A pregação está em crise, numa grave crise.
Stuart McWilliam, dirigindo-se aos alunos de várias escolas de teologia, escocesas, em sua apresentação das dissertações Warrack de 1968-1969, reconheceu que “nestes tempos há um receio generalizado, pondo em dúvida o valor da pregação e a confiança em seu poder”.
Receio! Dúvida de seu valor! Confiança decrescente em sua eficácia!
A pregação faz frente a estes três aliados. Há ainda algo nocivo à pregação: a indiferença.
Em 1958 os 49% dos habitantes dos Estados Unidos assistiam, regularmente, cada semana, a algum lugar de culto. Em 1970 a assistência caiu para 42%. Mas quando a organização de estatística Gallup analisou, em 1971, o assunto com relação aos hábitos de um grupo representativo integrado por 7.543 adultos, comprovou que somente 40% iam à igreja. Se esta tendência para a deserção continuar durante os próximos vinte anos, a pregação será suprimida, ou, de qualquer forma, o pregador irá sentir-se só, percebendo que o eco de sua voz lhe será devolvido pelos bancos vazios.
Não há dúvida de que muito antes de nossa época houve quem se queixasse da apatia manifestada pelo homem com respeito à pregação. Edna St. Vincent Millay, nascida em 1892, fez referências à pregação, em termos que parecem tornar-se cada vez mais categóricos à medida que o tempo vai passando: “O homem de Deus”, disse ela, “levanta-se diante da multidão, e em sua voz melíflua e calculada indiferença, apresenta o Evangelho humilde aos orgulhosos. Mas ninguém atende. Suas palavras são como o vento que passa”.
Por que a pregação está passando por uma crise tão séria?
O homem contemporâneo está tão saturado das bagatelas transitórias que têm criado a sua teologia, que não pode alçar a vida, erguendo-a de encontro ao céu. Eric Mascall descreve a miopia humana nas seguin-tes palavras:
“A tecnologia tem criado um clima psicológico que não nos leva àqueles aspectos da vida que identificam o homem como criatura de Deus. Tem exercido influência sobre a nossa mente no sentido de levar-nos a considerar o mundo como matéria-prima destinada a ser manipulada pelo homem e não para ser contemplado por nós em atitude de admiração”.
“Não seria, talvez, a ameaça de morte da pregação o resultado de o homem ter tido um crescente interesse em sua pessoa? Se o homem nega a realidade de uma criação especial, deixa de crer no sobrenatural, exalta as inovações e menospreza as tradições da mensagem cristã. Sua pregação despertará escassa atração. O homem que se acha atrás do púlpito poderá ser o mais indicado, mas se a sua teologia na realidade não é mais que antropologia, e sua escatologia é desvirtuada, então para que preocupar-se em prestar atenção?
Os adventistas admitem que a pregação está correndo perigo, mas sentem que foram chamados para proclamar uma advertência solene contra as idéias otimistas que estabelecem, por hipótese, a perfeição do gênero humano mediante uma evolução. Crêem, deveras, que sua incumbência está retratada na missão do anjo visto por João, levando consigo o “evangelho eterno” para o proclamar “aos que se assentam sobre a Terra, e a cada nação, e tribo, e língua e povo”. Mas estão convencidos de que desenlace exige um “testemunho a todas as nações”, por meio de um Evangelho “pregado em todo o mundo”.
Descobrimentos de Uma Pesquisa
Durante 1971, 105 pessoas responderam a algumas perguntas que lhes foram feitas depois de uma pesquisa sobre os métodos empregados para assegurar e manter um auditório em atividade evangelizadora.
As perguntas foram feitas entre os adventistas do sétimo dia. As respostas vieram dos diretores da Associação Ministerial, de Associações locais, de Uniões e da Associação Geral. Vieram também de homens que se mantêm em contato com as massas, tais como os oradores dos programas Fé Para Hoje, Está Escrito e a Voz da Profecia. Estes programas se estendem por todos os Estados Unidos e por toda a Austrália.
Em meu questionário pedia que dissessem algo sobre os métodos que contribuem mais eficientemente para manter um auditório durante um ciclo de evangelização. Como resultado os evangelistas fizeram anotações assinalando a cláusula “pregação bíblica, cristocêntrica” como a primeira em importância.
O evangelista adventista não nega que para transmitir a verdade deve-se empregar todo método eficaz. Conforme revelou a pesquisa há muitas técnicas que atraem o auditório e ajudam a mantê-lo. Ao mencionar as técnicas mais aplicáveis para conservar o auditório, os evangelistas indicaram que é essencial ter um programa cuidadosamente planejado para manter o interesse dos adventistas. Foram mencionadas numerosas idéias, mas duas delas excederam em importância a todas as demais no que tange à conservação da assistência: “o programa de visitas” e a “pregação bíblica, cristocêntrica”.
Resumindo, podemos dizer que apesar de tudo a pregação se acha em crise devido a numerosos motivos, sendo nosso dever conservar a assistência às reuniões de evangelização. E a pregação que consegue manter esse auditório é bem possível que estimule também a assistência à igreja.
