Nada que Temer

UM, grupo de turistas americanos estava passando alguns dias nas regiões montanhosas da Escócia. Multidões arriscam a vida nessas paragens escalando picos e descendo encostas escarpadas. Êsse grupo andava estudando formações rochosas e flôres. Um botânico entusiasta viu, bem abaixo, numa saliência de rochas, algumas flôres raras que êle muito ansiava possuir. Ninguém dentre o grupo se animava a descer. Próximo dali estavam um pai e seu filho com cães, apascentando ovelhas. Uma recompensa avultada foi oferecida ao rapaz, caso consentisse em que se lhe amarrasse ao corpo uma corda forte e descesse para apanhar as flôres. O pai consentiu, mas o filho, se bem que experimentado escalador de montanhas, hesitava em aceitar a oferta liberal. Os turistas buscaram mostrar-lhe a solidez da corda, suficientemente forte para sustentar uma dezena de homens. Os temores do rapaz foram revelados ao olhar êle para o seu robusto pai, e dizer:

— Só irei se papai sustentar a corda!

Com a Onipotência a sustentar-nos, não pode haver dever que seja perigoso demais para qualquer filho de Deus. Ao sustentarem-nos os possantes braços de Deus, nada temos que temer. — Illustrations for Preachers and Speakers, por Keith L. Brooks.

Rosa de Saron

CONTA o Dr. Campbell Morgan que foi à casa de um homem que o hospedava e, num dos quartos, sempre sentia forte perfume de rosas. Um dia, disse ao seu hospedeiro:

— Eu gostaria que o senhor me contasse por que, quando entro neste quarto, sinto perfume de rosas.

O cavalheiro sorriu, e respondeu:

— Faz dez anos eu estive na Terra Santa, e ali comprei, um vidro de essência de rosas. Estava êle envolto em lã, e, ao desempacotá-lo eu aqui, quebrei o vidro. Pus o vidro quebrado, a lã e tudo mais no vaso que aí está na lareira.

Havia ali um belo vaso que, ao ser por êle destampado, impregnou o quarto com o perfume de rosas. Aquela fragrância havia-se impregnado no barro do vaso, e era impossível que alguém entrasse no quarto sem senti-la. O Dr. Morgan muitas vêzes usou o incidente como ilustração de que se fôr concedida preeminência a Cristo na vida do cristão, a fragrância da Rosa de Saron permeará a vida tôda, tornando outros cônscios da presença dAquele a quem não vêem. — Illustrations for Preachers and Speakers, por Keith L. Brooks.

Êle Desceu

CONTA-SE que, alguns anos faz, um grupo de náufragos foi abandonado nas Ilhas Rodrigues. Navegavam rumo às Maurício, quando entre êles irrompeu um surto de febre de Java, e foram então abandonados nas Rodrigues. Insistiu o piloto em que estavam atacados de febre amarela, pestilência temida demais dos navegantes do Pacífico. Havia, então, um médico francês, cuja ocupação era inspecionar todos os navios infestados. Embarcou êle num pequeno bote e postou-se a certa distância do grupo abandonado, de onde, por meio de potente binóculo, examinou os enfermos. Com terror mortal, manteve aquela distância ao examiná-los e receitar.

O Senhor Jesus, porém, não Se postou numa distante estrêla, fora do alcance dos apelos dêste mundo ferido de pecado. Veio Êle à Terra. Abordou o barco sentenciado. A bandeira prêta do desespêro tremulava na Terra, mas para estupefação dos sêres angélicos, veio Êle à Terra, a fim de derramar Seu precioso sangue e prover um remédio. Andou entre os pecadores, curou-lhes os leprosos, e deixou-lhes bálsamos de cura para as almas enfermas de pecado. — Illustrations for Preachers and Speakers, por Keith L. Brooks.

O Valor da Ilustração

PARA manter-se à altura de sua vocação, todo pregador do Evangelho deverá, em seu ensino, e prédica, prestar atenção às ilustrações. Parece ser um rasgo comum da humanidade que as impressões recebidas por meio de uma ilustração apropriada se tornem mais duradouras e proveitosas. Sabemos todos que para ensinar uma lição, o professor tem que atingir o desconhecido, partindo do conhecido. Às vêzes, compara-se uma ilustração com uma janela. Esta permite a passagem da luz: provê de luz um quarto escuro. Uma ilustração é, até certo ponto, uma janela que permite a passagem da luz sôbre nosso entendimento.

