ARTHUR L. BIETZ
(Membro da Associação Americana de Psicologia, Professor de Cristianismo Aplicado, no Colégio de Evangelistas Médicos, Pastor da Igreja White Memorial.)
CAPÍTULO VIII
Comportamento de Acôrdo com a Idade
“Estou tão irada esta manhã — exclamou a mãe de uma menina de catorze anos — que poderia mastigar pregos. Tenho vontade de agarrar esta minha filha e fazer-lhe aprender uma ou duas coisas. Sabe V. o que me disse esta manhã? Disse-me que eu me deveria comportar de acôrdo com a idade e deixar de fazer criancices. Pode V. imaginar semelhante falta de respeito? Não sei onde irá parar esta nova geração!
O diagnóstico dessa jovem põe em relêvo um problema básico na vida de bom número de sêres humanos modernos. Comportamo-nos nós de acôrdo com nossa idade, ou passamos a vida cometendo desatinos, como crianças malcriadas, mais ou menos no estilo “cabra-cega”? A vida compreende muito mais do que, simples desenvolvimento físico. Algumas pessoas tèm corpo bem formado, mas os seus atos e reações aproximam-se bastante do nível dos impulsos. Alguns usam a inteligência para planejar um comportamento construtivo, ao passo que outros tão sòmente a empregam para justificar o seu procedimento impulsivo.
Dizia certo cavalheiro: “Minha esposa é tal qual uma criança. Tenho que tratá-la com luvas de pelica desde pela manhã cedo até tarde da noite. Se faço alguma coisa que não lhe agrade, inevitávelmente me retruca amuada, mal-humorada e queixosa. Algumas vêzes me canso de viver com uma pessoa fisicamente adulta, mas mentalmente criança.”
Um pai e duas filhas ansiavam por passar uma noitada em uma reunião social para que tôda a família fôra convidada, mas a mãe se negou a acompanhá-los. Nada parecia conseguir que mudasse de decisão. Não podia ela apresentar motivo algum que não fôsse o de não se sentir disposta a ir. Finalmente as filhas e o pai venceram, e a mãe os acompanhou; mas amargou o serão com suas queixas, resingas e críticas. Já que não pôde fazer prevalecer a sua vontade, afligiu o espôso e as fiIha com um procedimento pueril. O não proce-dermos de acôrdo com a idade que temos, é a causa da maior parte do infortúnio e da infelicidade que existe nos lares de nosso tempo.
Como conselheiro de problemas matrimoniais, tenho escutado repetidas vêzes a seguinte ‘declaração: “Se tão somente êle (ou também ela) pudes-se crescer! “Os lares infelizes são o resultado de uma falta de maturidade emocional. Quando as pessoas se deixam guiar pelas reações emocionais e não pela inteligência, o fundamento da vida feliz é débil e inseguro. A tendência, nesse lares, é a busca de razões plausíveis para o procedimento incoerente. Se os desejos são contrariados, produz-se ressentimento e amargura. É característica, em tais situações, a recusa de admitir os próprios erros. O egoísmo, os ciúmes e as queixas revelam tendências infantis.
Seria preferível que a pessoa tivesse algum impedimento físico, e não ver-se limitada no tocante ao seu procedimento emocional. A pessoa fisicamente incapaz, mas emocionalmente madura, pode ser um verdadeiro auxílio para si própria e para outras. Quem é emocionalmente maduro sabe como conservar a cabeça e pode rir quando as coisas andam mal. A melhor maneira de desfrutar das emoções é mantê-las sob domínio.
O humor são, expresso no riso, é um remédio de que únicamente as pessoas maduras podem desfrutar verdadeiramente. O riso abranda a tensão nervosa; é uma forma de alívio. Em face do riso, o ódio e os sentimentos negativos ficam neutralizados. A boa disposição é um dos melhores tônicos que se conhecem; em verdade, amiúde é muito mais importante que a alimentação, para estimular a boa saúde. O riso é um corretivo natural útil para a torpeza e o artificialismo que haja em nós ou em nossos semelhantes.
Lembremos o terrível regime da Robespierre, um dos caudilhos da Revolução Francêsa. Sob sua rígida direção, os membros da Convenção atuavam como hipnotizados. A cada instante a Convenção dava a sua aprovação aos planos sinistros do chefe. Certo dia, porém, sem nenhuma advertência, em meio da gravidade hipnótica e mortal reinante, alguém nas galerias explodiu numa risada. De fileira para fileira o riso se contagiou até que todo o recinto se tornou quase histérico. Êsse foi o comêço do fim de Robespierre, porque o riso quebrou o feitiço de sua terrível tirania.
