FRANK H. YOST

Nota Introdutória

SUMAMENTE evidente é, para todos nós, que o tema central dêste Congresso Bíblico é o Senhor Jesus Cristo, a quem estamos contemplando como Salvador de nossos pecados, e cuja morte de cruz é o pináculo da doutrina cristã, a culminância assinalada pelo Velho Testamento mediante seus símbolos e ritos, do qual surge o Novo Testamento, com seu glorioso evangelho da graça.

Eu desejaria apresentar isto agora, mas tenho outra incumbência, que é: Focalizar a perversão destas verdades e assinalar como Satanás, o falso cristo e a apostasia que estêve dirigindo através dos séculos, têm tratado de torcer tôda verdade relacionada com a revelação da natureza de Cristo e de Sua obra. Como bom soldado, obedeci, e aceitei o encargo.

E é necessário apresentar êsse tema. Ensina-nos a História o que significa desobedecer a Deus e recusar a expiação do pecado por meio de Jesus Cristo.

Esta é a verdadeira tarefa da Historia. A História é uma arte, e ainda mais. A História é uma expressão cultural; e ainda é mais. Corretamente estudada, a História diz-nos o que a vida é. Dino-lo em têrmos positivos, ou tem têrmos negativos.

Um povo sem o senso da História equivale a um desmemoriado. Para quem sofre de amnésia, cada dia é uma experiência confusa que, em geral, termina em frustração e, amiúde, em desastre. O homem que possui memória, porém, e as pessoas que têm o senso da História compreendem o que ocorre dia a dia, porque cada dia é visto como que numa tela, no passado, tendo a História como segundo plano.

Infelizmente a História regista muito mais fracassos que êxitos. Não pode ser de outra maneira num mundo que caiu em pecado. Estudar o anticristo, profetizado nas Escrituras e confirmado na História, significa contemplar um quadro sombrio. Porém não podemos perder as lições que nos ministra êsse quadro negro. Precisamos contemplá-lo e aprender os ensinos que nos proporciona.

Definição e Aplicação do Têrmo “Anticristo’’

A palavra “anticristo” (antichristos) aparece na Bíblia quatro vêzes apenas:

I S. João 2:18 e 22. O anticristo virá, mas há muitos anticristos. O anticristo nega o Pai e o Filho.

I S. João 4:3; II S. João 7: Anticristo é quem nega que Jesus Cristo veio em carne.

O emprêgo feito por João do têrmo “anticristo” é geral e aplicável a todos os opositores de Cristo. Neste caso emprega-o, sem dúvida, com referência aos docetistas que ensinavam que Cristo era só uma “aparição” ou uma “aparência” na Terra, e aos agnósticos, que ensinavam que Cristo não passava duma manifestação numa série de emanações provenientes do Espírito divino.

Entretanto, os comentaristas, desde os tempos dos apóstolos, aplicaram o têrmo aos falsos cristos, prenunciados pelo próprio Senhor (S. Mat. 24:24). O “homem do pecado” de Paulo (II Tess. 2:3) (1) “o iníquo” (v. 8) mencionado no singular, são declarações que sempre foram consideradas profecias relativas ao anticristo. As bêstas das profecias, especialmente as de Apocalipse 13 e 17, têm sido identificadas com o anticristo, tal como a blasfema e perseguidora “ponta pequena” de Daniel 7.

Entretanto, os primitivos pais da igreja fizeram dêste têrmo aplicação mais pessoal. Alguns dêles chamaram anticristo a Nero. Outros sustiveram que essa designação se aplicava a um homem que deveria aparecer no futuro, investido de poder satânico e na luta contra Cristo e Seus seguidores. Esta foi a opinião mantida durante tôda a primeira parte da Idade Média. (2)

No século X fêz-se aplicação mais imediata e local. Em ataque escristo, dirigido contra o papa João XV, no concilio de Reims, França, celebrado no ano 991, o autor, provàvelmente Arnolfo, bispo de Orleans, ou Gerberto, que mais tarde chegou a ser o papa Silvestre II, susteve que um futuro papa “sem caridade e inchado de carnal compreensão”, ia ser o anticristo. Foi Joaquim de Floris, no século XII quem, por primeira vez, sugeriu que o anticristo aparecería como universalis pontifex (o pontífice universal) e ocuparia a sede apostólica. (3) Um contemporâneo seu, Amalrico de Bena, foi o primeiro a aplicar êste nome ao papa, isto e, ao sistema papal. (4)

Os alemães, na última parte da Idade Média, contemplando com amargura a disputa papal contra os imperadores almães do Império Ocidental, deram a Gregório VII, inimigo do imperador Henrique IV, o nome de anticristo. Mais tarde os valdenses consideraram o papado como o anticristo, sendo nisso imitados pelos hussitas, na Boêmia, e por Wiclife e os lolardos, na Inglaterra.

Os homens da Reforma seguiram essa interpretação. Lutero, Calvino, Zuínglio, Melanchton, Bucer, Beza e pràticamente todos os seus discípulos chamaram anticristo ao papa. (5)

Em todos os casos em que os escritores católicos abordaram o tema, sustiveram a opinião de que o anticristo é uma pessoa. Para alguns dêles era um dos imperadores romanos pagãos e perseguidores, talvez Nero.

Inocêncio III, que viveu nos séculos XII e XIII, declarou ser Maomé o anticristo. Outros adotaram a opinião dos padres, no sentido de que o an-ticristo é uma pessoa dotada de poderes satânicos, e que ainda está por manifestar-se. (6)

Em geral os protestantes fundamentalistas dos Estados Unidos seguem êste ensino católico. Com efeito, elaboraram todo um sistema de teologia em tôrno do anticristo. Será, segundo êles, um personagem malvado que, na opinião de alguns, nascería da união ímpia do demônio com uma mu-lher bela de origem judia, e que, “na metado da semana” — a semana setuagésima, de Daniel 9 — assumirá o govêrno da Terra por espaço de 1260 dias, ou sejam: três anos e meio, depois de Cristo haver arrebatado da Terra os crentes. No final da última parte dessa semana, Cristo derrotaria o anticristo e inauguraria sôbre a Terra o milênio de paz. (7)

Para os adventistas, o anticristo é, sobretudo e fundamentalmente, Satanás, o primeiro rebelde contra Cristo, (8) que, justamente antes da segunda vinda, tratará de aparecer na Terra como Cristo, (9) e, depois dos mil anos, será destruído no lago de fogo (Apoc. 20:10). (10) Êste anticristo é o dragão da profecia, e seus seguidores, organizados para atuar nos assuntos políticos e religiosos do mundo, estão simbolizados na profecia por diversas bêstas.

Não obstante, o anticristo é conhecido dos adventistas ampla e generalizadamente como o papado, representado pelo “ponta pequena” de Daniel 7, e a “bêsta” de Apocalipse 13. O anticristo satânico aparece na história da igreja cristã e sob o disfarce do errôneamente chamado vigário de Cristo, o papa, até apresentar-se como o falso cristo.

No grande conflito entre Cristo, e Satanás como anticristo, mencionam-se especificamente quatro grandes e terríveis manifestações da bêsta na his-tória teológica:

  • 1. Satanás, a bêsta por excelência, que usou a serpente, essa formosa criatura muito diferente das víboras que conhecemos comumente, (11) para enganar o primeiro par no Éden. Conseqüentemente, o dragão é também chamado serpente (Apoc. 12:3, 9, 14-17). (12) A história de Satanás apresenta-se nas Escrituras como uma série de apostasias, expulsões e degradações, de conseqüências terríveis para o homem. (13) O dragão satânico é uma bêsta composta de porções de tôdas as demais bêstas proféticas (Apoc. 12:3).
  • 2. A súmula de tôdas as apostasias humanas foi descrita, entre outros, por Paulo, num quadro de desoladora maldade (Rom. 1:18-32;  3:5-20).  (14)

Ao revelar essa apostasia, os profetas assinalaram certas nações como sendo particularmente inimigas do povo de Deus. O profeta Daniel descreve especialmente quatro delas sob o símbolo de bêstas (Dan. 7:3-8, 17-28; 8:3-8, 20-22). (15) São as seguintes:

  • a. Babilônia, o Império Neobabilônio, o leão de Daniel 7, descrito prèviamente como a cabeça de ouro da imagem da visão de Nabucodonosor, que aparece em Daniel 2.
  • b. Medo-Pérsia, o urso de Daniel 7, e o carnei-o de Daniel 8; o peito e os braços de prata da imagem.
  • c. Grécia macedônica (o leopardo de Daniel 7, e o bode de Daniel 8) também está simbolizada pelo ventre e coxas de Daniel 2.
  • d. Roma, a bêsta indescritível de Daniel 7. De-vido a que o avanço dos impérios se processou na direção do ocidente, e visto que o ocidente tem sido o centro da grande expansão mundial do cris-tianismo, bem como da grande apostasia organizada, a profecia se refere princípalmente à porção ocidental do Império Romano. Por isso a profecia revela que a parte ocidental do Império Romano se fraccionaria em dez reinos, representados pelas dez pontas. Essas dez pontas representam as nações germânicas que nominalmente estavam sujeitas ao Império, mas, à medida que a administração central de Roma se desmoronava, foram assumindo a direção do ocidente. Entre êstes, a estranha, diferente, repulsiva e blasfema ponta pe-quena, o papado, tomou o seu lugar, depois de eliminar três. Êstes símbolos correspondem respecti-mente às pernas de ferro e barro cozido, e aos dez dedos de ferro e barro, de Daniel 2. A ponta pe-quena, de Daniel 8, é a réplica, num único sím-bolo, da quarta bêsta e da ponta pequena, de Daniel 7, que representa Roma, tanto pagã como papal.

