J. L. SHULER
Yucaipa, Califórnia
SÃO os adventistas do sétimo dia apenas inovadores, com idéias imaginárias e doutrinas pervertidas e errôneas? Muitos que pertencem a outras denominações infelizmente não compreendem devidamente o caráter verdadeiro do evangelismo adventista do sétimo dia. Pensam êles que os nossos ensinos datem de 1844. Também fazem alarde em tachar-nos de “legalistas”, afirmando que os nossos ensinos invalidam a graça. Isso os leva à conclusão de que tôda a nossa atividade de evangelismo não passa de proselitismo e “furto de ovelhas”.
Ao enfrentarmos essa situação em nosso evangelismo, precisamos estudar o planejamento de nossa pregação de maneira tal que ajude a anular êsses conceitos errôneos e preparar o caminho para incrementar o aumento dos ouvintes da nossa mensagem e a sua mais vasta aceitação. A quem recorreremos em busca dessa guia necessária? Ela pode ser encontrada dentro da mensagem especial que Deus nos incumbiu de pregar.
O evangelismo adventista do sétimo dia muito tem em comum com o evangelismo das várias denominações evangélicas. Há certos aspectos do evangelismo adventista, porém, que o tornam diferente dos outros grupos religiosos. O característico dis-tintivo do nosso evangelismo é a nossa missão de pregar a tríplice mensagem de Apocalipse 14.
“A mensagem de Apocalipse 14 é a mensagem que devemos levar ao mundo. É o pão da vida para êstes últimos dias.” —Test. Sel., Vol. V, pág. 120.
“A tríplice mensagem angélica precisa ser apre-sentada como sendo a única esperança de salvação de um mundo que está a perecer.” — Evangelism, pág. 196.
“O tema de maior importância é a terceira men-sagem angélica, que compreende as dos primeiro e segundo anjos.” — Ibidem.
O evangelismo adventista com base nas três mensagens angélicas é a nossa carta magna de evan-gelismo. Devemos a nossa existência a essa profe-cia tríplice. Essa é a justificativa de serem os adventistas do sétimo dia um agrupamento religioso separado. Ela explica o verdadeiro motivo do nosso evangelismo. A nossa pregação — nossa obra — está cumprindo Apocalipse 14:6-12.
Visto que a tríplice mensagem é o distintivo básico do evangelismo adventista, surge naturalmente a pergunta: Que significa pregar a mensagem do terceiro anjo? Que compreende essa mensagem? Que relação mantém para com o evangelho?
A pregação da mensagem do terceiro anjo não se limita ao seu texto literal, usado pelos três anjos. Nem está limitada necessàriamente aos itens específicos mencionados na tríplice mensagem. Inclui, porém, a apresentação de tôdas as mensagens salvadoras do evangelho.
É-nos dito em Testimonies, Vol. VI, pág. 11:
“Uma grande obra há por fazer para apresentar aos homens as verdades salvadoras do evangelho. . . . Apresentar estas verdades é a obra da mensagem do terceiro anjo.”
Também, a mensagem do terceiro anjo inclui mais do que pregar a Cristo e a Sua justiça, Sua cruz, Seu sangue, Sua graça, e Seu amor. Êsses itens são supremamente importantes, e precisam ser centrais e básicos em tôda verdadeira pregação. Mas se a mensagem do terceiro anjo devesse ser limitada a êsses aspectos, então a mensagem do terceiro anjo teria sido entregue aos apóstolos bem como a todos os verdadeiros ministros de tôdas as gerações, a partir de então. Não pode haver sido êsse o caso, porque a mensagem do terceiro anjo se aplica sòmente ao tempo do fim, entre o comêço do juízo, em 1844, e a volta de Cristo, no último dia.
É significativo que a tríplice mensagem é apre-sentada como evangelho eterno, que deve ser pregado a tôdas as nações. João diz: “Vi outro anjo . . . tinha o evangelho eterno, para o proclamar. . . a tôda nação,. . . dizendo. . .: Temei a Deus,. . . porque vinda é a hora do Seu juízo” (Apoc. 14: 6 e 7). Isto esclarece bem que a tríplice mensa-gem é o evangelho eterno no prisma da hora do juízo.