Temos uma idéia clara da maneira como devemos pôr ênfase em nossa obra de evangelização. As instruções são: Empregar todo método válido, mas, acima de tudo, visitar e pregar.
Pregação Efetiva
Provavelmente seja mais fácil descobrir o “papel” da pregação, que os métodos que fazem dela um trabalho efetivo. Apresentamos algumas sugestões, crendo que merecem nossa atenção.
1. Para ser efetiva, a pregação deve ser bíblica. O pregador precisa apanhar toda informação, por todos os meios possíveis, a fim de chegar a uma melhor compreensão da Palavra de Deus.
Respondidas as interrogações da introdução bíblica, e tendo confirmado o significado da exegese mediante um exame à luz da história eclesiástica, estará o pregador preparado para relacionar essa verdade com a mensagem total da Escritura. Logo, quando toda essa investigação ficar condensada em sua mente, na forma de uma verdade diáfana e constrangedora, convertida numa experiência pessoal, estará ele, finalmente, preparado para ser instrumento do Espírito Santo e expor essa verdade com sinceridade e fervor diante de seus ouvintes.
É fácil deixar que os elementos da investigação bíblica sejam menosprezados. Os conhecimentos do hebraico, obtidos no colégio, com muita freqüência foram por mim relegados ao esquecimento em virtude da enorme atividade que a obra pastoral e evangélica têm exigido dos meus doze anos seguintes. No Seminário Teológico da Universidade Andrews, guiado pela experiência inspiradora de quem em vida foi o Dr. Alger F. Johns, tomei a decisão de não pregar jamais, baseado numa passagem do Velho Testamento, sem haver-me primeiro esforçado por compreender as palavras com que o Senhor achou conveniente que se registrasse inicialmente a Sua verdade. Sem dúvida, toda esta investigação bíblica, tão minuciosa, não é mais que — por comparação — a estrutura do transatlântico, que se encontra abaixo da linha de flutuação. Ela é que dá estabilidade ao navio, embora não seja vista.
Aguarda-se uma catástrofe no trabalho do Pastor que enaltece o seu talento de preferência a exaltar Aquele que é poderoso para salvar.
2. Para ser efetiva a pregação deve ser cristocêntrica. “Em toda página, seja de história, de preceitos ou profecia, as Escrituras do Antigo Testamento irradiam a glória do Filho de Deus”. Esse esplendor pode ser compreendido de um modo ainda mais claro no Novo Testamento. A razão por que existem os adventistas do sétimo dia, pode ser compreendida na sua tarefa de esclarecer toda a mensagem da Bíblia sobre esse Deus que atualmente está fazendo com que Seu Santuário “surja vitorioso”, por meio de Cristo. Estamos convencidos de que a presente obra de Jesus é “uma grande verdade”, e que quando se vê e compreende essa grande verdade, os que a mantêm trabalharão em harmonia com Cristo no sentido de preparar um povo que subsista no grande dia de Deus. Seus esforços terão êxito”. O conteúdo destas palavras implica a promessa de que os mais gloriosos dias de pregação, estão ainda por vir para o grande movimento adventista, à medida que este movimento vai terminando a proclamação em todo o mundo.
3. Para ser efetiva a pregação deve ser contemporânea. Deve conter uma resposta atual que faça compreender os pontos essenciais das perguntas, esclarecendo as dúvidas angustiantes e perturbadoras. O pregador deve colocar-se na moldura do pensamento de seus ouvintes e estar familiarizado, por experiência própria com as influências dominantes que afetam a vida.
Há algum tempo examinei o conteúdo das seguintes publicações: Reader’s Digest, Newsweek, Life e Time. Descobri que nestes meios de informação havia sido dado ênfase a mais de setenta temas diferentes. Alguns se referiam às principais inquietudes humanas: os filhos, a família, o matrimônio, a segurança, a felicidade. Outros eram assuntos que excitam a imaginação do homem. Todos estavam, até certo ponto, relacionados com a presente geração e a Palavra de Deus.
Para estar atualizado, o pregador deve ser conhecedor da natureza humana e sentir-se santificado. De que outro modo conseguirá submeter-se, inteligentemente, à direção do Espírito para tornar-se um catalizador e conseguir uma mudança da natureza humana? A visita constante o leva a sentir-se capacitado para moldar sua pregação não só às necessidades da humanidade em geral, como também das pessoas com quem está em contato diariamente. Suas palavras jamais desapontarão os ouvintes. Serão tão específicas que se ajustarão às necessidades reais das pessoas.
Temos mostrado que a pregação efetiva se origina num conhecimento cabal e experimental da Escritura e de Cristo, bem como no conhecimento dos homens a quem o Senhor veio salvar. Uma pregação desta natureza, movida pelo Espírito Santo, conservará o auditório tanto nas reuniões de evangelização como na igreja. O homem que não tem paz dará atenção a quem sabe qual o lugar que seus ouvintes ocupam no plano de Deus e a quem juntamente com Richard Baxter (1615-1691) pode dizer: “Prego como se cada vez fosse a última, e como se fosse um enfermo dirigindo-se a outros enfermos”.
Arturo N. Patrick