Destas quatro potências, as Escrituras destacam duas como dignas de condenação especial.

  • 3. Babilônia, de onde Abraão teve que sair quando essa potência constituía uma cidade-Estado, a fim de encontrar o verdadeiro Deus Criador e servi-Lo. Em sua forma imperial, conhecida na História por Neobabilônia, esta potência era, para Isaías (Isa. 13:14 e 39), motivo de preocupação e condenação especiais, e, além disso, foi a inimiga encarniçada e por fim a conquistadora do remanescente judeu que permaneceu na Palestina, de-pois do cativeiro das dez tribos. (II Crô. 36.)

Jeremias advertiu seu povo quanto ao perigo babilônio, e viveu tempo suficiente para ver o cumprimento terrível de suas profecias. (Jer. 20, 21, 24, 25, 27-34, 37-39, 50 e 51.) Ezequiel e Daniel foram prisioneiros dos babilônios. (Eze. 1; Dan. 1.)

Visto que Babilônia era o inimigo por excelência do povo de Deus nos dias dos profetas do Velho Testamento, êsse nome foi aplicado a Roma pagã, inimiga peculiar do Filho de Deus feito homem, e de Seus seguidores nos tempos Novo Testamento. Na época apostólica, chamou-se Babilônia a Roma (I S. Ped. 5:13), (16) e. no Apocalipse, João emprega o têrmo como símbolo do arquinimigo da igreja na Terra. (Apoc. 14:8; 16:19; 17:5; 8:2, 10 e 21.)

  • 4. João emprega no Novo Testamento indistintamente as palavras “bêsta” e “Babilônia” de maneira muito significativa, como equivalentes proféticos da ponta pequena de Daniel 7 — o papado. A Jezabel do período de Tiatira da história da igreja de Apoc. 2:18-29, converte-se, ao ampliar a apresentação, na bêsta composta de Apoc. 13. Essa bêsta possui vários característicos das quatro bês-tas, símbolos de impérios que encontramos em Daniel 7. O têrmo “bêstas” não é, porém, suficientemente ilustrativo do quadro que o Espírito de profecia quer completar. Ao descrever o papado, em Apoc. 17, o Espírito apresenta uma revelação mais ampla da mulher Jezabel de Apoc. 2:20, e nô-la apresenta como uma prostituta, mulher que caiu completamente na impureza do adultério espiritual, a que arrastou o mundo inteiro (Apoc. 17:3-7). (17)

A mulher de Apoc. 17, porém, está assentada sôbre uma bêsta. (Vs. 3 e 7.) A prostituta é Roma eclesiástica, e sob o seu poder se encontra a bêsta que representa todo o emaranhado de apostasias do passado, presente e futuro. A fim de ajudar a identificar a bêsta, as sete cabeças são aqui apresentadas como sendo as sete colinas de Roma (Apoc. 17:3; 9; 13:1 e 12:3). (18) Em virtude de um princípio de extensão profética, estas sete cabeças, que evidentemente se sucedem uma à outra (Apoc. 17:9 e 10), simbolizam os sucessivos impérios e as potências que foram inimigas do povo de Deus e sê-lo-ão no futuro. Essas potências, bem … como seus prolongamentos na História, acompanham e fortalecem o aspecto humano das maquinações e pretensões da prostituta papal (Vs. 3, 9, 12 e 13), (19) até ao desfêcho definitivo (Vs. 16-18; 18:8-24): “o juízo da grande prostituta.”

Para compreender e analisar os vários aspectos da grande apostasia, dependemos quase inteiramente dos livros bíblicos de Daniel e Apocalipse.

Mediante visões e símbolos sucessivos, são-nos apresentadas as caraterísticas satânicas e as ati-vidades malignas dessas potências, e especialmente do papado.

O Papado

O propóstito destas páginas consiste em apresentar a bêsta profética como sendo Roma, e concentrar a atenção intensamente no aspecto papal de Roma, a fim de demonstrar que o anticristo que tem atuado nos longos séculos da História como apostasia particularmente blasfema que surgiu no sentido da apostasia geral e imperante no mundo.

O Papado Define-se

O papado é a infalível e sacrossanta cabeça administrativa e episcopal do grande sistema religioso católico, romano. Assim como Cristo é a ca-beça invisível e mística do corpo místico — a verdadeira igreja universal — o papa é, com efeito, a cabeça da visível e falsa igreja católica ou universal, que Satanás estabeleceu como uma cópia enganosa da igreja verdadeira de Cristo. O papa é o bispo de Roma, chefe da arquidiocese romana, primado da Itália e pontífice máximo da assim chamada igreja universal.

Pretende o papado que Cristo haja ordenado a Pedro como chefe ou príncipe dos apóstolos, a petros ou pedra sôbre que se fundaria a Igreja de Cristo (S. Mat. 16:18 e 19). (20) De conformidade com essas pretensões, Pedro seria o fundador da igreja de Roma, onde teria pregado durante 25 anos (21) desde o seu livramento da prisão nos tempos de Herodes Agripa I, em Jerusalém, no ano 44 A. D. (Atos 12:3-23, (22), até ao seu martírio em Roma, no ano 68 da mesma era. Segundo se presume, antes de sua morte, Pedro teria indicado para ser seu sucessor (23) a Lino, o primeiro de uma série de homens que, por sua vez, chegaram a ser príncipes apostólicos da grei de Pedro. A sucessão apostólica — declara Roma — existe únicamente por meio do papado, na extensão da autoridade episcopal por meio dos bispos que receberam suas credenciais da igreja de Roma (24). Outras igrejas há. além de Roma, que podem provar haverem sido fundadas pelos apóstolos, mas Roma reclama entre tôdas a primazia (25) como fato teológico, insiste em que tôdas as igrejas que não lhe reconhecem as pretensões são cismáticas, e que tôdas se apartaram do caminho verdadeiro.

Mais tarde consideraremos a teoria de que Pedro haja sido o primeiro papa, com base em S. Mat. 16:18; limitando-nos a declarar agora que Cristo é a rocha (I Cor. 10:4), é o fundador e, ao mesmo tempo, o fundamento de Sua igreja (I Cor. 3:11). (26) Nenhum apóstolo organizou a igreja separadamente de Cristo; sempre o fizeram por meio dêle. E se é verdade que nenhum apóstolo por si só o fêz, também o é que todos os apóstolos e profetas do Novo Testamento edificaram a igreja juntamente com o Senhor. (Efé. 2:19-22.)

A sucessão dêsses verdadeiros apóstolos e profe-tas não foi nem psicológica, nem política, nem es-piritual. Tampouco foi pessoal, por meio de papas, dos quais a Escritura nada diz, nem por meio de bispos, mas mediante o corpo da igreja, que e o corpo de Cristo. (27).

A Evolução do Episcopado

Quem são os bispos, de quem o papa pretende ser o sumo pontífice?

Havia tão sòmente duas classes de funcionários conhecidos na igreja do Novo Testamento:

  • 1. Os homens dotados do Espírito Santo, os pneumatikoi (Gál. 6:1; Rom. 8:6; I Cor. 2:15; 3:1; 14:37), qua haviam recebido a concessão especial dos dons do Espírito Santo, em virtude da qual eram reconhecidos como:
    • a. “Apóstolos (a palavra grega é apóstolos, “enviado”) ou missionários (chamado, em latim: missiona-rius, “enviado”).
    • b. Profetas.
    • c. Evangelistas.
    • d. Pastôres.
    • e. Professores.
    • f. Exortadores.
    • g. Os que possuíam o dom de curar.
    • h. Realizadores de milagres.
    • i. Os que possuíam o dom de línguas.
    • j. Os que tinham a capacidade de interpretar ou traduzir essas línguas (Rom. 12:6-8; I Cor. 12:8-10; Efé. 4:11) (28).

Não eram funcionários eleitos, mas surgiram espontâneamente, graças às provas, aceitas pela igreja, de que possuíam os dons que professavam ter. A irmã White faz parte do bendito grupo dos que participaram dos dons do Espírito.

  • 2. A outra classe, constituída de funcionários eleitos, subdividia-se em dois grupos: os anciãos ou presbíteros (do grego: presbyteros) (Atos 11:30; 14:23; 15:2-6, 22 e 23; 20:17; I Tim. 5:17; S. Tia. 5:14; I S. Ped. 5:1), e os diáconos (do grego: diakonos, “servos”) (Fil. 1:1; I Tim. 3:8-13) (29). Os diáconos preocupavam-se, especialmente, com os aspectos materiais das necessidades da igreja (Atos 6:1-6). Os anciãos interessavam-se particularmente nas necessidades espirituais e administrativas. As qualidades e deveres dos diáconos (I Tim. 3:8-13) e anciãos (I Tim. 3:1-7; Tito 1:5-9) estão claramente definidas.

Logo, porém, talvez em princípios do século II, o grupo dos anciãos dividiu-se em: (a) bispos, ou “superintendentes” (do grego episkopos) e (b) anciãos, que desempenham a função de pastôres locais. Nas Escrituras essa divisão não é conhecida; ambos os têrmos: superitendente e presbítero, são empregados no Novo Testamento para designar o mesmo ofício. Aos representantes da igreja de Éfeso, que por pedido de Paulo foram a Mileto para conversar com êle, são por êle chamados presbíteros e superintendentes; presbítero como denominação do seu ofício (Atos 20:17), e superintendente para delimitar-lhes as funções (V. 28). Em sua carta a Tito, o mesmo apóstolo emprega os têrmos como sendo sinônimos (Tito 1:5-9), e só menciona os bispos e os diáconos de Filipo (Fil. 1:1), mas não há dúvida de que êsses bispos não passavam de anciãos.