Noé pregou o arrependimento e a justiça pela fé. Fizeram-no, também, João Batista, Jesus, os apóstolos, Lutero e Wesley. Cada um dêles pregou no aspecto apropriado ao seu tempo. Assim estão os adventistas pregando o arrependimento e a jus-tiça pela fé sob o prisma divinamente indicado para êstes últimos dias, conforme está especificado na mensagem dos três anjos.
Os Objetivos da Nossa Pregação
Deus apontou em Sua Palavra quatro objetivos principais, que serão atingidos por meio da pre-gação da tríplice mensagem: 1 Conclamará um povo de tôda nação para guardar os mandamentos de Deus e exercer a fé de Jesus. 2 Restaurará a fé de Jesus entre o povo de Deus. 3Ajuntará as ovelhas de Deus que andam espalhadas (Eze. 34: 11 e 12; Apoc. 18:4) e as congregará como Seu remanescente neste tempo final (Apoc. 12:17). 4 Preparará um povo para Sua segunda vinda, assim como a mensagem de João Batista preparou um povo para Deus, por ocasião do Seu primeiro advento. Êstes são os objetivos do evangelismo adventista, sob a tríplice mensagem.
Cristo e Sua justiça têm sido o coração e o centro de tôda revelação concedida por Deus. Assim, Cristo e Sua justiça são o centro e o coração da mensagem do terceiro anjo. Por isso se refere a irmã White à justificação pela fé como sendo “em verdade a mensagem do terceiro anjo” — (Evangelism, pág. 190).
A tríplice mensagem, como última mensagem de Deus, revelará a Cristo e a Sua justiça em grau mais amplo do que nunca dantes. Tratando da justiça pela fé, em relação com a terceira mensagem angélica, disse a Sra. White:
“Esta mensagem deveria apresentar com maior destaque perante o mundo, o Salvador crucificado, o sacrifício pelos pecados de todo o mundo. Apresentada a justificação pela fé na Garantia; convidava o povo para receber a justiça de Cristo, que se manifestava na obediência a todos os mandamentos de Deus. . . . Essa é a mensagem que Deus ordenou fôsse comunicada ao mundo. É a terceira mensagem angélica, que deve ser proclamada com grande voz, e secundada pelo derramamento do Espírito Santo em grande medida.” — Ibidem, págs. 190 e 191 (Grifo nosso).
Alguns evangelistas não mencionam em suas pregações a tríplice mensagem senão na última parte de sua série de conferências. Visto que a nossa tarefa é pregar o evangelho eterno sob o prisma das mensagens dos três anjos, e ser êsse o distintivo característico do evangelismo adventista, por que não deveria essa mensagem ser apresentada no comêço da série?
Convirá fazer das mensagens dos três anjos o fêcho do primeiro sermão ou de um dos primeiros da série, e mostrar suscintamente que essa é a mensagem que Deus designou para ser pregada neste tempo, como verdadeiro remédio para os males do mundo. Devemos mencionar que essa mensagem tríplice é alguma coisa que Deus quer que cada alma ouça, compreenda e siga; e que o propósito dessa série de reuniões é descobrir no próprio Livro de Deus, a significação dessa mensagem.
Então, em cada sermão que se seguir, a pouco e pouco, e passo a passo, devem ser apresentados a extensão, o desígnio, as ilações, a significação e o apêlo da tríplice mensagem. Temos salientado o aspecto de advertência da mensagem, mas deixado de apresentar suficientemente a face radiante da mensagem, como se destina a produzir o triunfo glorioso do evangelho, como se destina a iluminar o mundo com a glória de Deus, como produzirá uma revelação de Cristo e de Sua justiça em extensão mais ampla do que nunca dantes.
Alguns extremistas em religião têm buscado divorciar a obediência ao decálogo, da aceitação de Cristo e Sua graça. Por outro lado, o evangelismo adventista tem muitas vêzes omitido a Cristo e a Sua justiça na apresentação da lei. Nossa tarefa é estabelecer o devido equilíbrio entre Cristo e a lei; a relação da graça, a cruz e o sangue, e a obediência aos mandamentos (Apoc. 14:12).
