(Conclusão)
QUANDO a família de um médico ou de um ministro se torna uma equipe para Deus, ela atinge seu apogeu, e entre as muitas equipes de marido e esposa ao redor do mundo nenhuma contribuiu mais para a ciência médica do que os Drs. Paulo e Margarida Brand, do Colégio Médico Cristão de Vellore, na Índia. Durante vinte anos estes nobres cônjuges têm levado esperança e reabilitação a milhares de infelizes sofredores do temível flagelo da lepra. Às vezes esta enfermidade é denominada “a mais atroz de todas as doenças humanas.” O que o Dr. Paulo tem feito no sentido de restaurar membros inutilizados e reativar dedos paralisados, ligando-os a impulsos nervosos sadios no antebraço do paciente pode incluí-lo entre os nomes de mais projeção na medicina.
Sua esposa, Drª Margarida, tem concentrado seus esforços principalmente na cegueira que amiúde está relacionada com a Enfermidade de Hansen. Sua colaboração nessa equipe tem sido relevante. Em certas ocasiões ela realiza umas cem operações por dia. Estes cirurgiões altamente especializados estão prestando considerável serviço, não só em favor dos sofredores da Índia, mas dos leprosos do mundo todo.
Que induziu os Brands a dedicar a vida à obra médico-missionária? Comoveu-se-lhes o coração com o panorama desesperador de 14 milhões de leprosos conhecidos. Reintegrar essas pessoas numa vida plena de serviço é uma alegria que não pode ser descrita em palavras.
Alguns aspectos de sua obra quase parecem inacreditáveis. Elma visita à instituição dirigida por eles é uma experiência inesquecível, bem como uma inspiração, pois percebe-se que todo o pessoal está imbuído do espírito altruísta dos Drs. Paulo e Margarida Brand. Diversos médicos adventistas labutaram com distinção no Colégio Médico de Vellore. Por certo não existe maior obra do que ser médico missionário. Lemos no livro A Ciência do Bom Viver: “O médico que deseja ser um aceitável coobreiro de Cristo, esforçar-se-á por se tornar eficiente em todos os ramos de seu trabalho. Estudará diligentemente, a fim de se habilitar para as responsabilidades de sua profissão e buscará com afinco atingir uma norma mais elevada, procurando crescente conhecimento, maior habilidade e mais profundo discernimento.” — Página 116.
Verdadeiros Médicos Missionários
“O verdadeiro médico missionário será um profissional de habilidade sempre maior.” — Idem, pág. 117.
Eis como é aplicada aos médicos a admoestação do apóstolo Paulo: “Que os médicos mais moços ‘cooperando também com Ele [o Médico-chefe], . . . não recebam a graça de Deus em vão, . . . não dando escândalo em coisa alguma, para que o . . . humilde ministério [dos enfermos] não seja censurado; antes, como ministros de Deus, tornando-nos recomendáveis em tudo.’ II Cor. 6:1-4.” — Idem, pág. 116.
Da mesma pena provém esta clara instrução a todos nós que cooperamos com Deus: “Todo obreiro deve trabalhar inteligentemente, tendo em vista unicamente a glória de Deus. Cumpre-lhe cuidar de não abusar de nenhuma das faculdades que lhe foram dadas por Ele.” — Evangelismo, pág. 658.
“Os ministros de idade e experiência devem sentir ser seu dever, como servos assalariados por Deus, ir avante, progredindo a cada dia, tornando-se continuamente mais eficientes em sua obra, e colhendo sem cessar matéria nova para apresentar ao povo. Cada novo esforço para expor o evangelho devia ser um aperfeiçoamento ao anterior. A cada ano devem desenvolver mais profunda piedade, espirito mais suave, maior espiritualidade, e conhecimento mais cabal da verdade bíblica.” — Evangelismo, pág. 662.
Este apelo para um espírito mais suave e mais profunda espiritualidade é significativo. Como homens e mulheres profissionais, somos constantemente desafiados a encontrar meios melhores e mais rápidos para tratar a enfermidade. As soluções de ontem não são suficientemente boas para as perplexidades de hoje. O Dr. Hammill, da Universidade Andrews, menciona que um grupo de alpinistas abrigados numa cabana discutiam a espécie de equipamento que lhes seria necessária. Havia ali por perto um idoso montanhês, e alguém perguntou-lhe qual seria seu conselho. Sua resposta foi clássica: “Quanto mais tiverdes na cabeça, menos tereis de levar na mochila.” Mas o médico missionário necessita mais do que isso. Deus pode usar um ateu ou uma pessoa indiferente na vida espiritual para produzir uma nova vacina, mas para trazer nova visão a homens e mulheres despedaçados. Ele pode usar apenas cristãos dedicados. Precisamos mais do que perícia médica e acadêmica. Precisamos do Espírito de Deus. Belo tributo é prestado a Lucas quando ele é chamado de “médico amado.”