Havia anciãos em tôdas as igrejas, nos tempos apostólicos (Atos 14:23; Tito 1:5), e são menciona-dos no plural, como “nomeados” ou “constituídos por eleição”, isto é, eleitos (Atos 14:23) (30). De conformidade com os autores apostólicos, havia um primeiro ancião presidente de cada grupo de anciãos (31) É evidente que o título de bispo era exclusivo do presidente dos anciãos.

Nalguns lugares o presidente, ou ancião que fazia as vêzes de tal, elevava-se a posição singular, como superintendente ou bispo, mais ràpidamente que noutros. Pouco depois do ano 100 A. D., dá-se o nome de bispo ao presidente de Antioquia, e um antigo bispo dessa cidade, Inácio, insiste mui-to na autoridade dos bispos (32). Clemente, diretor da igreja de Roma, porém, em carta para a igreja de Corinto, no ano 96 A. D., reconhece apenas os presbíteros (33); e como foi mencionado prèvia-mente, Justino e Tertuliano falaram de “presidentes”, aparentemente referindo-se aos chefes dos anciãos. (31). É óbvio que Tertuliano não está de acôrdo com a crescente autoridade dos bispos (34). Estava preocupado com o que via; era arrebatada a autoridade da igreja, e a direção convertia-se paulatinamente em monarquia. Foi isso que aconteceu. Eusébio, por volta do ano 324 A. D., em sua “História Eclesiástica” menciona com o título de bispos e não de presbíteros, todos os dirigentes da igreja primitiva. (35) Por certo, nada mais fazia do que refletir as tendências de seu tempo.

Devemos, não obstante, reconhecer que as condições ambientes da igreja primitiva, tanto na esfera psicológica como na secular e social, tornaram quase inevitável a transformação do ofício de ancião presidente no de bispo monárquico. Com efeito, ao passar revista nas circunstâncias da época, chega-se a compreender que teria sido necessária uma resistência muito grande da parte da igreja em conjunto, para evitar o surgimento dos bispos. Algumas tentativas dessa espécie foram de quando em quando feitas, mas foram esporádicas e infrutíferas. As seguintes são as causas e os fatôres mais notórios que contribuíram para o surgimento dos bispos como monarcas na igreja:

  • 1. A tendência normal e comum da humanidade consiste em buscar dirigentes. Aquela época caracterizava-se pela centralização e autocracia no tocante ao govêrno civil. O presidente dos anciãos deve haver tido necessariamente algumas qualidades pessoais que o capacitavam para a direção, e manifestado eficiência no cargo. É provável que numa época de pouca instrução, um homem tal haja revelado possuir alguns dons psicológicos e intelectuais.
  • 2. O cristianismo era uma organização urbana. Em geral havia uma única igreja organizada em cada cidade. Porém os grupos de crentes deve terem-se sem dúvida reunido em diferentes partes da cidade. As reuniões numerosas da parte duma seita perseguida não devem, em geral haver sido seguras. É provável que cada um dos grupos locais haja sido presidido por um ancião, mas o ancião presidente deve haver tido a supervisão dos assuntos da igreja em tôda a cidade, além de, provàvelmente, a zona campestre que rodeava a cidade. Isso não seria senão normal, se tomarmos em conta o conceito greco-romano da cidade-Estado. Dêsse modo o ancião presidente, o superintendente (episkopos, “bispo”), assumia impor-tância para com a cidade que supervisionava, até nos assuntos mais insignificantes, visto tratar-se duma igreja cristã nascente e ilegal.
  • 3. As ofertas que entravam para a tesouraria das igrejas nascentes eram na sua maioria empregadas no sustento dos pobres, os desafortunados, os enfermos e os que estavam em prisões por motivo de sua fé. Sôbre o presidente recaía a res-ponsabilidade de administrar o dinheiro. Sem dúvida, naqueles dias distantes, esta atividade lhe emprestava grande influência (Tito 1:7) (36).
  • 4. Quando as freqüentes perseguições daquela época conseguiam disseminar o rebanho, os membros buscavam dos anciãos orientação. Por certo a função de ancião-presidente como superitendente geral foi realçada pelas necessidades dêsses dias de perplexidades. Com efeito, tão notória era a dependência dos membros da igreja de seus superintendentes, que as autoridades de Roma pagã o perceberam e logo dirigiram suas perseguições contra êsses dirigentes. Assim aconteceu até findar a última perseguição de Diocleciano (37).
  • 5. Não deve haver sido extensa entre os cristãos a circulação dos exemplares das Sagradas Escrituras. Não havia prelos naqueles tempos, e o processo de copiar tornava-se dispendioso. Portanto, só deve haver existido exemplares das Escrituras no lar de uns poucos membros das igrejas cristãs primitivas. Talvez os poucos que possuíam algum dinheiro devem haver conseguido alguns exemplares. Pode ser que os anciãos das cidades mais pequenas hajam possuído algumas porções. Porém para conseguir exemplares completos das Escrituras, sem dúvida terá sido necessário buscá-los na casa do ancião-presidente, o superintendente, nas igrejas das cidades grandes. A êle ter-se-á consultado quanto às doutrinas, e pedido conselhos acêrca das heresias. (38) Por isso mesmo o superintendente da igreja logo se converteu num árbitro em assuntos de heresia. Isso não sòmente aumentou em grande me-dida a autoridade do superintendente, mas também capacitou os bispos posteriores a suplantar quase completamente os dons proféticos e de ensino existentes entre os homens dotados do Espírito. Cêrca do ano 150 A. D. êsses homens dotados do Espírito tendem a desaparecer, e os superintendentes, ou bispos, desempenham suas funções.

Cipriano menciona em seus escritos uma poderosa ordem de bispos, cêrca do ano 250 A. D. (39) O período episcopal foi grandemente favorecido pela legalização do cristianismo, realizada por Constantino, no ano 313 A. D.

Nunca poderá ser salientado em demasia a circunstância de que quaisquer que fôssem os poderes que os bispos fôssem conquistando, também os ia adquirindo o bispo de Roma. À medida que as funções administrativas da igreja se foram convertendo mais e mais em assunto de autoridade, a do bispo de Roma crescia juntamente com a de seus colegas. Não só isso: por duas razões importantes o poderio do bispo de Roma cresceu mais ràpidamente que o dos superintendentes de outras cidades:

  • a. Roma era a capital de vasto império. Era a sede do govêrno da maior potência que o mundo conhecera até então. Não somente a política, mas o comércio, a arte, a cultura, a literatura, a filosofia e os cultos religiosos concentravam-se, todos, mais ou menos, na cidade de Roma. A ela acudiam os homens como se constituísse a fonte de tôdas as coisas interessantes e úteis para a humanidade. De maneira inevitável, os cristãos foram levados a considerar Roma com o mesmo critério com que o faziam os demais. Por isso mesmo, o poder e a influência do bispo de Roma aumentou, graças à sua presença na capital do império.
  • b. Havia no império outras grandes cidades. As igrejas cristãs de numerosas cidades haviam sido fundadas por apóstolos, tal como pretendia para si a igreja de Roma. Não assim no ocidente. Na Europa ocidental, Roma não tinha rival como cidade, e a igreja de Roma não tinha rival que pretendesse possuir origem apostólica. Jerusalém, Éfeso, Antioquia e Alexandria podiam, tôdas, provar que haviam sido fundadas por apóstolos, mas essas igrejas estavam situadas no oriente. No ocidente, só Roma podia pretender com certa esperança de êxito, origem apostólica. Essa sua pretensão, com base em Pedro, tem sido reafirmada em tôda oportunidade possível, a ponto de os papas parecerem pretender uma espécie de reincarnação física do apóstolo pescador.

E essa assim chamada igreja apostólica que pretende ser o paradigma da ortodoxia, em realidade foi a sistematizadora e a propagadora da apostasia, que com rapidez demasiada se estendeu pela igreja em geral.

Apostasias Primitivas

Convém ter em conta que as primeiras apostasias, como a que deu em resultado o surgimento do episcopado e o papado, eram princípalmente apostasias formais. Êsse fato não deve, porém, impedir-nos de perceber a seriedade das primitivas apostasias. Surgiram cedo, cinqüenta anos após a morte do apóstolo João, e aplicaram golpes nos próprios fundamentos da fé. Não pode haver apostasia formal sem ter antes havido apostasia de idéias, pôsto que a forma da religião, se conserva algum significado, é a expressão de uma idéia religiosa. As formas são exaltadas com importância pela fôrça do conceito teológico que as conforma.

A Sucessão Apostólica

Dêsse modo, o desenvolvimento do episcopado, embora gradual, foi rápido, e aquivaleu a uma transformação fundamental no conceito da própria igreja, o de que era uma comunidade sob a chefia de Cristo. Paulatinamente se foi convertendo em uma monarquia, com a intervenção de bispos, como dirigentes eclesiásticos, entre Cristo e os membros de Seu corpo. Êste conceito não é bíblico. Quando o episcopado se transformou em sacerdotal, consumou-se a apostasia.

