O pastor que sabe com um ano de antecedência o que irá sermonear, dispõe de tempo suficiente para o preparo dessa série. Os assuntos para os sermões em série são infindáveis. Pode ser apresentada uma série sôbre biografias. Pode, também, ser escolhida uma série sôbre a vida de Cristo, doutrinas bíblicas ou um livro da Bíblia.

  • 7. Sugestões do Espírito de Profecia. — Finalmente, na leitura sistemática do Espírito de Profecia, o pastor encontrará declarações da serva do Senhor referentes aos assuntos que devem ser apresentados aos nosso povo. Por exemplo, no livro Obreiros Evangélicos,capítulo “O Ministro no Púlpito”, págs. 143 a 156, serão achadas umas quantas destas referências, tais como: “Alguns ministros pensam não ser necessário pregar arrependimento e fé. … Muitas pessoas, no entanto, são lamentavelmente ignorantes quanto ao plano da salvação; precisam mais de instrução quanto a êsse tema todo-importante, do que sôbre qualquer outro.” — Pág. 154.

Pela adoção dêste plano o pastor nunca precisa ficar perplexo sôbre que deverá pregar. Das sugestões já enumeradas existem possibilidades para quarenta e quarto sermões. Dois mais serão preenchidos como o advento da assembléia bienal. O pastor estará ausente dois outros sábados por motivo de suas férias, o que perfaz o total de quarenta e oito. Há, no decorrer do ano, pregadores de fora, convidados, que tomarão conta dos quatro sábados restantes e perfarão o total de cinqüenta e dois.

Um programa desta maneira planejado poderá ser introduzido noutros aspectos das responsabilidades ministeriais. Os empreendimentos evangélicos podem ser cuidadosamente organizados por êste modêlo, com meses de antecedência: O evangelismo pessoal e a atividade leiga, se planejados desta forma, serão menos casuais e mais eficientes.

Os resultados desta maneira de planejar serão mais satisfatórios. Do ponto de vista pastoral, anima a preparação mais oportuna e melhor dos sermões. Capacitará o pastor para fazer do culto público uma unidade integral, com hinos, orações e a Escritura, todos integrados no tema do sermão. Tornará possível a divulgação antecipada no boletim da igreja e nos jornais. Ajudá-lo-á a progredir homileticamente. Elevá-lo-á da mediocridade.

Os membros dessa congregação serão mais felizes porque estarão mais bem alimentados. Terão êles interêsse duplo na freqüência da igreja aos sábados. Tirar-lhes-á o nervosismo que têm alguns membros pela incerteza de qual será o próximo sermão do pastor. Nunca possuem o conhecimento da espécie de sermão que o pastor pregará, pelo que deixam de trazer seus amigos de outras crenças.

Lugar para a Operação do Espírito

Podem alguns pensar que êste plano não deixa margem para que o Espírito impressione o ministro quanto à mensagem a ser transmitida no sábado. Verdade é que talvez alguma ocorrência na experiência pastoral ou acontecimento mundial importante exijam a alteração do calendário anual dos sermões. Portanto, qualquer tabela anual de sermões, tal como um horário de estrada de ferro, deve estar “sujeita a alteração sem aviso prévio.” Com essa margem de flexibilidade, será feita ampla provisão para a guia do Espírito Santo.

Por outro lado, o Espírito Santo não está limitado a impressionar a pessoa apenas em tempo de crise. Êle pode influenciar o homem no preparo para as necessidades de seu rebanho com um ano de antecedência, tanto quanto com uma semana de antecipação.

Existe uma escola de raciocínio que ensina não ser necessário preparo árduo, que o Espírito Santo concederá uma mensagem na mesma hora. Isto é verdade em certo grau. Um sermão não deve ser tão cuidadosamente planejado que o Espírito Santo não possa ter nêle entrada alguma. O planejamento do sermão não deve excluir a Sua atuação. Entretanto, se o Espírito Santo estiver presente no preparo do sermão, não é provável que esteja ausente quando fôr proferido. Êle despertará lampejos de inspiração. Desenvolverá a espontaneidade. Acrescentará aquela alguma coisa misteriosa que, qual um dardo, introduz a mensagem até ao coração.

Talvez isto possa ser mais bem ilustrado mediante a história que Martim Niemöller gosta de contar acêrca do Dr. Klaus Harms, célebre revivalista do norte da Alemanha. Estava o Dr. Harms visitando uma assembléia de ministros. Um dos membros mais jovens do grupo disse: “Eu nunca preparo os meus sermões, pois tenho a absoluta confiança em meu Senhor e Salvador, e no Espírito Santo, e sei que as palavras me serão concedidas, conforme a promessa.” A isto respondeu o Dr. Harms: “Tenho agora setenta e cinco anos de idade, e prego há já cinqüenta anos, mas preciso confessar que em todo o tempo que ocupei o púlpito, jamais o Espírito Santo me falou uma única palavra. Isto é, como exceção de uma vez. Falou-me, muitas vêzes, porém, ao sair eu do púlpito, e o que me disse foi isto: ‘Klaus, você tem andado muito preguiçoso!’ ” — The Pulpit Digest, dez°. de 1952, pág. 22.

O planejamento de um ano de sermões deixa suficiente margem para a inspiração do Espírito, se bem que faça arranjos para a transpiração. A inspiração sem a transpiração é geralmente “sem forma, e vazia.” A transpiração sem a inspiração é destituída de vida. Tal como o vale de ossos secos de Ezequiel, não há nela fôlego. Mas os dois unidos produzem uma substância espiritual que comunicará vida e vigor a qualquer organismo espiritual. A transpiração fornece o material. A inspiração ateia-lhe fogo.

A conclusão de tôda a matéria é esta: O planejamento de vosso ano de sermões auxiliar-vos-á a tornar-vos em obreiro que alcança a aprovação divina, “obreiro que não tem de que se envergonhar, que maneja bem a palavra da verdade.”