O Espírito de Grandeza
Um dos homens realmente notáveis da América foi Abraão Lincoln. Embora ele e a esposa não fossem cônjuges muito unidos, havia coisas louváveis a respeito de cada um deles. A Srª Lincoln era ambiciosa, e isso pode ter contribuído para o progresso do marido no mundo político. Mas era o coração afetuoso e o espírito amável do Sr. Lincoln que apelava às multidões. Diz-se que ele tinha braços tão longos que ao ficar em pé, os dedos tocavam nos joelhos. Talvez fosse assim. Não eram, porém, as suas diferenças fisiológicas que o tornavam grande; era a sua índole psicológica e seu amor universal. Seu espírito de cordialidade causava profunda preocupação à esposa, especialmente quando os amigos de Lincoln pisavam sobre os lindos tapetes que ela possuía na Casa Branca. “Seu coração é tão grande como os seus braços,” exclamou certa vez a Srª Lincoln. E isso era verdade.
O mundo há muito tempo esqueceu a Sr’ Lincoln e seus tapetes, mas Abraão Lincoln é amado ao redor do mundo. Tenho visto seu retrato em repartições governamentais na Índia, onde ele parece quase ser considerado como um patrono. Mesmo na República Soviética é-lhe tributada certa veneração. Uma das mais primorosas estátuas deste grande personagem encontra-se bem próximo da Abadia de Westminster, em Londres. Ele não foi o maior homem de negócios ou administrador que o mundo já teve, mas dedicava grande amor à humanidade e esse amor estendia-se até a seus inimigos políticos. Afirma-se que Lincoln nunca olvidava um ato de bondade, mas jamais se lembrava de uma afronta. Um de seus dizeres imortais declara o seguinte: “Tenho pena do homem que não pode sentir o açoite que fere as costas de outra pessoa.” Sentir o que os outros sentem e compreender-lhes as necessidades é verdadeiro cristianismo.
Transformar os Adversários em Amigos
No auge da Guerra de Secessão, nos Estados Unidos, um grupo especial reunira-se em Washington para fazer certas deliberações. Quando o presidente, em sua maneira bondosa, revelou preocupação pelo povo do Sul, uma mulher ergueu-se e disse: “Penso que o presidente devia compreender que lhe compete destruir os nossos inimigos, não simpatizar com eles.”
Replicou Lincoln, com calma dignidade: “Senhora, quando transformo meus adversários em amigos, acaso não os destruí?” Não foi preciso dizer mais nada.
Não é o médico mais hábil ou o pregador mais eloqüente que conquista a comunidade, mas sim aquele que sabe como amar, que descobre uma maneira de cuidar dos órfãos e das viúvas, que sabe como confortar e animar os aflitos, solitários, desamparados e delinqüentes. Quando no círculo da família, na vizinhança e na igreja existe amor prático e abnegado em favor dos outros, o mundo contempla o cristianismo em ação.
O Céu Refletido em Nossos Lares
Estando nossos lares repletos da atmosfera do Céu, os descrentes serão levados a saber que Deus, e somente Ele, é amor. Nenhum ser humano é amor. Nós podemos e devemos ser amáveis. O maior argumento em favor do cristianismo é um cristão amoroso e afável.
Todos estamos cientes das duas palavras gregas para amor — eros e agape. A primeira re-fere-se ao amor humano; a segunda, ao amor divino. Quando a criatura toma o lugar do Criador, isso é amor erótico e pode facilmente degenerar em ódio. Mas quando o eros é eclipsado pelo agape, a vida assume nova dimensão, e jamais surgirá o problema da incompatibilidade. Esta é uma palavra estranha, pois quem já viu duas pessoas perfeitamente compatíveis durante todo o tempo?
É trágico ver alguém partir em busca de um novo companheiro, na suposição de que ele ou eia supra o que somente Deus pode dar. Semelhante relação toma-se pouco mais do que uma sucessão de zeros. Quando esperamos que nosso Pai celestial satisfaça nossas necessidades, todos os outros interesses se tornam secundários. A vida é mais do que o alimento, disse Jesus, pois a vida consiste naquilo que é mais valioso do que as coisas materiais. Ela não é formada apenas pelo que possuímos, mas pelo que somos possuídos. O amor planejado por Deus não é apenas uma dádiva, mas uma descoberta e uma maneira de viver. Ele não é simplesmente algo que encontramos, mas algo que criamos. Contudo, o amor pode ser esmagado num instante. Cultivai-o, e ele florescerá mais e mais até à eternidade.