O mesmo aconteceu com outros conceitos e práticas. O bispo Irineu, de Gália, grande defensor da igreja contra a heresia, insiste em que a verdade deva ser encontrada entre os bispos das igrejas fundadas pelos apóstolos, quem — segundo êle — transmitem a verdade a seus sucessores. (40) Esta teoria, não sòmente lançou o fundamento para a doutrina da sucessão apostólica, como constituiu também a base débil para a tradição autoritária. Tertuliano, bispo da África do Norte, deu a essa idéia maior amplitude com dizer que: as Escrituras não são suficientes para combater a heresia; deve-se depender da tradição. (41) Enumera êle meia dezena de práticas, inclusive métodos de observar o dia do Senhor (domingo) e fazer o sinal da cruz, as quais, embora sem base bíblica, provam, segundo êle, que a tradição é válida, pois a igreja pratica êsses costumes. (42)

A Adoção de Prática Pagãs

Com efeito, os argumentos dos clérigos de séculos posteriores surgiram da seguinte maneira: Adoramos o Deus verdadeiro e Seu Filho Jesus Cristo. Portanto, possuímos a verdade, e esta é honrada por qualquer prática que sigamos, enquanto adorarmos o verdadeiro Deus. Êste pensamento é bem expresso pelo cardeal Newman, da maneira seguinte:

“Confiando, pois, no poder do cristianismo para resistir à infecção do mal, e transmutar os próprios instrumentos e acessórios do culto aos demônios para uso evangélico, e sentindo que essas práticas haviam surgido orginalmente de revelações primitivas e de instintos outorgados pela natureza, embora corrompidas: e que deviam inventar o de que necessitavam, se não usassem o que haviam encontrado; e que mais ou menos estavam de posse dos próprios arquetipos, dos quais o paganismo apresentava as sombras; os dirigentes da igreja dos tempos primitivos estavam preparados, ao surgir a ocasião, para adotar, imitar ou sancionar os ritos e costumes existentes no povo, bem como a filosofia das classes cultas”. (43)

As mutações foram produzidas, portanto, graças a mudanças internas e acréscimos externos. O cardeal Newman faz, com tôda a franqueza, uma lista de doze ou mais costumes que gradualmente foram introduzidos na igreja, provenientes do paganismo: “Não é necessário ocupar-se de tema que a diligência dos escritores protestantes nos tornou bastante conhecidos. O uso de templos, dedicados em ocasiões a santos definidos e, nalgumas oportunidades adornados com ramos de árvores; o incenso, as lâmpadas e as velas; as ofertas votivas, dadas pela cura de alguma enfermidade; a água benta; a reclusão eclesiástica; os dias e períodos sagrados, o uso de calendários, as procissões, a bênção dos campos; os paramentos sacerdotais, a tonsura, o anel matrimonial; o voltar-se para o oriente, as imagens, mais tarde, provavelmente as ladainhas, e o Kyrie Eleison, são todos de orgime pagã e santificados pela adoção no seio da igreja. (44)

A Mudança do Batismo

A maneira de batizar sofreu logo modificação e, juntamente com ela, a compreensão de seu significado. Por volta do ano 150 A. D. havia sido introduzida a imersão tríplice e, juntamente com a imersão, era praticado o aspergimento. (45) Cêrca do ano 225 A. D., havia sido estabelecido um ritual complexo para o batismo. (42) Na mente de alguns daquele tempo, o batismo convertera-se em sacramento salvador, cujo valor consistia, não na prova de fé da parte de quem o aceitava, mas no ato batismal em si mesmo. Por volta do ano 225, A. D., Orígenes advogou o batismo de crianças, a fim de salvarem-se da condenação que sofreriam por motivo do pecado orginal que haviam herdado. (46) Para êle o batis-mo chegara a ter eficácia, embora sem a fé da parte de quem era batizado. Ao passo, porém, que era defendida a natureza sacerdotal do batismo, atribuia-se-lhe cada vez menos importância na forma de administrá-lo. Êste é um processo normal nos períodos de transição religiosa. Quando, porém, um sacerdote evolve ao ponto de pretender administrar ritos salvadores, encontramo-nos face a face com a apostasia.

O Ritualismo Eucarístico

Os cristãos, em lugar de celebrar a Ceia do Senhor cada vez que se reúnem para comer juntos, como acontecia na igreja apostólica (Atos 2:42; 20:7 e I Cor. 11:25 e 26) 47, transformaram-na paulatinamente num rito formal. Cêrca do ano 150, A. D., havia-se convertido num culto de ação de graças (48), celebrado em Roma no domingo. (49) Logo foi chamado sacramento, ou juramento, como se consistisse numa promessa feita a Cristo. (50) Pouco depois foi chacado sacrifício. (51) Nos séculos seguintes falou-se com ênfase sempre crescente da presença real no pão e no vinho, mas ainda não está bem claro quanto a qual era a significação teológica atribuída a essas idéias. A doutrina da transubstanciação surgiu mais tarde. (52) Quando, porém, o pão da mesa do Senhor foi convertido em Seu sacrifício necessário para a salvação, encontramo-nos uma vez mais face a face com a apostasia.

A Veneração dos Santos

Em vão buscamos entre os padres um escritor que se atenha claramente à doutrina bíblica do estado inconsciente dos mortos, e isto nos permite com-preender por que não houve impugnação da idéia da veneração dos mártires.

Nos dias de Tertuliano, isto é, no ano 225 A. D., celebravam-se cultos junto à tumba dos mártires (42); e ao tempo de Gregório Taumaturgo (milagreiro), que morreu cêrca do ano 270 A.D., distribuiam-se partes (relíquias) do corpo dos mártires em diversos lugares, e os cristãos congregavam-se para a realização de festas, e marcavam ocasiões definidas para honrar êsses mártires. (53) Fàcilmente se seguiu, depois disto, a oração aos santos e o culto das imagens.

O Culto das Imagens

O culto das imagens foi introduzido gradualmente. O concilio espanhol de Elvira proibiu, no ano 305 (54), as pinturas murais nas igrejas, e só no século V, Agostinho, com reprovação (55), e Paulino de Nola, com aprovação (56), mencionaram o uso amplo feito no ocidente da pintura de personagens bíblicos e mártires, bem como de símbolos da Trindade nas paredes das igrejas. Já no século VIII, quando surgiu no oriente uma terrível controvérsia contra as imagens, a igreja de Roma estava preparada para tomar posição, como efetivamente o fêz, contra os iconoclastas e em favor das imagens. Uma das razões que pode haver tido o papa para coroar Carlos Magno, no ano 800 A. D., foi opô-lo à imperatriz Irene de Constantinopla (57), que, talvez, era considerada débil demais para enfrentar os iconoclastas orientais. A firme defesa pela igreja de Roma do culto das imagens, explica a eliminação, de teu catecismo, do segundo mandamento do Decálogo.

A Mudança de Atitude Para com a Lei de Deus

Para compreender quão livremente a igreja primitiva adotou ou rejeitou os dias de celebração religiosa, necessário é estejamos a par da atitude dessa igreja para com a lei de Deus. A lei de Deus era santa e obrigatória para os cristãos, mas, tal como foi dada no Sinai, continha elementos cerimoniais judaicos que a igreja podia deixar de lado e efetivamente abandonou (58). Dêste modo foi considerado judeu o sábado, e abandonado paulatinamente. Podiam ser mantidos outros dias de culto ou, ainda, introduzidos alguns novos, segundo conviesse à prática cristã corrente.

A Observância do Domingo

O uso do primeiro dia da semana — conhecido vulgarmente por Dia do Sol — como dia de culto cristão, constitui uma das apostasias mais notáveis produzidas no seio da igreja de Roma, Começou-se a usar o domingo para o culto semanal dos cristãos, em Roma, cêrca do ano 155 A. D.

Haviam os primitivos cristãos herdado dos judeus, não apenas a observância do sétimo dia da semana, que Cristo observou (S. Luc. 4:16; S. Mat. 12:12; S. Mar. 1:21-34), mas também, e apesar da advertência de Paulo aos gálatas quanto ao perigo de guardar,“dias, e meses, e tempos, e anos” (Gál. 4:10), a observância de certas festas anuais judaicas. A Páscoa, no dia 14 de Nisã, e o Pentecostes, no sexto dia do mês Sivã, foram algumas das festas especialmen-te mantidas. (Atos 20:6 e 16; I Cor. 16:8). (59) A significação, para os cristãos, desta última festa aprofundou-se com a lembrança da descida do Es-pírito Santo sôbre os apóstolos em Jerusalém, nesse dia. A Páscoa foi reverenciada pelos cris-tãos devido a haver Cristo morrido sôbre a cruz, na tarde de sexta-feira, 14 de Nisã, ao mesmo tempo em que os judeus imolavam o cordeiro pascoal. Nessa mesma noite de sexta-feira que Cristo passou no sepulcro, estiveram os judeus comendo o cordeiro pascoal (Êxo. 12:6; Lev. 23:5; S. João 19: 14 e 31). (60)

Chegou a ser tradicional entre os cristãos primitivos, tanto judeus como gentios, a recordação da crucifixão de Cristo na época em que os judeus entravam em seu período pascoal. Os cristãos adotaram dos judeus o cômputo da data, e reuniam-se nas residências ou em locais alugados (não havia naquela época edifícios de igrejas) ao mesmo tempo em que os judeus se reuniam para celebrar a Páscoa. Não há na Bíblia uma única palavra que autorize êsse costume.

