Por muitos anos temos estado sobremodo preocupados com a nossa missão de proclamar a mensagem dos três anjos a cada nação, e tribo, e língua e povo. Temos realizado este trabalho e sido ricamente abençoados num movimento unido, designado pelo Senhor para ir ao encontro das reais necessidades do mundo. Nossos esforços não foram sem sucesso.

Há, agora, mais de dois milhões e meio de adventistas do sétimo dia, e exercemos as nossas funções quase em todas as áreas populosas do mundo. A obra de publicações e os departamentos médico e educacional estão unidos em muitos lugares, e isto é parte vital de nossos deveres missionários.

Decorridos 130 anos desde o Desapontamento de 1844 ainda permanecemos aqui. Ora, este é o grande desapontamento de Deus. Desde há muito tempo devíamos estar no lar eterno com o nosso Senhor, mas julgamos haver ainda muitos anos para que isto se realize. Enfrentamos novos e complicados problemas, oposições e perigos a todo instante, embora sejamos advertidos e tenhamos oportunidades que a igreja cristã jamais experimentou.

Temos uma mensagem — uma maravilhosa mensagem — especialmente quando deparamos com as necessidades de todos em todos os lugares. E são milhões os que desesperadamente a querem receber. As orações e as lágrimas dessas pessoas vão a Deus numa súplica para que a luz e a verdade lhes sejam reveladas e a presença do Espírito Santo lhes seja concedida. Muitos estão no limiar da eternidade, esperando.

Somos chamados para dar uma demonstração da primitiva piedade, tal como não testemunhada desde os dias apostólicos. Nossa missão especial consiste em apresentar uma nova e clara revelação do que o Espírito Santo é capaz de fazer com os que amam a Deus supremamente, odeiam o pecado e têm profundo amor para com as almas perdidas. Deus nos quis aqui, presentes a esta primeira reunião de nosso concílio, a fim de entregar-nos a Ele, sem reservas. Ele quer que deixemos Viena com o desejo de revelar um caráter à semelhança do caráter de Cristo e dedicar-nos ao engrandecimento de Seu reino.

Estudemos uma das inspiradas, promissoras e desafiantes passagens das Escrituras. Seu significado especial e sua aplicação para os nossos dias, são claramente mostrados pela inspiração. O texto está em Isaías 60:1-5: Dispõe-te, resplandece, porque vem a tua luz, e a glória do Senhor nasce sobre ti. Porque eis que as trevas cobrem a terra, e a escuridão os povos; mas sobre ti aparece resplendente o Senhor, e a sua glória se vê sobre ti. As nações se encaminham para a tua luz, e os reis para o resplendor que te nasceu”.

‘‘Levanta em redor os teus olhos, e vê; todos estes se ajuntam e vêm ter contigo; teus filhos chegam de longe, e tuas filhas são trazidas nos braços. Então o verás, e serás radiante de alegria; o teu coração estremecerá e se dilatará de júbilo, porque a abundância do mar se tornará a ti, e as riquezas das nações virão a ter contigo”.

Adormecida

Alguns meses atrás uma pequena revista publicada por um grupo evangélico, ativo, foi colocada em cima da minha escrivaninha. Eu não sei quem a colocou lá, mas fui, desde então, fortemente desafiado pelo título da mensagem. O título era “Embalando Uma Igreja Adormecida”.

A pergunta que veio logo à minha mente foi: É isto que eu venho fazendo durante quarenta anos? É isto que os meus companheiros de ministério estão fazendo hoje? Estamos gastando nosso tempo, nossos talentos, nossas energias e nossos recursos, adormecidos?

Poucos dias mais tarde fui impressionado por uma informação do North American Lay Advisory Council.

Temos agora mais de 500.000 membros na América do Norte, contudo, em um ano, durante todo o ano de 1974, demos pouco mais do que 540.000 estudos bíblicos. Essa teria sido uma grande realização para a igreja em 1874 mas é algo desastroso em 1974. Apenas um pouco mais do que um estudo por pessoa durante o ano. “Embalando Uma Igreja Adormecida”.

Num mundo com os seus quase 4 bilhões de habitantes por quem somos responsáveis, batizamos 225.000 pessoas no ano anterior. Não mais do que 10 a 15 por cento de nossos membros têm estado empenhados em atividades na conquista de almas. Nossos ministros, por sua vez, no campo mundial, apresentaram não mais do que vinte almas batizadas per capita durante o ano.

Se fôssemos incluir 58.000 outros obreiros de nossas instituições, associações e missões, significaria que um obreiro de tempo integral estaria ganhando, em média, apenas 3 pessoas para a verdade durante o ano. Se considerássemos ainda os 2 milhões e meio de membros batizados, unidos aos esforços dos ministros e oficiais da igreja, descobriríamos que seriam necessários mais do que onze membros para batizar uma alma por ano.