Onde reina o riso são, a pessoa esquece a si própria. Para a pessoa falta de maturidade lhe custa esquecer a si própria o suficiente para estar contente. Nossa era padece de uma dor de estômago que necessita ser purificada com alegria e felicidade. A felicidade é própria das pessoas maduras; as pueris não a alcançam. Os que não podem rir são amiúde perigosos para si próprios e para os demais. Os que não maduraram emocionalmente sempre consideram com exagerada seriedade sua pessoa e sua dignidade.
A história regista o caso de um cardeal moribundo que se destacara por sua sisudez. Ao vê-lo inválido, os parentes puseram-se a apossar-se de seus pertences. Ali estava êle no leito observando-os com ira, mas impossibilitado de fazer coisa alguma. Observa, então, que um macaco que tinha em casa como mascote, pega o seu chapéu cardinalício, e põe-se a admirar-se ao espelho. Diante dêsse quadro, o cardeal soltou uma gargalhada; desde êsse momento começou a melhorar e recuperou a saúde.
Podemos rir quando nos criticam? Permanecemos contentes mesmo quando não podemos fazer o que nos apraz? Se pudermos fazê-lo, já não estamos no nível infantil. Estamos no caminho da maturidade de nossas emoções. O homem que po de manter-se internamente calmo e deliberar sob condições de tensão, é pessoa madura. A capacidade de dominar as emoções é a prova de uma esplêndida personalidade, de saúde mental e emocional. Se podemos manter-nos calmos e contentes, poderemos, não sòmente governar-nos a nós mesmos, mas também dominar tôda situação que se apresente.
Certa concertista recebia muitos aplausos por sua técnica e habilidade musical. Sentia-se feliz e con-tente; mas tudo isso mudou quando outra artista com qualidades idênticas recebeu também atenção e felicitações. Um ministro religioso sentia-se feliz e com boa disposição de espírito enquanto era o único a receber as honras que lhe conferia a congregação; mas ao chegar à localidade outro ministro, tornou-se lôbrego e não perdeu vasa de solapar o prestígio do colega. Um ministro vê-se impedido de proferir uma palavra de aprêço a outro colega porque seus próprios sentimentos pueris impedem de suportar o pensamento de que outro possa receber aprovação. As pessoa imaturas necessitam de ser constantemente o centro, o foco, ou se sentem descontentes e mal-humoradas.
O cansaço físico é amiúde o resultado de conflitos produzidos pela falta de maturidade. Com efeito, quase todos os problemas diários de fadiga são emocionais, e não físicos. O cansaço pode ser compreendido como uma tentativa de retirada ou uma via de escape de uma situação que se nos apresentou difícil demais para enfrentar. Sendo que a fadiga pode sugerir de conflitos não resolvidos, está claro que é o resultado da experiência total de uma pessoa e, naturalmente, não pode atribuir-se a um único aspecto da vida; mas, demasiado amiúde, a fadiga é o resultado de conflitos provenientes de impulsos e distúrbios emocionais pueris. A criança está cheia de desejos e tendências opostas. Falta-lhe a capacidade para canalizar sua energia de maneira sã e simples.
Uma mulher jovem e atraente, espôsa de um advogado e mãe de dois filhos, era muito pueril, tanto assim que dependia do espôso, como se não passasse de uma criancinha. Devido a essa dependência infantil, sentia-se infeliz. Num esfôrço para ser superior, ocultava-se dos demais e procurava negar que se sentisse inferior. E ao espôso, de quem esperava fôsse realmente para ela como um pai, exigia-lhe continuamente que ganhasse mais dinheiro, a fim de proporcionar-lhe maior confôrto material. Irava-se por qualquer coisa que lhe fôsse negada. Por motivo de seus sentimentos pueris e de seu complexo de inferioridade, procurou afirmar sua confiança pessoal, pondo a prova seus encantos com outros homens. À medida que sua infelicidade aumentava, buscava fugir de si própria, entregando-se à bebida, até produzir sua própria desintegração. Eis uma ilustração dos resultados funestos dos sentimentos infantis em muitas pessoas.
Alguns homens se casam com mulheres de mais idade porque desejam ser adorados, mimados e atendidos como por uma mãe. A mulher de idade preferirá casar-se com pessoa que não tenha suficiente maturidade, porque nutre o desejo de proteger e albergar alguém indefeso. Êste cuidado e proteção induzem a mulher de idade a sentir-se necessária e importante. Tal reação, entretanto, pode produzir muitos problemas, porque, cedo ou tarde, tais pessoas sofrerão um sentimento de insegurança e infelicidade, por saberem que algo não anda bem. O conhecimento subconsciente de que estão procedendo puerilmente conduz à tensão e à hostilidade. A fim de alcançar alívio, tais pessoas amiúde se convertem em severos críticos das demais; seus sentimentos íntimos de vergonha buscam um desafogo para evitar a destruição da personalidade.