Certo escritor do ano 200 A. D., no diz que êsse costume começou no tempo dos apóstolos Felipe e João. (61) Dirse-ia que alguns cristãos só guardavam o dia 14 de Nisã. Outros feriavam desde a data da crucifixão até à da ressurreição. Outros mais havia que guardavam todo o tempo em que os judeus feriavam, (62) que era a festa dos pães asmos, prescrita na lei de Moisés (Êxo. 12:1-20; 23:14 e 15; 34:18; Lev. 23:5-14; Núm. 28:16-25; Deut. 16:1-8), que vai de 15 até 21 de Nisã.

Tôda a celebração se concentrava, porém, no dia da crucifixão, 14 de Nisã, quando “Cristo, nossa páscoa” (I Cor. 5:7) morreu pelos pecadores. Ob-servavam-na sem maior preocupação para com o dia da semana em que caísse, da mesma maneira em que os cristãos da atualidade celebram o Natal, sem ter em conta o dia da semana em que cai.

A igreja de Roma tratou de mudar êsse costume, induzindo todos os cristãos a, anualmente, celebrarem, não a crucifixão, mas a ressurreição; (63) e não no dia 14 de Nisã, independentemente do dia da semana ou do mês em que caísse, mas sempre no domingo, primeiro dia da semana. A igreja de Roma triunfou nessa emprêsa.

O motivo que a igreja de Roma invocou para impor essa observância foi que Cristo ressuscitara nesse dia. (64) Essa observância teve início no período de Sixto, (65) que foi papa (66) ou dirigente da igreja de Roma cêrca do ano 125 A. D.

A princípio essa observância não foi semanal; nem ocorria cada semana depois do sábado, como mais tarde e como hoje. Era anual.

Por que efetuou a igreja de Roma essa mudança? Um dos motivos foi o seu antijudaísmo, antepassado do anti-semitismo hodierno. Os judeus sempre se haviam oposto ao cristianismo. Rejeitaram a Jesus quando estêve na Terra. Fizeram-nO crucificar pelas mãos dos romanos (S. Mat. 27:22-26). Desacreditaram Sua ressurreição (S. Mat. 28:11-15). Perseguiram a igreja do Novo Testamento (Atos 4:1-3; 5:17-41), até à morte, como no caso de Estêvão (Atos 7:54-60; 8:1; 9:1-3). Induziram as autoridades pagãs de Roma a perseguirem os cristãos, e efetivamente contaram dêles coisas tão terríveis que as multidões das cidades foram incitadas à violência sangrenta contra os seguidores de Cristo. (67) Tertuliano chamava às sinagogas “fontes de perseguição.” (68)

Os cristãos, porém, por motivos políticos, tinham razão para temer os judeus. Êles sempre haviam constituído um problema para seus vencedores romanos. Como povo “escolhido” de Deus, sentiam-se profundamente ressentidos por governá-los gentios desprezíveis, e rebelavam-se continuamente. Lutaram contra Herodes, quando tratou de assumir o trono dos judeus com base num acôrdo do Senado Romano. (69) Conseguiram a destituição de Arquelau, filho de Herodes, e não sem causa, como dirigente de Jerusalém, (70) e conseguiram que o procurador romano ocupasse o seu lugar. (71) Sua amarga inimizade para com os romanos ressalta evidentemente dos Evangelhos.

Em Atos 18:2, é-nos dito que todos os judeus foram expulsos de Roma. No ano 66 o espírito rebelde dos judeus indu-los a provocar uma furiosa revolta, que resultou na destruição da cidade de Jerusalém e na morte de milhares de judeus, no ano 70 A. D. (72) Daí em diante suportaram o estigma de ser considerados um problema político do Império. Houve outro levante cêrca de quarenta anos mais tarde, (73) não tão sério nem tão amplo, mas pioraram as boas relações entre o Império e o judaísmo.

Cêrca da época em que o papa Pio VI começou a insinuar uma mudança na festa primaveril dos cristãos, produziu-se a pior de tôdas as revoluções. Durante vários anos do reinado de Adriano, e em zona bem ampla do Império Romano, os judeus estavam em revolução. Milhares e milhares dêles foram mortos; milhares, expulsos. Jerusalém foi uma vez mais destruída completamente. Sôbre o desolado local em que antes se encontrava, passou-se o arado em forma simbólica, e decretos romano proibiram a todo judeu que de novo pusesse os pés sôbre êsse lugar. Mais tarde procederam os romanos à sua reconstrução como cidade inteiramente gentílica. (74)

Os cristãos da cidade de Roma temiam especialmente que fôssem confundidos com os judeus. Sabia-se que provinham do judaísmo e que algumas de suas práticas e observâncias eram semelhantes às dos judeus. O papa Pio VI teve boa razão política para insistir em que a igreja rejeitasse uma festividade que caía na Páscoa judia, para, em substituição a ela, ter uma festa primaveril que caísse em domingo, em vez de no 14 de Nisã. A igreja tratou de evitar que fôsse confundida com o judaísmo.

“Com o fito de preparar o caminho para a realização de seus fins, Satanás induziu os judeus, antes do advento de Cristo, a que sobrecarregassem o sábado das mais rigorosas exações, tornando-lhe a observância uma carga pesada. Aproveitando-se da falsa luz sob que o fizera considerar, fê-lo desprezado como instituição judaica. Ao mesmo tempo que os cristãos continuavam geralmente observando o domingo como alegre dia de folga, induzia-os o diabo a fazer do sábado dia de jejum, tristeza e abatimento, para mais agravar o ódio ao judaísmo.” (75)

Ao insistir, porém, o papa no dia da ressurreição, estava em realidade aderindo ao dia do Sol. Durante séculos fôra a primavera uma época especial para o culto anual do Sol. (76) Davam os astrólogos o nome de dia do Sol ao primeiro dia da semana judaica, e os adoradores do Sol, segundo nô-lo diz Tertuliano, costumavam mussitar suas orações nesse dia, em adoração do Sol, estando com a face voltada para o oriente no momento de amanhecer. (77)

A primeira hora do Dia do Sol era empregada na adoração dêsse astro; tal como era a primeira hora do dia da Lua dedicada à Lua, (78) e assim sucessivamente, no ciclo dos sete dias dedicados respectivamente a Marte, Mercúrio, Júpiter, Vênus e Saturno, (79) coincidindo Saturno com o sétimo dia, o sábado. (80)

O adorador do Sol, convertido ao cristianismo, não se sentia fôra de lugar na festa da primavera, que o papa Pio VI começava a impor, porque tanto caía numa época como num dia que, por ser êle adorador do Sol, lhe eram familiares. A insistência do papa em que a ressurreição e não a crucifixão, devesse ser celebrada na primavera, e não no dia 14 de Nisã, mas no domingo — dia da ressurreição — punha os cristãos, mediante certo estratagema eclesiástico, por assim dizê-lo, na contingência de honrar o dia do Sol.

Cêrca de vinte anos depois da época do papa Pio VI, quando Policarpo, chefe da igreja de Esmirna e famoso mártir, visitou a igreja de Roma, nada sabia da festa da ressurreição nem da guarda do domingo. Êle e o papa Aniceto, de Roma, examinaram o assunto, mas cada qual decidiu seguir o costume que estivera adotando até então. O papa Aniceto declarou que seu costume remontava ao tempo de Sixto, e Policarpo disse que o seu remontava à época dos apóstolos. (81) “Concordaram em discordar.”

Uma fonte considerada apócrifa, o “Liber Pontificalis”, declara que cêrca dessa época um irmão do papa Pio I, de nome Hermas, tivera um sonho em que um anjo vestido de pastor lhe apareceu e instruiu no sentido de que “a santa festa da Páscoa deveria ser observada no dia do Senhor.” (82)

Podemos duvidar do sonho, sem ter porque duvidar do uso que Pio fêz desta história!

Roma, porém, não deixou o assunto da observância do domingo como festividade anual somente. Outro passo na observância do domingo foi dada entre os anos 125 e 150 A. D. Justino Mártir, em escrito de cêrca do ano 155 A.D., diz-nos:

“E no dia chamado domingo, todos quantos vivem nas cidades e no campo se reúnem num lugar, e são lidas as memórias dos apóstolos, e os escritos dos profetas, quanto o permita o tempo; e ao terminar a leitura, o presidente instrui verbalmente e exorta à emulação dessas boas coisas. Então, todos nos pomos de pé e oramos e, como ficou dito, ao terminarem as nossas orações, são trazidos pão, vinho e água, e o presidente faz orações semelhantes, bem como ações de graças, segundo a sua capacidade, e o povo confirma com um amém, e então é distribuído a todos, e todos participam daquilo sôbre que foi pedida a bênção, e aos que estão ausentes são reservadas porções que se lhes envia por meio dos diáconos. E os que estão dispostos e são voluntários, dão o que consideram conveniente; e o que é recolhido é entregue ao presidente, que socorre os órfãos e as viúvas, e a todos quantos, por motivo de enfermidade ou outro qualquer passam necessidade, e aos que jazem em prisões, e aos estrangeiros que se encontram entre nós, e, numa palavra, cuida de todos os que sofrem necessidade. O domingo é o dia em que celebramos nossas assembléias em comum, por ser o primeiro dia em que Deus, havendo produzido uma mudança nas trevas e na matéria, fêz o mundo; e Jesus Cristo, nossa Salvador, nesse mesmo dia saiu do sepulcro.” (49)

Justino escreveu sua “Apologia” ao imperador Antônio Pio, e nela ressaltou que êsse ato de culto cristão era realizado no dia do Sol. Estava êle em Roma ao escrever isso e descrevia a observância semanal do domingo na igreja de Roma e nas igrejas circunvizinhas que estavam sob sua influência. Parte da “Apologia” que trata do culto cristão do domingo, encontra-se no contexto da comparação que estabelece entre o cristianismo e o mitraísmo.