Os sermões de uma série de reuniões evangélicas devem ser mais do que uma lista de pregações sôbre doutrinas variadas da Bíblia. Devem ser um desdobramento concatenado, progressivo, passo a passo da mensagem de Apocalipse 14. “Não é bom se fôr separado”, deve ser uma das regras dos sermões evangélicos adventistas. Todos os temas usados desde o início até ao fim, devem estar entrelaçados com a mensagem especial de Deus. Quando isto fôr feito estaremos ajudando os ouvintes a sentir a “cunha” da mensagem desde o sermão inicial, e ao prosseguirem as reuniões essa “cunha” tornar-se-lhes-á mais e mais forte no coração, até que, jubilosos, se rendam a Deus em entrega completa, para guardar os mandamentos de Deus e a fé de Jesus.
Vantagens Dêste Plano
Esta tríplice mensagem é a fonte das nossas vantagens características no evangelismo, e devemos delas tirar o proveito máximo para atingir o público pelo prisma desta mensagem, que é o fundamento da nossa pregação. Devemos usá-la para reforçar os nossos apelos, assim como as barras de ferro reforçam o concreto armado. Algumas dessas vantagens são:
- 1. Quando a tríplice mensagem é apresentada em seu verdadeiro prisma, ajudará a eliminar os conceitos errôneos do evangelismo adventista, e capacitará os ouvintes para verem os ensinos adventis-tas em seu verdadeiro aspecto de centralização em Cristo.
Os ouvintes reconhecerão que não somos estrava-gantes em matéria de religião, que não acrescentamos ao evangelho novidades nem doutrinas errôneas, mas estamos pregando o verdadeiro evangelho de Cristo, como foi desde o princípio, na feição correta para esta era final. Serão levados a contemplar a fé adventista, não meramente com início em 1844, mas como uma continuação para os nossos dias, da fé e religião originais que Jesus Cristo fundou quando esteve na Terra. Perceberão que não somos legalistas, mas que Cristo e Sua justiça são o centro de cada doutrina que ensinamos, e que a cruz, o sangue, a graça e o amor de Jesus permeiam todos os nossos ensinos. Reconhecerão que os adventistas têm tôdas as verdades do evan-gelho possuídas pelas demais igrejas, e mais uma luz especial para êste tempo. Verão, assim, que lhes estamos oferecendo alguma coisa melhor do que o que podem achar em outra parte, e desejá-la-ão. Êsse foi o meio empregado por Jesus para conquistar a samaritana. Devemos seguir-Lhe os métodos.
- 2. Ajuda a erguer os adventistas acima dos limites estreitos do sectarismo, e dá-nos acesso amplo à mensagem divina, universal e interdenominacional.
Os preconceitos denominacionais contra os adventistas e em favor de outra igreja, são uma das grandes barreiras que impedem de ouvir e investigar a presente mensagem. Apocalipse 14:6 mostra que esta tríplice mensagem é para tôdas as pessoas. Deus a dirige aos membros de tôdas as igrejas e religiões, e aos que não têm filiação religiosa alguma. Isso ajuda a relegar para segundo plano as rivalidades denominacionais e fornece-nos terreno claro e comum em que enfrentar as outras denominações. Possuidores duma mensagem de Deus para tôdas as pessoas, devemos transmitir a todos o auxílio da mensagem de origem celestial, e reunir as ovelhas de Jesus ao Seu remanescente.
- 3. Ajuda a dar às nossas reuniões evangélicas valor e importância invulgares, bem como prioridade no campo do evangelismo.
Nenhum outro povo está cuidando de pregar esta mensagem tríplice aos habitantes de cada nação. Isto diferencia imediatamente as nossas reuniões de qualquer reavivamento comum, ou de quaisquer outras reuniões evangélicas, e é, por si só, um fator atraente para garantir assistência regular. O povo busca hoje alguém que tenha uma mensagem celestial de esperança, certeza e segurança para esta hora turbada. Por meio do contato da mensagem, os ouvintes são levados a ver que não estamos ali apenas para discursar sôbre uma variedade de assuntos extraídos da Bíblia, mas que a seqüência de pregações deverá, passo a passo, descerrar a mensagem de Apocalipse 14:6-12, que Deus designou para esta hora. Ao ver isto o povo, farão esfôrço especial para comparecer a cada apresentação da série de conferências e ouvi-las tôdas.