O amor humano deve ser o vestíbulo para o amor divino. É um impulso divino que leva um homem e uma mulher a juntos estabelecerem um lar. No entanto, nem o próprio Deus pode tornar um casal completamente feliz no casamento sem sua leal cooperação. Para que o matrimônio continue sendo um manancial de alegria, tenhamos as taças estendidas para receber o que ele nos quer dar.
O desenvolvimento durante o curso da existência é muito mais importante do que sua condição inicial. Para manter acesa a chama do amor deve-se dar atenção às palavras “você” e “sempre.” Acaso já notastes que todas as canções de amor trazem ao seu redor o círculo da eternidade? Jamais alguém disse no altar do casamento: “Amar-te-ei e honrar-te-ei durante dois anos e meio, ou vinte e dois anos e meio.” Não! é “para sempre!” Os anos, entretanto, produzem alterações, e se um pacote é avaliado apenas pelo seu envoltório, não devemos admirar-nos se o ouropel perdeu o brilho. Mas “o ouro entremeado de fios de prata” pode dar mais profunda significação à vida.
Alguma tensão e ansiedade é inevitável no início, pois todas as coisas que crescem manifestam certa tensão. Os sóis e planetas são mantidos em suas órbitas pela gravidade, mas a gravidade realmente é tensão. A tensão é uma das leis da vida. Quando todos pensam do mesmo modo, talvez ninguém esteja pensando com seriedade. Nada é mais funesto do que ver duas pessoas respeitáveis combater-se uma à outra. Mas sempre é inspirador ver duas pessoas avançar juntas, apegando-se ao mesmo tempo à graça e ao poder divino, a fim de fortalecer seus esforços.
Um menino que tinha de cortar a grama prendeu seu cão na máquina usada para isso. Mas a cada instante o animal parava e começava a latir. Um transeunte notou isto e disse para o menino: “Por que seu cão pára de puxar a máquina?”
A resposta do garoto foi esplêndida: “Oh! ele não pode puxar e latir ao mesmo tempo, por isso pára de puxar quando prefere latir.” Temos visto casais assim. Outros não ladram, vagueiam.
Lemos em Deuteronômio 12:13: “Guarda-te, que não ofereças os teus holocaustos em todo lugar que vires.” Gastar o tempo junto a todo altar à beira do caminho significa fazer uma trágica colheita. O caráter sagrado do lar é vital. Não devemos olvidar que a vida é em grande parte uma questão de escolha e ênfase. Apliquemo-nos, portanto, sempre ao que for mais importante.
Conservando o Brilho do Lar
Os reclamos de nossa profissão naturalmente são grandes, mas resolvamos manter tal equilíbrio em nossa vida familiar e social que as pessoas mais próximas de nós jamais se sintam feridas por parecermos não lhes dar importância. Formar um lar é ampliar a feição mútua a ponto de não somente incluir toda a família mas influenciar toda a comunidade. Não existe um lar, profissão ou igreja que não possam melhorar, se isto for feito da devida maneira.
O lar deve ser um lugar sagrado em que os membros da família celebrem o culto cada dia. Quando o Senhor instituiu o culto em Israel, Ele colocou o santuário no meio do povo. E, por certo, estamos lembrados de seu formato. Havia o pátio exterior, depois o Lugar Santo e então o Lugar Santíssimo. Este aposento interior era reservado apenas para o sumo sacerdote. Imaginemos agora os nossos lares sob este aspecto. O pátio é onde recebemos nossos amigos. Podemos ter salutar companheirismo com eles. Podemos aproximar-nos do altar e unir-nos com eles em adoração a Deus, mas em seguida existe o Lugar Santo em que oficiava a família dos sacerdotes. Isto pode representar os nossos lares. Existia, porém, ainda o lugar Santíssimo, que era conservado intato. Podemos fazer com que isto represente a relação matrimonial no lar. Pois o casamento não é uma fusão, mas uma comunhão, e a comunhão pode tornar-se mais rica com o passar dos anos.
As Escrituras indicam que o marido e pai é a cabeça do lar, mas a esposa e mãe é o coração do lar.
“Cada ação de nossa vida toca nalguma corda que vibrará na eternidade.” — E. H. CHAPIN.