Justamente como ocorreu a modificação da observância anual do domingo para o culto semanal dêsse dia, não está bem claro, mas fato é que isso aconteceu, e que o fêz Roma.

Com o pretexto de honrar a bendita ressurrei-ção de nosso Senhor, Roma honrou realmente o dia do Sol. A êsse respeito escreve E. G. White:

“Vi que Deus não mudou o sábado, porque Êle nunca muda. O papa, porém, mudou-o do sétimo para o primeiro dia da semana; porque haveria de mudar os tempos e a lei.” (83)

“O papa mudou o dia de repouso, do sétimo para o primeiro dia. Cuidou em mudar o próprio mandamento que foi dado ao homem para que lembrasse do seu Criador. Pensou em mudar o maior mandamento do Decálogo, e dêsse modo tornou-se igual a Deus, e até exaltou-se acima de Deus. O Senhor é imutável; portanto. Sua lei o é também; mas o papa exaltou-se acima de Deus ao tratar de modificar Seus imutáveis preceitos de santidade, justiça e bondade. Pisou a pés o dia santificado de Deus, e, estribado em sua própria autoridade, pôs em seu lugar um dos seis dias de trabalho.” (84)

“Os católicos romanos reconhecem que a mudança do sábado, como dia de repouso, foi efetuada pela sua igreja, e declaram que, ao observarem o domingo, os protestantes reconhecem a autoridade dela … A igreja romana não renunciou às suas pretensões à supremacia; e quando o mundo e as igrejas protestantes aceitam um dia de repouso de criação dela, ao passo que rejeitam o sábado como dia bíblico de repouso, acatam virtualmente essa pretensão.” (85)

Como o papa assim procedeu, ilustra-o o ato do papa Vítor, levado a cabo cêrca do ano 200 A. D., mediante o qual tratou de impor a observância anual do domingo. Viu êle que a pressão suave da parte de Roma em favor do domingo não tinha todo o êxito que era de desejar-se. Com base na exaltação do seu cargo, ordenou que, se não seguissem o plano de Roma de celebrar êsse dia de folga, fôssem excomungados todos os bispos. Nos primeiros tempos nenhuma igreja reconheceu, fora da Itália, a autoridade do papa (de fato, a sede papal nem sempre foi honrada nem sequer em tôda a Itália). Vítor, porém, assumindo autoridade ge-ral que mais tarde os papas trataram de exercer em forma crescente, tratou de legislar para tôda a cristandade. E fê-lo no interêsse do domingo. Fracassou em seu plano de excomungar os bispos, mas não no respeito que alcançou em favor do dia do Sol. (86)

O intento do papa Vítor de excomungar os que não quiseram honrar o dia da ressurreição na festa anual da primavera, ilustra mais que nenhuma outra coisa, a espécie de pretensões que o bispo de Roma estava arrogando-se nessa época, e que mais tarde se arrogaria também; bem como nos revela a data, tão próxima do tempo dos apóstolos, em que essas pretensões surgiram. E a observância do domingo, como devemos notar, foi o veículo que o papa empregou em seus primeiros intentos de engrandecimento.

Que é correto levar à conta da igreja de Roma esta mudança, testifica-o Sócrates, hábil historiador da igreja, que, cêrca do ano 450 A. D., escreveu: “Porque, se bem que quase tôdas as igrejas do mundo celebrem os sagrados mistérios no sábado de cada semana, os cristãos de Alexandria e de Roma, com base nalgumas tradições antigas, deixaram de fazê-lo.” (87) (Grifo nosso.)

Sem dúvida as “antigas tradições” eram a pressão que os papas Sixto, Pio, Aniceto e Vítor haviam exercido sucessivamente para que o domingo fôsse honrado.

Vai nisso um exemplo notável, em vista de Dan. 7:25, em que o papado realizou sua própria e singular apostasia. De quase tôdas as outras apostasias, gerais na igreja secularizada, participou a igreja de Roma, especialmente no tocante às formas e práticas, muitas das quais adotou do paganismo. Como cabeça de uma igreja que se paganizava mais e mais, surgiu o poder papal.

A Igreja Sacerdotal

A combinação de conceitos tais como o episcopado, um batismo necessário para a salvação e a Santa Ceia transformada em sacrifício, haveria de efetuar transformação integral na igreja. O produto de tudo isso foi uma igreja sacerdotal com bispos — e o clero que controlava — atuando como sacerdotes em sentido mediatório e o batismo e a eucaristia transformados em meio de salvação no significado ritual da palavra.

Dêsse modo, cêrca do ano 400 A. D., a igreja em geral, e particularmente a de Roma, haviam-se convertido num culto de mistérios, no estilo pagão. E pelo ano 500 da mesma era, convertera-se numa religião de sacerdotes e sacramentos, tal como qualquer das outras religiões pagãs que a circundavam. (88)

Com efeito, naquela época, o paganismo convertera-se em objeto de perseguição da parte do Estado e da igreja, e entrincheirara-se nos distritos rurais; e o cristianismo apóstata se transformara em favorito de um govêrno corruto, e de multi-dões apenas afloradas pelas verdades do cristianismo e menos ainda relacionadas com seu divino Fundador: multidões que ingressavam na igreja e nela introduziam muitas de suas superstições e práticas pagãs.

(Continua.)

Bibliografia

  • (1) The Catholic Encyclopedia identifica êste “homem do pecado” com a “ponta pequena” de Daniel 7. — A. J. Maas, Antichrist, Vol. I, pág. 560.
  • (2) Comodo, Instruções, cap. 41, em The Ante-Nicene Fathers (Os Pais Antenicenos.) Traduções dos escritos dos Pais até ao ano 325 A. D. (Daqui em diante nos referimos a êste livro com as ini-ciais P. A. N.) Vol. VI, págs. 210 e 211; Victo-riano, Comentário Sôbre o Apocalipse do Bendito João, cap. 17, em P. A. N., Vol. VII, págs. 357 e 358.
  • (3) Cyclopaedia of Biblical, Theological and Ecclesiastical Literature, Vol. I, pág. 259, artigo An-tichrist. John C. L. Gieseler, Tex-Book of Church History (1865), traduzido por Henry B. Smith, Vol. VII, pág. 133.
  • (4) Cyclopaedia of Biblical, Theological and Ecclesiastical Literature, Vol. I, pág. 257.
  • (5) Ibidem.
  • (6) Irineu, Against Heresies (Adversus Haereses), Vol. V, caps. 25-38, em P. A. N., Vol. I, págs. 553-560; Tertuliano, Against Marcion (Adversus Marcion), cap. 16, em P. A. N., Vol. III, págs. 463 e 464.
  • (7) William E. Blackstone, Jesus is Coming, (3a. ed.), págs. 185 e 209.
  • (8) «Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, pág. 25.
  • (9) Idem, O Conflito dos Séculos, pág. 624.
  • (10) Ibidem, pág. 673.
  • (11) Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, págs. 56, 57, 61 e 62.
  • (12) Idem, O Conflito dos Séculos, pág. 438.
  • (13) As sucessivas quedas de Satanás, sua expulsão do Céu, seu confinamento à Terra e sua destruição final podem ser notadas claramente nos seguintes lugares:
    • a. Sua queda espiritual da justiça, quando foi achada nêle iniqüidade. (Isa. 14:12-14; Eze. 28:12-17; Patriarcas e Profetas, págs. 23-34.)
    • b. Sua expulsão do Céu com os anjos caídos, e sua “tartarização”, por assim dizê-lo, ou confinamento ao tártaro. (II S. Ped. 2:4; S. Luc. 10:18; Apoc. 12:3 e 4.) Depois de haver induzido a humanidade a obedecer-lhe, apareceu nos concílios do Céu como representante desta Terra. (Jó 1:6-12; 2:1-7; S. João 14:30; Patriarcas e Profetas, págs. 73-76.)
    • c.  Foi lançado por terra quando Cristo selou, para sempre, Sua vitória sôbre o pecado e a morte por ocasião de Sua ascenção, e expulsou dos Céus a Satanás e seus anjos. (Apoc. 12:7-13; S. João 12:31.)
    • d. Sua vinda voluntária à Terra no fim dos tempos como falso rei e falso cristo, especialmente como o anticristo apresentado em II Cor. 11:14 e II Tess. 2:8, onde, evidentemente não é apresentado um sistema, ou grupo, mas uma pessoa má. (O Conflito dos Séculos, pág. 624.)
    • e. O fato de que será lançado à Terra e ali mantido, para que não mais engane; não sòmente por estar a Terra desolada, mas por estar êle impedido de abandoná-la. (Apoc. 20:14.)
    • f. A circunstância de ser lançado na massa fundida da Terra (II S. Ped. 3:10), ou “lago de fogo” de Apoc. 20:10, onde sofrerá mais que ninguém e será destruído sem que lhe seja possível reabilitar-se nem mais regressar. (Early Writings, pág. 291; O Conflito dos Séculos, pág. 673.)
  • (14) Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, págs. 100 e 101.
  • (15) Ibidem, págs. 127-129,  133,  134, 280 e 367; Prophets and Kings, págs. 363, 366, 501, 531-535, 600 e 601.
  • (16) “Pedro faz menção de Marcos, em sua primeira epístola, a qual, sustém-se, foi escrita em Roma, e isso dá-o a entender Pedro, que, figuradamente, chama Babilônia à cidade de Roma, com estas palavras: ‘A vossa co-eleita em Babilônia vos saúda, e meu filho Marcos’.” — Eusébio. História Eclesiástica, Vol. II, cap. 15, Editorial Nova, Buenos Aires, 1950.