- 4. Capacita-nos para tirar proveito das bases proféticas do nosso ensino e movimento.
O povo está confundido quanto à significação e desenlace dos acontecimentos do nosso tempo. A resposta para as suas perguntas só pode ser encontrada nas mensagens proféticas. A apresentação da mensagem nesses assuntos despertará, formará e manterá o interêsse.
- 5. Ajudará os ouvintes a tomarem a decisão de se tornarem adventistas do sétimo dia, e, especial-mente, fazerem essa decisão com maior presteza.
Esta profecia das mensagens tríplices de Apocalipse 14:6-12 indica que, a partir da hora do juízo, em 1844, surgiria um movimento inspirado por Deus, pelo qual essa mensagem tríplice seria pregada a tôdas as nações. Assim, para determinar que fé religiosa deve alguém adotar, só há realmente uma única pergunta a ser formulada: Ê a igreja adventista do sétimo dia êsse movimento de origem divina, de Apocalipse 14:6-12? Tudo gira em tôrno dêsse ponto axial.
Com a introdução dessa mensagem tríplice na conclusão do sermão inicial da série, ou, melhor ainda, talvez, dedicando no início da série um sermão inteiro quanto ao lugar, posição e relação dessa profecia de Apocalipse 14:6-12 no plano evangélico divino, os 2.330 dias, a data de 1844 e o juízo poderão ser apresentados antes mesmo de a verdade do sábado haver sido introduzida. Assim poderão os ouvintes ser levados a ver por si mesmos, logo no início da série, que o movimento adventista é êsse movimento ordenado por Deus, que deveria surgir no tempo do fim para consumação da obra do evangelho. Isso os ajuda a decidirem logo em nosso favor. Se êsse movimento adventista é o cumprimento de Apocalipse 14:6-12, o único procedimento coerente para os que o vêem será unirem-se a êle. Apresenta base sã, sólida e satisfatória para essa decisão. Ao convencer-se o povo de que a pregação é a mensagem divina para êste tempo, isso se torna um incentivo poderoso para a decisão imediata, favorável e permanente.
- 6. Dá-nos a vantagem de fazer do assunto da filiação à igreja adventista, não apenas um assunto de unir-se a outra igreja, mas um assunto de aceitação pessoal da mensagem divina.
Numa pergunta que fêz aos principais e sacerdotes, referente a autoridade divina da mensagem de João Batista, Jesus revelou um dos mais potentes princípios da decisão. “O batismo de João de onde era? Do Céu, ou dos homens?” (S. Mat. 21:25). Reconheceram êles que, se admitissem que a mensagem de João era celestial, o único procedimento coerente que poderiam haver adotado seria aceitá-la.
Assim, ao apresentarmos os nossos ensinos como sendo uma mensagem vinda de Deus para êstes últimos dias, conforme está apresentada em tôda a Bíblia, mas resumida em Apocalipse 14:6-12, convencer-se-á o povo de que o único procedimento sábio, o único caminho seguro, a única escolha acertada, é aceitar a mensagem divina e unir-se ao povo remanescente. Se planejarmos a pregação de forma tal que o povo seja convencido de que os ensinos constituem a última mensagem divina, que são divinamente genuínos e coerentes, que mais poderão fazer além de atender ao apêlo de Deus e sair de onde estão para unir-se ao remanescente de Deus?
Nosso evangelismo tem base mais ampla do que convidar os cristãos a abandonarem as outras igrejas e unirem-se aos adventistas. Precisamos apresentar a tríplice mensagem de maneira tal que a filiação à igreja adventista seja o resultado natural da aceitação pessoal da mensagem divina para êste tempo. Ao fazermos-lhes ver que o convite divino da tríplice mensagem para êste tempo é que “guardemos os mandamentos de Deus e a fé de Jesus”, e que Deus convida a que se unam à igreja remanescente os que fazem essa decisão, então o convite de Deus os guiará à igreja adventista. Sua decisão de aceitar a mensagem divina inclui também a filiação à igreja remanescente de Deus. Assim, o nosso apêlo será para que o povo aceite a mensagem de Deus e atenda ao Seu convite.