Esta é uma prova evidente de que somos uma igreja adormecida. Não estamos, realmente, vendo realizado o nosso trabalho no mundo. Estamos simplesmente gastando a maior parte do nosso tempo e do nosso dinheiro em manter o que já temos feito. Todo este mundo está se arremessando loucamente na destruição. Isto deve preocupar-nos como igreja. O termo embalar sugere alguns pensamentos interessantes. Para mim me parece ser o quadro de uma mãe embalando o filhinho para fazê-lo dormir. Esse é o seu interesse.

Embalar não é a ocupação da igreja e do seu ministério nestas últimas horas da história da Terra. Nenhum esforço deve ser feito pelos nossos ministros no sentido de conservar a igreja adormecida.

Os discursos frouxos e sem vida, que embalam o povo fazendo-o dormir, não têm lugar no púlpito adventista.

Não raras vezes Deus tem estado descontente com a indiferença da igreja. Seu urgente chamado tem ecoado hoje fortemente em brados, a fim de que acordemos do sono e nos levantemos. Se o fizermos Cristo nos iluminará. (Efésios 5:14).

Chamado Para Acordar

O Senhor Se dirige a nós hoje apelando de modo especial e dizendo: “Desperta, desperta, reveste-te da tua fortaleza, ó Sião; veste-te das tuas roupagens formosas, ó Jerusalém, cidade santa; porque não mais entrará em ti nem incircunciso nem imundo. Sacode-te do pó, levanta-te, e toma assento, ó Jerusalém; solta-te das cadeias de teu pescoço, ó cotiva filha de Sião. Porque assim diz o Senhor: ‘Por nada fostes vendidos; e sem dinheiro sereis resgatados’. (Isaías 52:1-3).

Este texto sugere que estamos necessitando de dois elementos — poder e justiça. Notem as palavras, “reveste-te da tua fortaleza”. É evidente que o Senhor sabe de nossas fraquezas, de nossa incapacidade. Ele não somente sabe mas angustia-Se por isto. As palavras, “veste-te das tuas roupagens formosas”, nos falam da justiça de Cristo. Uma importante lição a ser lembrada é a de que Deus não nos fala para vestir-nos de alguma coisa que já possuímos. Assim, pois, podemos, com certeza, concluir, que temos falta de poder e que estamos em falta diante do dever de tornar conhecida a justiça de Cristo.

A que cadeias o nosso texto diz que estamos cativos? Que significa vestir-nos de poder e glória?

Nossa Incredulidade

A tendência de duvidar das promessas e providências de Deus é uma constante causa de nossas fraquezas. Conhecemos as promessas. Vemo-las a todo instante, mas somos vagarosos e incapazes de nos prevalecer delas.

Mundanismo

Corremos o perigo constante de nos conformar com o mundo. Nossa espiritualidade e sua resultante vitalidade estão sendo corroídas pela nossa adoração à moda e pelos nossos costumes mundanos.

O amor à ostentação, o orgulho e o egoísmo, têm lugar proeminente em nossa vida e estamos enfraquecidos e incapacitados para nos libertar do cativeiro a que nos sujeitamos.

Falta de Consagração, e Insubordinação

Estas coisas se revelam também entre nós para roubar-nos o poder e a glória. Lamentavelmente negligenciamos o estudo dos escritos inspirados, e então deixamos de seguir a clara revelação de Deus pondo de lado a Escritura e o Espírito de Profecia.

Luta e Contenção

O egoísmo manifestado inúmeras vezes leva a buscar crédito para o trabalho realizado, vantagem sobre o nosso irmão, posição, promoção e reconhecimento. E sempre ficamos presos a estas fraquezas. Parece-nos impossível romper as ataduras a que estamos presos, e isto apesar de o poder de nosso Senhor que veio proclamar liberdade gloriosa para os cativos.

“Assuntos de menor importância ocupam a atenção, e o poder divino que é necessário ao desenvolvimento e prosperidade da igreja e que traria após si todas as outras bênçãos, esse falta, conquanto oferecido em sua infinita plenitude”. (Test. Seletos, Vol. 3, pp. 211 e 212).

Queridos companheiros de trabalho, devemos renunciar o mal em todos os seus aspectos. Devemos volver as costas ao mundo com suas modas e seus costumes. Devemos vir em arrependimento e submissão prostrar-nos diante do Libertador, contemplando Seu maravilhoso rosto até que Sua glória possa ser vista em nós.

Não nos acomodemos com o pensamento de que estamos muito ocupados em manter a nós mesmos e as nossas instituições. Lembremo-nos do grande propósito do Senhor em trazer este movimento à existência. Deus quer uma igreja que responda pelo que está escrito a seu respeito em Isaías 60: “Dispõe-te, resplandece, porque vem a tua luz”.

A Igreja Sob a Chuva Serôdia

Eis aqui um quadro de nossa igreja sob a chuva serôdia. É um quadro de uma igreja com a verdadeira experiência de um segundo Pentecostes. Isto não é uma nova luz que tenhamos criado. Não é alguma coisa que tenhamos recebido e devolvido pelo fato de possuir algum conhecimento intelectual. Nossa luz tem origem no Senhor e em Sua Santa Palavra. É a luz das mensagens dos três anjos e de outro anjo que vem dar poder para o alto clamor. Esta luz é oportuna e vem de encontro às necessidades de um mundo em trevas. É a glória do Senhor, prestes a manifestar-se sobre nós.

