Um famoso pregador francês disse certa vez a um colega:
— Dizem que é tão grande o número de pessoas que vão ouvir, que os homens têm que sentar-se no confessionário.
— Talvez — respondeu o outro. E acrescentou:
— Mas, a mim me dizem que quando vós pregais, os homens entram no confessionário.
Sim, a pregação verdadeiramente grande é aquela capaz de impulsionar os homens e levá-los a ver a si mesmos como Deus os vê, e fazê-los entrar no confessionário. A pregação de êxito faz com que as pessoas volvam a seus lares, não admirando o pregador, mas agitadas, preocupadas, e, às vezes, prometendo nunca mais ouvi-lo, embora reconhecendo no íntimo que ele tem estado certo e elas erradas. Daí, portanto, a razão por que a pregação não deve ser um discurso para receber aplausos da multidão, nem uma demonstração intelectual para merecer a aprovação dos doutos. Ocorre, com freqüência, que as grandes congregações não são nada mais que o resultado de um simples ajuntamento de pessoas ávidas por ouvir o pregador … mas com a alma faminta.
A pregação é, antes de tudo, a revelação dos propósitos divinos por intermédio de algum homem: o pregador. A tarefa do pregador não é apenas a de instruir. Ele deve levar o povo a sentir e compreender a realidade de Deus. Na verdade o homem não prega, mas se converte num instrumento de revelação divina, num canal através do qual a verdade de Deus é declarada. Assemelha-se a uma lâmpada com que a luz do Eterno brilha para dissipar as trevas da alma. Nesse sentido a pregação é o ato culminante de adoração que o homem realiza. É ato de nobreza entregar-se a fim de chegar a ser o instrumento por cujo meio Deus expresse Sua mensagem. Noutras palavras é aquela voluntária submissão a Deus, que chega até o ponto em que todas as energias do corpo e da alma estejam à Sua disposição.
Uma das lições notáveis que aprendemos com o Plano do Bom Pastor (trabalho em favor dos após-tolos), promovido pela Associação Ministerial de nossa divisão, é que muitos têm deixado de freqüentar a igreja a que pertencem, por não encontrar o alimento espiritual necessário. Disse um deles: “Os sermões eram como nuvens que passam sobre as nossas cabeças sem derramar água na terra sedenta do coração”. Pretendia mostrar uma terrível realidade. Não há dúvida de que este é um desafio a aperfeiçoar o nosso modo de pregar. É também uma lamentável verdade que nos ensina, como pregadores, a lição de que não estamos alcançando o devido êxito.
“Nenhum ofício”, disse Henry Ward Beecher, “requer tão grande aprendizado como o da pregação, porque é uma força viva da alma que se aplica a outras almas com o propósito de transformá-las”.
Com isto pretendemos continuar com algumas sugestões que nos ajudarão a desejar ser “grandes” pregadores, tornando-nos mensageiros da Palavra de Deus. Vejamo-las:
1) Tenha uma mensagem definida: Antes de preparar a sua mensagem todo pregador deveria responder a esta delicada pergunta: “De que falais?
Muitos não podem se opor a esta pergunta.
Do apóstolo Paulo aprendemos que sua pregação tinha sempre uma mensagem definida. Escrevendo aos Coríntios disse ele: “Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais. … Antes de tudo vos entreguei o que também recebi; que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras. Porque decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado”. (I Coríntios 15:1, 3; 2:2).
Por falta de sermões com uma mensagem definida o povo languesce. “Há homens que ficam nos púlpitos como pastores, professando alimentar o rebanho enquanto as ovelhas estão morrendo por falta do pão da vida. … O Senhor Deus do Céu não pode aprovar muito do que é trazido ao púlpito pelos que professam estar falando a Palavra do Senhor. Não inculcam idéias que sejam uma bênção para os que o ouvem. Alimento barato, muito barato é colocado diante do povo”. (Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, pp. 336 e 337).
Para que a nossa pregação tenha êxito, precisamos ter um tema e saber com exatidão como abordá-lo. Se o tema nos é obscuro, também será obscuro tudo que se relacione com ele. Nunca escolhamos um tema por ser bonito, senão que expresse claramente o fim a que almejamos. Isto implica no fato de que nossa pregação não só abrangerá ou incluirá o que se vai dizer, como também excluirá dela tudo o que não tenha que ver com o assunto”.
Por outro lado, uma mensagem definida enunciará uma verdade definida. Os assuntos que não são essenciais à salvação, nem ao cristianismo prático, não devem ser considerados em todos os cultos.
“Os pecados dos homens de negócios, como as tentações de nossos tempos e as exigências morais do século, são assuntos com que raras vezes nos ocupamos”. (C. Spurgeon, Discursos a Meus Estudantes — México, 1894, p. 57). Sem dúvida, para esse tipo de ministros, a subtileza de um pensamento tem mais atrativo que a salvação de uma alma.
2) Tenha a convicção de que sua mensagem definida está alicerçada no poder de Deus’. O apóstolo Paulo dizia aos irmãos de Corinto: “Quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não o fiz com ostentação de linguagem … para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria humana; e, sim, no poder de Deus”. (I Cor. 2:1-6). Tal era o segredo de seu êxito.
É lamentável o fato de que não se prega mais com grande poder, mas, sim, com grande fraqueza. Muita gente não nos olha como nos dias dos apóstolos, mas, sim, com grande indiferença. Quanta falta nos faz a consciência de que esta hora solene exige o tipo de mensageiros, cujo objetivo supremo seja a salvação das almas, apressando ao mesmo tempo, a vinda do Senhor! Esta hora exige homens que não falem “palavras de sabedoria humana “, senão palavras sazonadas “com o poder de Deus”. Homens que possam ser profetas, mas não profetas sem expressão alguma, contemplando o ocaso de uma vida que se vai. Nossa geração precisa de videntes com uma clara visão; videntes que conheçam as grandes exigências do mundo atual e que tenham a coragem de proclamar a este mundo desorientado uma mensagem definida, cheia do poder de Deus.