Jerônimo, Vidas de Homens Ilustres (em inglês), cap. 8, em Pais Nicenos e Pós-Nicenos (em inglês) (daqui para diante abreviaremos P. N. P. N.), 2a. série, Vol. III, pág. 364; e Di Bruno: “Devo esclarecer que entre os primeiros cristãos Roma pagã foi designada, amiúde, pelo nome de Babilônia, e isso, naturalmente, especialmente entre os judeus conversos, que viam a grande semelhança existente entre as duas capitais no que concerne à sua vastidão, imoralidade pagã, superstição, e comum antagonismo para com o povo de Deus.

“Por êsse motivo ninguém mal-interpretou quando, no Apocalipse, São João a apresentou sob a figura de Babilônia.

“No final da primeira epístola geral de São Pedro, temos estas palavras: ‘A vossa co-eleita em Babilônia vos saúda, e meu filho Marcos’, passo em que a palavra Babilônia deve ser considerada símbolo de Roma; com efeito, não está registado, nem nas Sagradas Escrituras nem em nenhuma outra parte que Pedro ou Marcos hajam ido alguma vez a Babilônia, na Ásia; e nenhum escri-tor antigo menciona jamais que essa carta haja sido enviada realmente da antiga Babilônia, ou que assim o tenham alguns dêles entendido; ao contrá’io, regista se positivamente na história de Eusébio (Livro II, cap. XV), como que houvesse declarado Papias, discípulo de São João Evangelista e amigo de São Policarpo, que São Pedro, em sua primeira epístola, escrita em Roma, deu a Roma o nome de Babilônia em forma figurada. O mesmo pode dizer-se de São Jerônimo, em seu livro ‘Homens Ilustres’ ao falar de São Marcos.” — José Faá Di Bruno, Catholic Belief, ed. Luiz A. Lambert (Nova York: Irmãos Benziger, 1884 [impressão do cardeal McCIoskey]), págs. 323 e 324.