O homem de idade casar-se-á com uma jovem porque deseja ser respeitado e adorado, de preferência a ser querido com um amor maduro. As jovens que precisam de um pai que lhes dê segurança material, escolherão tais homens a fim de que possam conservar-se pueris o resto da vida. Incapazes de manter-se sôbre os próprios pés, buscam arrimos que lhes sustenham a puerilidade. Assim, pois, quando duas pessoas pueris unem sua imaturidade, a fim de resguardá-la das ameaças da vida madura, desenvolvem amiúde intensa hostilidade mútua e contra a sociedade.
Uma das manifestações mais freqüentes da puerilidade são os ciúmes. Têm êles a tendência de revelar uma má vontade básica de partilhar a vida com outros. Outra maneira de manifestar ciúmes é culpar o cônjuge dos próprios desejos de infidelidade. Tais acusações vêm a ser um meio de escape para os desejos dolorosamente reprimidos. Enquanto outros desejos estão presentes, o espôso ou a esposa se vêem na necessidade de lutar com a parte inocente e acusá-la.
Amiúde as pessoas pueris pensam que podem encontrar felicidade no matrimônio e êste se lhes apresenta como uma panacéia para curar todos os sentimentos interiores de infelicidade. Para os adultos, o casamento meramente por dinheiro, por interêsse material ou de relações sociais, está totalmente descartado. As pessoas imaturas, pueris, esperam do matrimônio muito mais do que êste ja-mais estêve destinado a dar. As reações de muitas pessoas casadas revelam claramente que suas perspectivas do que seria o casamento, tinha por origem sua puerilidade e egoísmo, e não um amor verdadeiro. As pessoas pueris buscam o Céu e a Terra, mas nunca conseguem encontrá-los.
Os divórcios são geralmente o resultado da falta de vontade de um dos cônjuges para superar sua puerilidade. Um ou ambos se sacrificam a fim de reter a possibilidade de repetir sua puerilidade com outro em segundas núpcias. Quando os esposos estão a ponto de separar-se, já não há mais boa vontade para suportar a puerilidade um do outro. Em tal situação, a pessoa deve superar sua falta de maturidade ou abandonar a quem já não mais suportará suas reações infantis. O reter a modalidade pueril é fator decisivo que conduz ao divórcio — a via de escape temporária para não lutar contra si próprio. O propósito da manobra interna não é superar, mas perpetuar a falta de maturidade.
“Mas, dirá alguém, não é verdade que a gente amiúde encontra felicidade no segundo casamento, apesar de que o primeiro foi um inferno na Terra? Isto é verdade em alguns casos. Mas o que acontece é mais complicado. O homem ou a mulher que se casa por segunda vez busca uma mudança no tipo de pessoa. Se a mulher anteriormente preferiu um homem forte e dominador, na segunda vez procurará encontrar quem seja tímido e fraco. Ou a mulher que anteriormente se sentiu atraída por um homem atraente, escolherá para segundo marido uma pessoa tranqüila e pouco excitante. Em casos tais a gente dirá: “Já teve suficiente; está aprendendo pela experiência; agora está provando o outro extremo.”
A ironia da situação está em que essa mulher pareceria não haver aprendido nada em sua experiência. Busca justificar-se com dizer que, de tôda maneira, seu primeiro espôso não foi o tipo de homem que ela desejava. O que realmente anelava era exatamente o oposto do que tivera, e assim se “enamorara” de um tipo oposto de pessoa. Faz tudo isso para certificar-se de que não precisa mudar seu próprio procedimento pueril.
Isto pode ilustrar-se claramente com o caso de uma jovem encantadora que era cantora de bastante bom êxito. Estava ela casada com um homem simpático de tipo dominador. Êle se mostrava amável e compreensivo até certo ponto, além do que era incapaz de suportar sua vaidade e egoísmo. Êle atacou a sua puerilidade, exigindo-lhe uma modificação; e ela, por sua vez, não querendo mudar, pediu divórcio. Em seguida, enamorou-se de um homem tranqüilo, e prosseguiu, prazenteira, o caminho que lhe permitia fazer tudo quanto queria. Embora sua falta de maturidade emocional não fôsse ameaçada, não se sentia feliz.
Queixava-se de ser descuidada e de que seu novo espôso não se importunava com o que ela fizesse. Ao confiar-me sua decepção no novo casamento, disse-me: “Diga a tôdas as pessoas que recorrem ao senhor, em busca de divórcio, que deveriam modificar-se elas próprias, em vez de procurar modificar o cônjuge. Meu primeiro espôso era real-mente o que eu queria. Quanto mais vivo com o segundo, tanto mais penso no primeiro. Vejo agora que o que o meu primeiro espôso dizia a meu respeito, era realmente a verdade. Se eu me houvesse modificado, em vez de querer transformar os homens, quanto mais feliz teria sido!”
