Se a vida do Mestre ofereceu um contraste perturbador junto à sociedade de Seus dias, oferece à sociedade de hoje maior contraste. Sua vida de serviço foi e é uma reprovação ao egoísmo, ao amor próprio e ao desejo de mando e exaltação.

O Criador imprimiu nas coisas criadas a suprema e universal lei do serviço. Os pássaros cantariam, as flores soltariam perfume, as árvores purificariam o ar, o Sol iluminaria o dia, a Lua e as estrelas a noite, etc.

Somente o homem recusa a lei suprema do serviço ao próximo.

A roda do moinho deixará de girar quando as águas da corrente impetuosa forem estagnadas, e o comboio em movimento pára quando o calor abrasante arrefece dentro da fornalha escondida. Assim também a caridade neste mundo degenera em frios regulamentos profissionais, em estatísticas sem inspiração, sem eficácia e sem amor. Isso acontece por esquecerem os homens as palavras inspiradas dAquele que disse: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos”. S. Marcos 10:45.

Os presunçosos e arrogantes procuram, na maioria das vezes, fazer sentir aos inferiores o peso total de sua miserável importância, e assim, cedo ou tarde, o orgulho degenera em tirania. Mas quando há vontade em servir, há também submissão do EU para que os nossos semelhantes sejam exaltados.

“Cristo estava estabelecendo um reino sobre princípios diversos. Chamava os homens, não à autoridade, mas ao serviço, os fortes a sofrer as fraquezas dos fracos. Poder, posição, talento, educação, colocavam seus possuidores sob maior dever de servir aos semelhantes”. — DTN, p. 409.

“No reino de Cristo não há nenhuma orgulhosa opressão, nenhuma obrigatoriedade de costumes. Os anjos do Céu não vêm à Terra para mandar, exigir homenagens, mas como mensageiros da misericórdia, a fim de cooperar com os homens em erguer a humanidade”. — Idem, p. 410.

Outras citações do Espírito de Profecia reforçam o pensamento que põe em relevo o valor do serviço abnegado. Diz ainda a senhora White: “Um dos derradeiros atos de Sua vida na Terra foi cingir-Se como servo, e desempenhar a parte de servo”. — DTN, p. 483.

Ele se fez servo de todos. Esvaziou-Se de Si mesmo.

O individualista odeia, levanta muros. O comunitário ama, constrói pontes. Muros separam, pontes aproximam, unem. O individualista, se pudesse, optaria por viver sozinho, como dono absoluto do mundo.

O imperador Nero, de Roma, afirmou certa ocasião: “É uma lástima que a humanidade inteira não tenha uma única cabeça… para decepá-la de um golpe”. Nero foi a personificação clássica do egoísmo consumado, do individualista pervertido.

Teríamos muita coisa a dizer sobre os serviços prestados por Cristo, dignos de serem imitados por nós. Em Sua maneira de comunicar-Se com as pessoas está envolvida profunda lição espiritual para todos os Seus obreiros. Ele não negligenciou o leproso, tampouco o cego à beira do caminho; o rico fariseu teve a atenção de Cristo voltada, para ele, bem como o cobrador de impostos. Uma multidão cansada e faminta pôde ter nEle plena confiança. Um paralítico, um surdo, um mudo, um endemoninhado, mães aflitas, etc., tiveram respostas a todos os seus sofrimentos. Ele veio para servir e dar a Sua vida.

O que guarda a Lei este é feliz. A Lei ensina a amar. Amar e servir são virtudes que não podem separar-se. O cristianismo autêntico consiste em prestar serviços. É servir bem, servir como Cristo serviu.

Ninguém que não esteja crescendo diariamente em capacidade e utilidade estará cumprindo o propósito da vida.

Se Cristo estivesse entre nós, em pessoa, e visitasse hoje nossas igrejas, nossos hospitais e colégios, e outras instituições, não há dúvida de que pronunciaria, com igual sabedo-ria, a parábola do Bom Samaritano, condenando o profissionalismo e o funcionalismo adventistas.