Temos o exemplo do Senhor Jesus. É mencionado nas Escrituras que as parábolas do Senhor tinham a virtude de fazer ver aos que não queriam enxergar e de ouvir aos que não queriam escutar. O Senhor fêz bom uso das ilustrações. Usou a semente para ilustrar a obra do Evangelho, e também a representou pela luz. Para esclarecer algumas verdades do Evangelho, usou as flôres, e para explicar aos Seus seguidores a urgência do trabalho em prol das almas, disse-lhes que os campos estavam brancos para a ceifa. No capítulo 15 do Evangelho de São João, o Senhor, com habilidade única, faz uso do fruto, para impressionar os discípulos com a necessidade de fazerem trabalho missionário.

A Escritura tôda está repleta de ilustrações. Mesmo os profetas do Velho Testamento delas se serviram. Isaías diz que o povo só servia o Senhor em aparência, mas seu coração estava distante dÊle. Jeremias faz uso da ilustração do oleiro e do barro para dar uma idéia cabal do que deve ser o humano nas mãos de Deus. São Paulo usa certas figuras sumamente objetivas para dar ao pregador uma idéia do que deve fazer com os novos conversos. Em I Tess. 2:7, diz êle: “fomos brandos . . . como a ama que cria seus filhos,” e no versículo 11 usa a figura de um pai que cuida dos filhos com terna solicitude. O pregador deve cuidar de seus conversos com o mes-mo amor que tem o pai aos filhos carnais. São Pedro, para dar uma idéia da forma em que o diabo atua na Terra, usa a figura de um leão bramante: “Sêde sóbrios; vigiai; porque o diabo, vosso adversário, anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar.” I São Pedro 5:8.

Conhecemos, todos a importância das ilustrações. A irmã White também recomenda aos pregadores o uso das mesmas. Todo orador sabe que a ilustração de uma verdade faz que esta se grave na mente de forma mais duradoura. Dir-se-ia que a ilustração fôsse como que uma âncora para a idéia, firmando-a melhor.

As ilustrações fazem lembrar as coisas com maior facilidade e rapidez. Os pregadores do passado delas se serviram com grande proveito. Algumas das verdades expostas por João Bunyan, em seu livro O Peregrino, tornaram-se inesquecíveis porque, para expressá-las, lançou êle mão de ilustrações adequadas para cada caso. Certa vez, Moody ilustrou com um jarro de água a neces-sidade que temos de estar cheios do Espírito Santo. Levou consigo para o púlpito, o vaso cheio de água mostrando-o à congregação, e fazendo-lhes ver que, por estar cheio, não havia nêle lugar para nenhuma coisa mais. Da mesma ma-neira, estando cheios do Espírito, não haverá em nós lugar para coisa alguma mais.

Podemos apreciar claramente o valor de uma ilustração por um incidente que ocorreu na guer-ra entre os Estados Unidos e a Espanha, no ano 1898, e do qual lançou mão o jornalista Elbert Hubbard. Queriam os estadunidenses comunicar-se com certa pessoa de nome Garcia, que se encontrava no coração de Cuba, e enviaram um oficial do Exército para com êle estabelecer contato. Claro está que o mensageiro teve que passar por muitas peripécias, mas finalmente conseguiu entrevistar-se com Garcia, depois de atravessar as linhas espanholas. Elbert Hubbard utilizou êste incidente para ilustrar a necessidade que cada um de nós tem de estar disposto aos sacrifícios e privações da vida diária, a fim de conseguir êxito em seus empreendimentos. Publicou êle um artigo intitulado “Uma Mensagem para Garcia”, lido por milhões de pessoas e reproduzido em vários idiomas. Certa ferrovia dos Estados Unidos fêz circular um milhão e quinhentas mil cópias dêsse artigo, entre seus empregados. As ferrovias da Rússia fizeram o mesmo e, segundo as últimas estatísticas, o artigo foi traduzido para uns vinte idiomas e já produziu para seu autor o rendimento de 250 mil dólares.

Os pregadores devem estar alerta, em busca de ilustrações apropriadas. Também devem ter alguma forma de arquivá-las, quer copiando em cartões e agrupando-as por tema, quer usando outro método qualquer.

As ilustrações usadas em nossos sermões devem ser fáceis de compreender e referir-se ao tema abordado. Uma ilustração não deve desviar o auditório do tema principal, mas, sim, complementá-lo, esclarecê-lo. Tenho notado que alguns pregadores usam em seus sermões ilustrações que atraem tôda a atenção do auditório. É êrro usar ilustrações desta espécie. Os pregadores adventistas, possuímos na Escritura Sagrada, um verdadeiro tesouro de ilustrações, na natureza das ocorrências da vida diária. Aproveitemo-las, pois, como o fêz o Senhor e como o fizeram, também, os profetas e apóstolos!

— W. E. M.