Não há dúvida de que uma pregação cheia do poder de Deus exercerá primeiro todo o seu poder no pregador. Ele saberá então, por experiência própria, o que há de revelar, e dará a conhecer eficientemente a seu povo. Poderá explicar a outros o que Cristo pode fazer por eles, se souber, por experiência própria, o que Cristo pode fazer para ajudá-lo. Só poderá falar com poder, sobre a cruz de Cristo, se ele mesmo estiver sob a sombra dessa cruz. O mensageiro que é iluminado pelo poder do Espírito Santo deve passar pelo crisol de sua própria experiência e converter-se numa verdade antes que possa passar a ser verdade para outros. Sem isto sua pregação será como nuvem sem água ou cisternas rotas, pois estará pregando a si mesmo e não sobre Cristo. Sobre este aspecto nos disse a pena inspirada: “Foi vosso caráter transformado? Têm as trevas sido trocadas pela luz, o amor ao pecado, pelo amor à pureza e a santidade? Sois convertidos, vós que vos empenhais em ensinar aos outros a verdade? Houve em vós uma mudança completa, radical? Entretecestes a Cristo em vosso caráter? Não precisais ficar na incerteza quanto a esta questão. Tem-se o Sol da Justiça levantado e brilhado em vossa alma? Se assim é, vós o sabeis; e se não sabeis se sois convertidos ou não, nunca pregueis outro sermão do púlpito até que o saibais. Como podeis guiar almas à fonte da vida da qual vós mesmos não bebestes?” (Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 440).
A pergunta de Paulo aos crentes em Éfeso, “recebestes o Espírito Santo quando crestes”? nos faz pensar em que a apresentação do evangelho, por maravilhosa que seja, se não incluir a gloriosa provisão do Espírito Santo, não é completa, nem adequada. Não obstante, muitos pregadores possuem excelentes dons. São zelosos, poderosos nas Escrituras e eloqüentes, mas deixam atrás conversos débeis e defeituosos porque eles mesmos vivem equivocados quanto à sua religião pessoal em relação à fonte de poder. Observemos as seguintes declarações esquadrinhadoras:
“A ausência do Espírito é que torna tão destituído de poder o ministério evangélico. Pode haver erudição, talento, eloqüência, ou qualquer dom natural ou adquirido; mas, sem a presença do Espírito de Deus, nenhum coração será tocado, pecador algum ganho para Cristo”. (Testemunhos Seletos, Vol. 3, p. 212).
“O Espírito Santo está fazendo Sua obra nos corações. Mas se os ministros não tiverem recebido primeiro Sua mensagem do Céu, se não tiverem retirado sua própria provisão das correntes refrigeradoras e doadoras de vida, como poderão eles deixar fluir aquilo que eles não receberam?” (Testemunhos Para Ministros e Obreiros Evangélicos, p. 338).
3) Sua mensagem definida, acompanhada do poder de Deus deve cobrir uma necessidade específica. O que assegurava o êxito do ministério de Paulo era a sua mensagem específica, revestida do poder de Deus. Sua mensagem sempre ia de encontro à necessidade de um certo grupo ou de um indivíduo. Seu ministério não era como do cirurgião que abre o abdômen para ver se encontra o mal. Antes de comunicar, antes de aplicar a mensagem, sabia a que seria ela aplicada. Por isso disse: “sendo livre de todos, fiz-me escravo de todos”. … Procedi para com os judeus, como judeu. … Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns”. (I Coríntios 9:19, 20, 22).
Jesus Cristo também demonstrou esta verdade em Sua vida diária e em Seu ministério. Sua vida mesma era a mensagem e Ele nunca desperdiçou uma só oportunidade de aplicar a Sua mensagem em forma específica. Quando o leproso veio a Seu encontro rogando-lhe: “Senhor, se queres, podes tornar-me limpo”, o Senhor não lhe disse: “Na casa de meu Pai há muitas moradas”. Mas, disse-lhe: “Quero, sê limpo”. E quando os discípulos estavam confundidos a respeito do futuro e da eternidade, Jesus não lhes disse: “Sim, quero, sede limpos”. Jesus lhes disse: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar”. Quando havia fome o Senhor dava de comer. Quando havia enfermidade, curava. Quando havia arrependimento, perdoava. A mensagem de Cristo sempre era dirigida a alguma necessidade específica de um grupo ou de um indivíduo. Da mesma forma, o pregador que conhece a necessidade de sua congregação e que com convicção aplica sempre as lições fundamentais do cristianismo a essa particular necessidade, nunca pregará um sermão árido, mas “oferecerá aos ouvintes aquilo que é de maior interesse para seu bem-estar presente e eterno”. (Obreiros Evangélicos, p. 147).
Muitos fatores poderiam ser analisados para que a pregação seja de êxito. Cremos, não obstante, que estes três pontos básicos mencionados, resumem nossas necessidades fundamentais.
Lembremo-nos de que o Espírito Santo está à espera de homens de valor para utilizá-los como condutores de multidões.
“Ao submeter o instrumento humano à sua vontade à vontade de Deus, o Espírito Santo impressionará o coração daqueles a quem ministra”. (Conselhos Sobre Saúde, p. 437). Só assim nossas palavras não soarão vazias.
Ricardo R. Cabero, pastor evangelista de Ambato, Equador