Albertina R. Simon

ESTUDAR a língua vernácula, procurando usá-la corretamente, é nosso dever.

Felizmente esta página de “Nossa Língua”, como já o foi em tempos passados, tem por escopo principal tratar de assuntos atinentes a questões vernáculas, com o fim de ajudar os manejadores da pena e os buriladores da palavra.

Sentir-nos-emos felizes se pudermos contribuir para o aperfeiçoamento dos que desejam escrever e falar com relativa correção, a língua vernácula, e esperamos não serem vãos os nossos esforços.

O nosso belo e rico idioma é muitíssimo descuidado, maltratado. Na imprensa, no lar e até nas escolas, está eivado de uma quantidade assustadora de erros graves.

É uma tristeza ler os jornais, ver os cartazes de rua, as placas de anúncios. E os têrmos da gíria proliferam por tôda parte, livremente, deturpando a bela língua portuguêsa.

Falando ou escrevendo, temos o dever de dar atenção às virtudes principais do estilo: clareza e pureza. Devemos ser claros para que outros nos entendam, e puros, usando uma linguagem escorreita.

A pureza no escrever e no falar tem sido objeto dos maiores cuidados dos nossos homens de letras. Precisamos imitá-los. Mister é conhecer com perfeição a língua vernácula, e o conhecimento razoável dela depende de estudo paciente e muita leitura.

Notam-se, com freqüência, erros elementares detestáveis no falar de pessoas presumivelmente cultas. Vejamos alguns exemplos:

  • 1) Fazem muitos dias que êle chegou.
  • 2) Haviam muitas pessoas na sala.
  • 3) V. S. é entre os vossos correligionários o mais competente.
  • 4) Aluga-se bicicletas. Vende-se estas casas.
  • 5) Nós o obedecemos. Eu lhe vi na cidade.
  • 6) Vamos na Escola Sabatina, … e muitos outros.

Paremos por aqui e corrijamo-los, respectivamente, com algumas regras para provar a correção.

  • 1) Faz muitos dias que êle chegou. O verbo jazer regularmente completo é, no sentido de tem-po passado, excepcionalmente impessoal, portanto só se emprega na 3a. pessoa do singular. Exs.: Faz um ano; fêz vinte, trinta, quarenta anos.
  • 2) Havia muitas pessoas na sala. O verbo haver é outro verbo excepcionalmente impessoal ou impessoal acidental, por conseguinte é, como o fazer, usado só na 3o. pessoa do singular. Exs.: Houve brincadeiras; haverá várias reuniões; há muitos alunos.
  • 3) V. S. é entre os seus correligionários o mais competente. Os pronomes de tratamento você, Sr., Sra., V. S., V. Excia., V. M., V. A., etc., pedem o verbo na 3a. pessoa do singular e os pronomes pessoais e os possessivos correspondentes: o, a, lhe, seu, sua, etc. Se forem do plural levam o verbo para a 3a. pessoa do plural. Exs.: V. S. é muito prestimoso bem como todos os seus. VV. SS. são muito prestimosos bem como todos os seus.
  • 4) Alugam-se bicicletas. Vendem-se estas casas. Êstes verbos estão no plural porque estas frases são passivas. O se é partícula apassivadora pessoal. Equivalem a: bicicletas são alugadas; estas casas são vendidas. O sujeito da primeira é bicicletas e o da segunda, estas casas. Ficará o verbo no singular se o sujeito fôr do singular. Exs.: Vende-se êste relógio. Vendem-se estes relógios.
  • 5) Nós lhe obedecemos. Eu o vi na cidade. O verbo obedecer é relativo, pede complemento indi-direto e o pronome lhe só pode ser indireto. Já o verbo ver é transitivo; pede complemento direto. Os pronomes o, a, os, as, lo, la, los, las, só podem funcionar como complementos diretos. Exs.: Obedecer-lhe-emos. Vimo-lo na classe.
  • 6) Vamos à Escola Sabatina. O verbo ir indica movimento e exige sempre a preposição a e não em. Exs.: Fui à cidade. Irei ao campo.

Poderiamos continuar explicando o emprêgo da crase neste último exemplo, porém já nos alongamos demasiadamente. Continuaremos noutra ocasião.