Cristo muitas vezes deu ordens a pessoas que não estavam capacitadas para cumpri-las. Disse Ele a uma pessoa morta: “Vem para fora”. Mas um defunto não anda! Disse Ele a um paralítico: “Estende a mão”. Como fazê-lo, porém, se estava paralisada? O fato é que a pessoa morta — que já não era mais um defunto — andou. E o paralítico — que por seu ato de fé e coragem obedeceu à ordem e estendeu a mão — deixou de sê-lo.
Algumas ordens dadas por Deus a um ministro parecem ser demasiado difíceis de cumprir. “Aqui não se pode”, é a filosofia de alguns que se sentem mortos ou paralisados ao enfrentá-las. “Encontrarei um caminho ou o farei”, dizem outros que crêem que Deus “concederá a Seus fiéis servos a medida de eficiência que suas necessidades demandem” (Profetas e Reis, p. 165).
As épocas de grande progresso da igreja se caracterizaram sempre pelo espírito de arrojo e sacrifício de seus fiéis. As épocas de estagnação foram precedidas ou acompanhadas pela comodidade e a falta de ação intrépida e abnegada. Alguns movimentos religiosos, outrora pujantes, hoje dormem serenamente, embalados no berço de seu passado. Sua história foi forjada com convicção unida à ação. O presente, no entanto, repousa sobre a lembrança e a veneração dos grandes feitos e dos grandes heróis do passado. Em forma especial, sua vitalidade morreu, ao morrer o sentido de urgência e de evangelização dos pioneiros. A igreja se encerrou no escritório, na sala de aula, no consultório médico. Olvidou-se da rua, das multidões. Desapareceram os heróis.
O povo remanescente não pode encerrar-se nem encerrar sua mensagem. Seu objetivo é iluminar o mundo com a luz de Cristo. Sua característica primordial é a PENETRAÇÃO. Tal é o caso do fermento que deve mesclar-se totalmente com a massa para produzir seus efeitos; ou da chave que deve entrar na fechadura para ser útil; ou do sal que impregna todo o alimento; ou do pão que entra no corpo e nutre cada célula; ou da luz que penetra as trevas; ou do fogo que tudo penetra e transforma (Elton Trueblood, em The Company of the Committed, p. 68).
Como, porém, penetrar hoje numa sociedade secularizada, desprovida de interesse espiritual? Parece impossível. Assim se sente às vezes o evangelista quando, depois de um grande esforço publicitário, muita oração e trabalho árduo, vê que uma congregação relativamente pequena vem ouvi-lo, ao passo que milhares contemplam, fascinados, a televisão ou assistem a espetáculos sem transcendência. Às vezes ele é atormentado pela tentação de ocultar-se numa caverna, como Elias.
Porém, até mesmo o impossível é possível. Um ministro andou sobre a água quando tudo indicava que isso era impossível. Fê-lo, porém, por ordem e com a habilitação de Cristo a quem devia olhar. Quando deixou de fitá-Lo, viu que sua façanha era possível somente porque Cristo a ordenava. Confiando em si mesmo ele se afundava.
Quais são as características dos homens a quem Deus pode e quer usar hoje como conquistadores na qualidade de heróis da evangelização?
1. Homens que não pensem em sua posição pessoal. Leighton Ford, em A Igreja Viva, p. 158, fala da “psicologia contemporânea do êxito” que às vezes pressiona o evangelista, levando-o a obter resultados numéricos. Quem está demasiado preocupado em manter sua imagem ou consegui-la, dificilmente se aventurará em trabalhos de pioneiro onde o risco é maior do que onde a colheita já está assegurada. É mais fácil transitar num caminho asfaltado, do que abrir uma senda na montanha. O avanço ocorre, porém, quando se realiza uma obra de penetração.
“Vós estáveis abatido e vos sentíeis desanimado — escreveu Ellen G. White a um evangelista, relatando uma visão que Deus lhe havia enviado. — Eu vos disse que estáveis considerando vosso trabalho quase um fracasso, mas que se uma alma se mantiver firme na verdade e perseverar até ao fim, vossa obra não pode ser declarada um fracasso. Se uma mãe foi desviada de sua deslealdade para a obediência, podeis regozijar-vos. …
“Em comparação com o número dos que rejeitam a verdade, o dos que a aceitam será bem menor, porém uma alma é de mais valor do que mundos. Não nos devemos desanimar, embora nossa obra não pareça dar muito resultado”. — Evangelismo, pp. 328 e 329.
“Se fracassardes noventa e nove vezes em cada cem, mas fordes bem sucedidos em salvar da ruína uma única alma, realizastes um nobre feito pela causa do Mestre”. — Serviço Cristão, p. 101.
Por certo há também verdadeiros fracassos. Ocorrem fracassos quando toda a glória recai sobre o instrumento humano, o qual pode chegar a ser idolatrado, quando a atração é a “pregação fantasiosa” e não Cristo ou a mensagem, quando se manipula a mente dos ouvintes com os sentimentos do pregador, quando está presente o “orgulho da sabedoria e da ambição mundanas de ser o primeiro” (Evangelismo, p. 332).
Quando o que impele o ministro ou o leigo é cumprir a ordem salvadora de Cristo, quando seu interesse é salvar almas e quando faz tudo o que está ao seu alcance, não haverá fracassos embora as aparências assim o indiquem. Deus e Sua obra estão procurando este tipo de heróis.
2. Homens de vigor e convicção. Referindo-se à entrada em regiões não evangelizadas, Ellen G. White fala de homens que “possuem verdadeiro zelo missionário”, que façam “o máximo” que lhes seja possível” (Serviço Cristão, p. 79); “homens humildes, que vejam a necessidade da obra evangelística e que não recuem” (Evangelismo, p. 24). Fala também de “atividade enérgica e decidida”, visto que a evangelização consiste em erguer “o estandarte da verdade nos lugares entenebrecidos da Terra” e “destruir o reino do demônio” (Evangelismo, p. 18).
“Vivemos em tempo perigoso, e necessitamos daquela graça que nos tornará valorosos na luta, pondo em fuga os exércitos inimigos. Caro irmão, necessitais de mais fé, mais ousadia e decisão em vosso labor. Necessitais de mais impulso e menos timidez. … Nosso combate tem de tomar a ofensiva. Vossos esforços são demasiado brandos; precisais mais força em vossos trabalhos, do contrário ficareis decepcionado com os resultados. Ocasiões há em que deveis fazer um ataque ao inimigo”. — Evangelismo, p. 297.
Para realizar essa tarefa não são necessários super-homens, mas simplesmente homens convertidos e convencidos, que possuam energia e fé inflexível, ardente, que avance sem apresentar objeções. (Evangelismo, p. 19).
Deus está procurando esse tipo de heróis hoje em dia. O labor de penetrar é árduo e está cheio de perigos. Mas é A TAREFA. Serei eu essa pessoa a quem Deus procura? Serás tu?