Alguns, naturalmente, continuam preferindo o mesmo tipo de pessoa que escolheram nas primeiras núpcias. “Estou para casar-me pela quarta vez, explicou uma senhora. Por que escolho sempre o mesmo tipo de homem? Todos os meus maridos foram iguais.” Sempre preferiu a mesma espécie de homem, mas cada casamento terminou em fracasso porque a puerilidade da mulher se manteve inalterada. As pessoas pueris tendem a provocar situações em que muito provàvelmente se verão repelidas e tratadas injustamente. Ignorando a circunstância de que elas mesmas produziram seu próprio fracasso, lutam contra a pessoa que imaginam ser a responsável. A esta altura compadecem-se de si próprias até ao extremo de exclamar: “Semelhante injustiça só me acontece a mim! Por que são Deus e o mundo tão cruéis?”
Ao fracassar um casal, os sentimentos infantis do cônjuge sofrem ferida profunda. Às vêzes chega até ao suicídio. As mulheres que fazem concorrência ao homem, fazem-no por puerilidade; a concorrência é uma falta de maturidade e a necessidade de sentirem-se onipotentes. Algumas mulheres que estão insatisfeitas com as lidas domésticas revelam sua falta de maturidade emocional. Isto não ocorre em todos os casos, e a diferença é facilmente notada. Se uma mulher recusa emocionalmente a maternidade e lhe desagrada tudo quanto tende a criar uma atmosfera doméstica confortável, é neurótica. Contudo, se é boa mãe e espôsa, e assim mesmo encontra prazer numa ocupação externa, pode tratar-se simplesmente de superabundância de energia. Em muitos casos, é possível a combinação de uma boa espôsa e mãe que é simultâneamente profissional de êxito.
As mulheres queixam-se amiúde de que o espôso é uma carga impossível. Não resta dúvida de que os esposos são às vêzes um problema; mas essas senhoras não mencionam que são incapazes de influir sôbre os maridos. O homem enamorado da espôsa atende-lhe aos desejos de muitas maneiras, mas com justiça pode suspeitar se se vê por ela acusado de mau procedimento. É provável que mulheres tais sejam pueris neuróticas que estão repetindo suas lutas infantis com esposos pueris, a quem escolheram para êsse mesmo propósito. O neurótico pode ser comparado a uma pessoa que possui um único disco e insiste em tocá-lo em tôda oportunidade em que haja alguém disposto a escutá-lo. Quanto mais pueris forem, tanto mais ambos os cônjuges revelarão sua falta de maturidade.
Que diremos da mulher que, por sua puerilidade, não pode ajudar o espôso? Sobretudo, devemos perguntar-nos: “Por que escolheu essa mulher a êsse homem?” A mulher que não pode andar bem com o espôso é pueril na medida revelada pelo que escolheu consciente ou inconscientemente. As pessoas não se enamoram por casualidade. Enamo-ram-se porque complementam recìprocamente os seus anelos. Não é provável que uma pessoa adulta se enamore de outra que manifestamente carece de maturidade. A melhor proteção para que uma senhorita não se enamore de um homem pueril, é cuidar de que amadureça suficientemente para que não precise de um homem imaturo para acentuar-lhe as próprias tendências neuróticas.
Num único ano um milhão e meio de pessoas se vêem diretamente afetadas, e de três a quatro milhões mais são vítimas indiretas de tragédias relacionadas com o divórcio. Não obstante, prossegue crescendo o índice dos divórcios e há milhões tentados pelo engano de que, ao desfazer-se do espôso ou da espôsa, garantem-se a felicidade. Esse fim trágico do casamento não tornará mais felizes os homens e as mulheres; apenas lhes aumentará a infelicidade, muito especialmente ao descobrir em casamentos subseqüentes que o seu intento de evitar lutas internas não foi favorecido com a mudança de espôso ou de espôsa. As lutas pueris do casal não devem ser expostas nos tribunais, mas aos dirigente da igreja, versados nos caminhos tortuosos da natureza humana. Devem estabelecer-se clínicas matrimoniais com a finalidade de ajudar as pessoas pueris a desenvolver-se.
Apenas os que tenham alcançado a maturidade podem viver vida feliz no casamento.
Uma regra simples para descobrir a puerilidade de uma pessoa é a sua falta de capacidade para encontrar felicidade no trabalho, em uma vida social normal com as preocupações que envolve, ou para desfrutar dos passatempos. Enquanto haja certa satisfação nestas coisas, não há motivo para maior alarma. Visto que a puerilidade pode ser curada, ainda maior motivo há para a esperança.
(Continua)