Nos corredores de nossas escolas, nos leitos de nossos hospitais e nos assentos de nossas igrejas há almas assaltadas, corações feridos à espera de alguém que lhes estenda a mão amiga.

Quando, em 1922, nossa Faculdade de Teologia em São Paulo, entregava ao campo brasileiro a sua primeira turma de formandos, os canhões haviam silenciado fazia pouco tempo. “Eram tempos estranhos aqueles, para a geração que havia nascido durante a primeira conflagração. Os jovens cresciam olhando o mundo entre perplexos e esperançosos. A carnificina das trincheiras levara-os a crer em dias melhores. A luta desencadeada em 1914 seria o último conflito entre as nações, ‘uma guerra para acabar com as guerras’. O panorama universal oferecia um espetáculo diferente. As transformações se sucediam. O idealismo criara a Sociedade das Nações, destinada a promover a felicidade dos povos e a dirimir as contendas armadas. Haveria paz sem vencidos ou vencedores. Instituíra-se a Organização Internacional do Trabalho. Promulgavam-se leis de amparo ao trabalhador. Os costumes modificavam-se. Parecia que o mundo novo como que cortava os laços com o antigo. Acreditava-se no início de uma nova fase da história contemporânea. A grande guerra praticamente demonstrara que a civilização não se compunha apenas de elementos materiais e que, sem os valores morais, o mundo recairia na barbárie, perdendo-se o patrimônio intelectual da humanidade”. — O Estado de São Paulo, 30/10/75.

Ao saírem aqueles jovens recém-formados, a fim de dedicar-se à pregação, o verde da esperança encontrava-se em cada coração. Eles deveriam pregar a mensagem contida no capítulo 24 de São Mateus: “Ouvireis falar de guerras e rumores de guerras”. Nações estariam lutando contra nações e reinos contra reinos. E assim tem sido. Hoje, nossas instituições de ensino enviam novas turmas. Que irão encontrar? Ora, a paisagem é sombria, triste, melancólica! O próprio ar está poluído. Poluídos estão também os homens. A Terra está devastada e saqueada. Pranteia e se murcha. Os mensageiros da paz choram amargamente e desmaiam de terror.

Físicos, químicos, apologistas e “filósofos são os pregadores do Apocalipse. Profetizam a extinção da vida. O fim do mundo é estudado nos laboratórios mais sofisticados. Há violência, marginalidade e muita conformação com coisas erradas.

Ora, dentro deste contexto fúnebre, a Igreja deve pregar a mensagem de esperança.

Se queremos imitar a Cristo em nosso serviço, devemos trocar nossa vontade pela vontade de Deus. Desta forma Ele trocará nossa miserável força por Sua onipotência infinita.

“A obra da edificação do reino de Cristo irá avante, se bem que, segundo todas as aparências, caminhe devagar, e as impossibilidades pareçam testificar contra o seu progresso. A obra é de Deus, e Ele fornecerá meios e enviará auxiliares, sinceros e fervorosos discípulos, cujas mãos também estarão cheias de alimento para as famintas multidões. Deus não Se esquece dos que trabalham com amor para levar a palavra da vida a almas prestes a perecer”.’…

Deixo convosco o segredo da grandeza : “O princípio da grandeza é tornar-se pequeno. O aumento da grandeza é tornar-se menor. E a perfeição da grandeza é não ser nada”.

“Os mais inteligentes, os mais bem dotados espiritualmente, só podem comunicar, à medida que recebem. Não podem, de si mesmos, suprir coisa alguma às necessidades da alma. Só podemos transmitir aquilo que recebemos de Cristo; e só o podemos receber à medida que o comunicamos aos outros. À proporção que continuamos a dar, continuamos a receber ; e quanto mais damos, tanto mais havemos de receber. Assim estaremos de contínuo crendo, confiando, recebendo e transmitindo”. — DTN, p. 275.

José C. Bessa, secretário do Departamento Ministerial da USB