Paulo falou de um juízo vindouro. Pregou fazendo afirmações de que viria um tempo em que Cristo nos daria visão das coisas. Um dos profetas do Velho Testamento pôde prever a aproximação do tempo em que a “Terra se encherá do conhecimento da glória do Senhor, como as águas cobrem o mar”. (Habacuque 2:14). Podemos falar com grande segurança e profunda convicção, de um julgamento prestes a ter início. Podemos, com igual convicção, dizer que a nossa luz vem e que a “glória do Senhor nasce sobre nós?” Isto é o que a igreja deve experimentar. É disto que o mundo necessita, desesperadamente. Por quê ?

As Trevas Cobrem a Terra

As trevas cobrem a Terra, e a escuridão os povos”. (Isaías 60:2).

Poderia ser dada uma descrição mais apropriada dos dias em que vivemos? “As trevas cobrem a Terra e a escuridão os povos”. São trevas em que predominam o materialismo, paganismo, humanismo, existencialismo, intelectualismo, espiritismo, ecumenismo, legalismo e a maior de todas as tragédias — laodiceanismo. Iríamos a uma quase interminável descrição de atitudes que denotam haver trevas cobrindo a Terra e escuridão os povos.

Estas são as condições que enfrentamos no mundo de hoje. Isto quase nos abate? Não é necessário! Há um meio pelo qual as trevas podem ser postas em dispersão. Encontra-se em nosso texto o seguinte: “Mas sobre ti aparece resplendente o Senhor, e a sua glória se vê sobre ti”, (verso 2). A luz sempre dispersa as trevas.

Queridos companheiros de trabalho, devemos, voluntariamente e com avidez, render-nos a tudo que nos leve à submissão e consagração. Nada deve excluir-nos da participação desta gloriosa descrição do breve triunfo da igreja de Deus.

Solução para os Nossos Problemas

A solução para os nossos problemas está claramente indicada na Review and Herald de 25 de fevereiro de 1902: “Deus repreende Seu povo por seus pecados com o objetivo de torná-lo humilde e disposto a buscá-Lo. Desta forma o amor de Deus revive no coração deles e Suas misericordiosas respostas vêm ao encontro de seus pedidos. Ele os fortalecerá em seu esforço por disciplinar-se, erguendo por eles um estandarte contra o inimigo. Suas ricas bênçãos repousarão sobre eles, e em raios brilhantes eles refletirão a luz do Céu. Naquele tempo uma multidão que não pertence à nossa fé, vendo que Deus está com o Seu povo, se unirá a ele pondo-se a serviço do Redentor”.

Notem como esta emocionante descrição é confirmada pelas palavras do nosso texto: “As nações se encaminham para a tua luz, e os reis para o resplendor que te nasceu”. (Isaías 60:3).

Exatamente como uma pessoa em trevas, às apalpadelas, se volve para a luz, foi-nos prometido que este será o resultado de a glória do Senhor estar sobre nós. Dizem os versos 4 e 5: “Teus filhos chegam de longe, e tuas filhas são trazidas nos braços. Então o verás e serás radiante de alegria; o teu coração estremecerá e se dilatará de júbilo, porque a abundância do mar se tornará a ti, e as riquezas das nações virão a ter contigo”.

Ninguém precisa ficar impressionado com poderosos esquemas de propaganda. Não são necessárias as sessões que levam a mente a tornar-se agitada numa tentativa de apresentar novos inventos. Em resposta à ordem do Senhor temos ido e continuamos indo a cada nação, e tribo, e língua e povo. Mas quando nosso texto estiver cumprindo, nossa ida será uma graciosa ida para cima. Os resultados já começaram a aparecer. Enquanto a nossa luz estiver brilhando, a glória do Senhor é vista sobre nós, conforme a promessa: “As nações se encaminham para a tua luz”.

Eu os vejo vindo, primeiro um aqui, poucos ali, então dez acolá; e, finalmente, centenas e milhares. As cenas de Pentecostes se repetem e com maior demonstração de poder! Cidades inteiras se voltam para o Senhor. “As nações se encaminham para a tua luz, e os reis para o resplendor que te nasceu”.

O mundo estará envolto na glória de Deus. Estamos começando a ver este acontecimento em Zaire, onde aproximadamente 300.000 vieram ao nosso encontro demonstrando o desejo de unir-se à igreja.

“Dispõe-te, resplandece”, querido irmão, porque vem a tua luz, e a glória do Senhor nasce sobre ti”.

Oremos continuamente a fim de que Deus nos visite com a chuva serôdia. Com o poder divino e a glória que nos é revelada, havemos de ir para a frente como um movimento a fim de cumprir com rapidez uma grande missão, de tal modo que Jesus possa vir logo.

N. R. Dower

Condensado de uma mensagem apresentada no início do Concílio Ministerial em Viena, Áustria, em 7 de julho de 1975