  • (17) Ellen G. White, Prophets and Kings, págs. 114-116; O Conflito dos Séculos, págs. 381-389 e 439.
  • (18) Idem, O Conflito dos Séculos, pág. 54.
  • (19) Ibidem, pág. 388.
  • (20) Ellen G. White, O Desejado de Tôdas as Nações, pás. 309-311.
  • (21) Eusébio, Chronicon, em Continuatio, de Jerônimo, ad, ann. 44, em Migne, Patrologia Latina, Vol. XXVII, col. 450.
  • (22) Esta é uma data muito importante, pois pode ser fixada com certeza no ano 44 A. D. O imperador Calígula morreu no ano 41 da mesma era, e Claudio ocupou o trono depois dêle. O recém-coroado imperador outorgou a Herodes Agripa I os territórios que haviam pertencido a seu avó Herodes o Grande, e deu-lhe o título de rei. Josefo, Antiguidades Judaicas, Livro XIX, cap. 5, par. 1.) Agripa morreu depois de reinar três anos, isto é, no ano 44 A. D. (Idem, cap. 8, par. 2.)
  • (23) Eusébio, História Eclesiástica, Livro III, cap. 2; cap. 4, par. 9; e cap. 20, par. 3.
  • (24) Leis e Decretos do Concilio de Trento, sessão 23a., 15 de julho de 1563, O Sacramento da Or-dem, (em inglês). Cânones 7 e 8, em Philip Schaff, Creeds of Christendom, Vol. II, págs. 192 e 193.
  • (25) Profissão de Fé Tridentina, art. I, em Philip Schaff, Creeds of Christendom, Vol. II, pág. 209.
  • (26) Ellen G. White, The Acts of the Apostles, págs. 175 e 176; Prophets and Kings, págs. 595 e 596.
  • (27) Idem, Desejado de Tôdas as Nações, págs. 350 e 351; Testimonies, Vol. IV, págs. 393 e 529.
  • (28) Idem, The Acts of the Apostles, págs. 91 e 92.
  • (29) Atos 6:3-6 e Ibidem, págs. 89-97.
  • (30) A palavra grega traduzida das duas maneiras que acabamos de ver é cheirotoneo, “estender a mão”, isto é, votar ou eleger. Relatos posteriores revelam-nos que os bispos deviam ser eleitos: Eusébio, História Eclesiástica, Livro VI, cap. 29, pars. 2-4; Cipriano, Epístola 51, pars. 8 e 54, par. 6, em P. A. N., Vol. V, págs. 329 e 341; Constituições dos Santos Apóstolos, Livro III, séc. 2, cap. 20, e Livro VIII, séc. 2, caps. 3 e 4, em P. A. N., Livro VII, págs. 432, 481 e 482; Cânones Apostólicos, Livro I, em P. A. N., Livro VII, pág. 500.
  • (31) Justino Mártir, Primeira Apologia, cap. 67 (cêrca do ano 155 A. D.) ; Tertuliano, The Chaplet, cap. 3 (cêrca do ano 225 A. D.). A palavra grega empregada por Justino Mártir, traduzida por “presidente” ou “diretor”, é ho proestos. A palavra latina que Tertuliano emprega para presidente é praesidentes.
  • (32) Inácio, em Loeb Classical Library (à qual nos referiremos daqui em diante com as iniciais L. C. L.), Os Pais Apostólicos, Vol. I, A Epís-tola aos Efésios, cap. 2, págs. 174 e 175; cap. 3, págs. 176 e 177; cap. 4, págs. 176-179; cap. 5, págs. 178 e 179; Epístola aos Magnésios, cap. 6, págs. 200-203; cap. 13, págs. 208-211; Epís-tola aos Tralianos, cap. 2, págs. 212-215; cap. 3, págs. 214 e 215; cap. 7, págs. 218 e 219; Epístola aos Filadelfos, cap. 7, págs. 244-247; Epístola aos Esmirnos, cap. 8, págs. 260 e 261; cap 9, págs. 260-263; Epístola a Policarpo, cap. 6, págs. 272-275. Quanto às dúvidas que surgem acêrca da autenticidade destas epístolas, pode consultar-se A História da Igreja Cristã, (em inglês), de Philip Schaff, Vol. II, pág. 660, que diz: “Êsses antigos documentos da hierarquia ficaram logo tão interpolados, abreviados e mutilados pela fraude piedosa, que atualmente chega a ser impossível descobrir com certeza o genuíno Inácio da His-tória sob o Inácio exagerado e falsificado da tradição.”
  • (33) Clemente, Primeira Epístola aos Coríntios, cap. 45, par. 5, e cap. 6, em L. C. L., Los Pais Apostólicos, Vol. I, págs. 88, 87, 90 e 91.
  • (34) Acêrca da Modéstia, cap. 1, em P. A. N., Vol. IV, págs. 99 e 100.
  • (35) Eusébio, História Eclesiástica, Livro III, caps. 13-15, 22, 32, 34-36; Livro IV, caps. 4 6, 10, 24-27.
  • (36) Justino Mártir, Primeira Apologia, cap. 67, em P. A. N., Vol. I, pág. 67, em P. A. N., Vol. I, págs. 185 e 186.
  • (37) Cipriano, Epístola 54, em P. A. N., Vol. V, pág. 341; Eusébio, História Eclesiástica, Livro VI, cap. 39, e Livro VIII, cap. 13, em P. N. P. N., 2a. sére, Vol. I, págs. 280, 281, 333, e 334; Teo-doreto, História Eclesiástica, Livro I, cap. 6, em P. N. P. N., 2a. série, Vol. III, pág. 43; “ O Concilio parecia um exército de mártires reunidos. ”
  • (38) Cipriano, Epístola 54, par. 5, em P. A. N., Vol. V, pág. 340.
  • (39) Cipriano, Epístola 24, par. 1, Epístola 51, par. 21; Epístola 54, pars. 2 e 5; Epístola 64, par. 3; Epístola 68, pars. 8 e 9, em P. A. N., Vol. V, págs. 305, 337, 339, 340, 366, 374 e 375; Tratado I, par. 5, em P. A. N., Vol. V, págs. 422 e 423.
  • (40) Irineu, Against Heresies, Livro III, cap. 3, pars. 1-4, em P. A. N., Vol. I, págs. 415 e 416.
  • (41) Tertuliano, On Prescription Against Heresies, cap. 19, em P. A N„ Vol. III, pág. 251.
  • (42) Tertuliano, The Chaplet, caps. 3 e 4, em P. A. M., Vol. III, págs. 94 e 95; O Conflito dos Séculos, págs. 447-449.
  • (43) João Henrique Newman, An Essay on the Deve-lopment of Christian Doctrine, págs. 371 e 378; O Conflito dos Séculos, pág. 58.
  • (44) Newman, op. cit., pág. 373.
  • (45) Didaché, cap. 7, em L. C. L., The Apostolic Fathers, Vol. I, págs. 318 e 321.
  • (46) Orígenes, Oitava Homilia Sôbre Levítico, cap. 3, Migne, Patrologia Graeca, Vol. XII, col. 496; Homilia Sôbre Lucas, cap. 14; Patrologia Graeea, Vol. XIII, col. 1.835; Comentários Acêrca da Epístola aos Romanos, Livro V, cap. 9, Patro-logia Graeca, Vol. XIV, col. 1.047. Cipriano, Epístola 58, em P. A. N., Vol. V, págs. 353 e 354, Gregório Nacianzeno, Oração do Santo Batismo, caps. 17, 23 e 28, em P. N. P. N., 2ª. sé-rie, Vol. VII, págs. 365, 367, 368 e 370; Am-brose, Expositio in Lucam, Livro I, par. 37, ad. 8. Luc. 1:17, em Migne, Patrologia Latina, Vol. XV, col. 16, e 28; Augustina, Tratado Sôbre os Méritos do Perdão dos Pecados e o Batismo de Crianças, Livro I, cap. 23, em P.N. P. N., 1ª. série, Vol. V, pág. 24; Acêrca do Batismo e Contra os Donatistas, Livro V, can. 24; em P. N. P. N., 1a. série, Vol. IV, pág. 461; Leão I, Epístola 16, cap. 4, em P. N. P. N., 2a. série, Vol. XII, pág. 28. Deveria assinalar-se que Tertuliano não aceitou a necessidade do batismo de crianças: Quanto ao Batismo, cap. 18, em P. A. N., Vol. III, pág, 678.
  • (47) Ellen G. White, The Acts of the Apostles, pág. 391.
  • (48) Didaché, cap. 14, em L. C. L., The Apostolic Fathers, Vol. I, págs. 330 e 331.
  • (49) Justino Mártir, Primeira Apologia, cap. 67, em P. A. N„ Vol. I, págs. 185 e 186.
  • (50) Plínio o Jovem, Epístolas, Livro X, Epístola 96, em L. C. L., Plnio, Vol. II, págs. 402-405; Tertuliano, The Chaplet, cap. III, em P. A. N., Vol. III, pág. 94.
  • (51) Gregório de Nisa, Sôbre a Ressurreição de Cristo, Oração I, em Migne, Patrologia Graeca, Vol. 46, col. 611. Na primitiva Didaché é chamada sacrifício, cap. 14, em L. C. L., The Apostolic Fathers, Vol. I, págs. 330 e 331.
  • (52) A irmã Ellen G. White chama à missa “uma horrível heresia que era tôda uma afronta ao Céu”, no livro O Conflito dos Séculos, pág. 59.
  • (53) Gregório de Nisa, De Vita Gregorio Taumaturgo, em Migne, Patrologia Graeca, Vol. XXXXVI, cols. 953 e 954. Eusébio Praeparatio Evangelion, Livro XIII, cap. 2, em Patrologia Graeca, Vol. 21, cols. 1.095 e 1.096.
  • (54) Cânon 36, em Carlos José Hafele, História dos Concílios da Igreja, (em inglês), Vol. I, pág. 151.
  • (55) Agostinho, De Consensu Evangelistarum, Livro I, cap. 10, par. 16, em Migne, Patrologia Latina, Vol. XXXIV, col. 1.049.
  • (56) Frederico Corwalls Conybeare. Iconoclasts; A Enciclopédia Britânica, (11a. ed.), Vol, XIV, pág. 272.
  • (57) Ver a nota 147.
  • (58) Epístola de Barnabé, caps. 2,  3,  14 e 15, em P. A. N„ Vol. I, págs. 137 e 138, 146 e 147; Justino Mártir, Diálogo com Tríforn, o Judeu, caps. 10-12, 18 e 19, 21, 22, 33 e 39, em P. A. N„ Vol. I, págs. 199, 200, 203-206, 208 e 209; Iri-neu, Adversus Haereses, Livro IV, caps. 8, 9, 12, 13, 15, 16 18, em P. A. N., Vol. I, págs. 471, 472, 475-477, 479 485; Tertuliano, Resposta aos Judeus, caps. 2-4 e 6, em P. A. N., Vol. III, págs. 152-157.
  • (59) Ellen G. White, The Acts of the Apostles, pág. 390; Tertuliano, The Chaplet, cap. 3; Acêrca da Idolatria, cap. 14, em P. A. N., Vol. III, págs. 94 e 70; Polícatres de Esmirna, em Eusébio, His-tória Eclesiástica, Livro V, cap. 24, par. 6.
  • (60) Ellen G. White, O Desejado de Tôdas as Nações, pág. 577.
  • (61) Polícatres de Esmirna, em Eusébio, História Ecle-siástica, Livro V, cap. 24, pars. 2-8.
  • (62) Irineu de Gália, em P. N. P. N., par. 12, pág. 243.
  • (68) Eusébio, História Eclesiástica, Livro V, cap. 23, par. 1, cap. 24, par. 2.
  • (64) Idem, pág. 241. O Conflito dos Séculos, págs. 52 e 54, Early Writings, pág. 65.
  • (65) Griego, Xistos, Irineu de Gália, em P. N. P. N., cap. 24; par. 14, pág. 243; O Conflito dos Séculos, págs. 51 e 52.
  • (66) O têrmo “papa” procede do latino papa e do grego pappas, “pai”; foi um têrmo aplicado cedo a todos os bispos da igreja cristã e, mais tarde, aos abades dos mosteiros. Dictionary of Christian Antiquities, (Dicionário de Antiguidades Cristãs), Vol. II. pág. 1.652, art. “Papa”. Se bem que Cipriano se dirige aos bispos de Roma, como a “colegas” e “irmãos”, as cartas de Roma a êle se dirigem como “papa”; Epístola 29 (36) e 30, em P. A. N., Vol. V. págs. 307 e 308. Sírio, bispo De Roma usa-o (384-398) por primeira vez como um título. Epístola 6, em Migne, Patrologia Latina, Vol. XIII, col. 1.164.
  • (67) Justino Mártir, Diálogo com o Judeu Trífn, cap. 17, em P. A. N., Vol. I, pág. 293; Orígenes, Contra Celso, Livro VI, cap. 27, em P. A. N., Vol. IV, pág. 585; Tertuliano, Ad Nationes, Vol. I, pág. 14 em P. A. N., Vol. III, pág. 123; Eusébio, História Eclesiástica, Livro IV, cap. 15, par. 29, em P. N. P. N., 2a. série, Vol. I, pág. 191.
  • (68) Tertuliano, Scorpiace, cap. 10, em P. A. N., Vol. III, pág. 643.
  • (69) Josefo, Guerras dos Judeus, Livro I, caps. 14-20.
  • (70) Idem, Livro II, caps. 1-7.
  • (71) Idem, cap. 8.
  • (72) Idem, Livro II, cap. 14, Livro VII, cap. 10.
  • (73) Sob o imperador Trajano: Artur E. R. Boak, Uma História de Roma, até 565 A. D. (em inglês), pág. 264.
  • (74) Eusébio, História Eclesiástica, Livro IV, cap. 6, em P. N P. N., 2a. série, Livro I, págs. 177 e 178.
  • (75) O Conflito dos Séculos, págs. 52 e 53; Schaff, História da Igreja Cristã (em inglês), Vol. II, págs. 202 e 203.
  • (76) Santiago Jorge Frazer, Golden Hough, caps. 28-40, pág. 62.
  • (77) Apologia 16, em P. A. N., Vol. III, pág. 31; On Idolatry (Acêrca da Idolatria), cap. 14, em P. A. N„ Vol. III, pág. 70.
  • (78) Roberto Leo Odom, O Domingo em Roma Pagã (em inglês), cap. 15.
  • (79) Dia de Saturno, Dio Cassius, História Romana, Livro XXXVIII, caps. 2-4, em L. C. L„ Dio, Vol. III, págs. 124-127. Josefo, Guerras dos Ju-deus, Livro I, cap. 7, par. 3. Dia do Sol, Justino Mártir, Primeira Apologia, cap. 67, em P. A. N., Vol. I, pág. 186. Dias de Mercúrio, Sol, Lua, Saturno, e Vênus, Porfírio em Eusébio, Praepa-ratio Evangelica, Livro V, cap. 4, em Migne, Patrologia Graeca, Vol. XXI, cols. 347 e 348.
  • (80) Dio Cassius, História Romana, Livro XXII, cap. 22, par. 4, em L. C. L., Dio Cassius, Vol. V, págs. 386 e 387. Dio, idem, Livro XXXVII, cap. 16, págs. 2-4, em L. C. L., Dio, Vol. III, págs. 124-127, com Josefo, Guerras dos Judeus”, Livro I, cap. 7, par. 3.
  • (81) Irineu, em Eusébio, História Eclesiástica, Livro V, cap. 24, pars. 16 e 17, em P. N. P. N., 2a. série, Vol. I, págs. 243 e 244.
  • (82) Livro dos Papas, “Pio I”, transcr. de Loomis, págs. 14 e 15.
  • (83) Early Writings, pág. 33.
  • (84) Idem, pág. 65.
  • (85) O Conflito dos Séculos, págs. 447 e 448. (Ver as págs. 53 e 54.)
  • (86) Irineu, em Eusébio, História Eclesiástica, Livro V, cap. 24, pars. 9-11.
  • (87) História Eclesiástica, Livro V, cap. 22, 2a. série, Vol. II, pág. 132.
  • (88) No tocante às funções sacerdotais do sacerdote, outorgadas por meio do bispo, ver As Constituições dos Santos Apóstolos, Livro III, sec. I, cap. 10, em P. A. N., Vol. VII, pág. 429; para ter visão cabal, ver o que escreve Eduardo Gibbon, The History of the Decline and Fall of the Roman Empire (A História da Decadência e Queda do Império Romano), cap. 50, par. 13.