Ao dizer para alguns que eu me especializara em Educação Religiosa, muitos diziam: “Ah! Você vai ser professor de Bíblia!” Seria isso Educação Religiosa?

Educação Religiosa sempre foi parte integrante da vida do povo escolhido de Deus, os Hebreus. A instrução na verdade divina era tão importante que nos dias finais da peregrinação pelo deserto, Deus deu a eles a clássica declaração educacional de Deuteronômio 6:4-9. No lar, no templo, nas grandes festas nacionais e na observância semanal do sábado os judeus foram aprendendo o significado de sua origem e propósito como povo de Deus, de tal maneira que conservaram sua herança religiosa mesmo durante os 70 anos de cativeiro babilônico.

Jesus Cristo dedicou-Se à Educação Religiosa quando esteve na Terra. Ele não somente pregava às multidões mas dedicava muito de Seu tempo e atenção aos indivíduos e a pequenos grupos. Os evangelhos referem-se diretamente a Jesus como professor trinta e uma vezes. Cinco vezes Jesus Se chama a Si mesmo de mestre. 14 vezes Ele é chamado por alguém de Rabi ou Raboni.

A mensagem de Jesus é muitas vezes chamada de “ensinos”. Seus seguidores eram chamados discípulos ou alunos, e antes de Sua ascensão Ele os enviou a “ensinar todas as coisas”. Ele dizia: “Aprendei de Mim.”

Sobre essa sólida base a igreja cristã desenvolveu-se, sempre atenta à importância vital do “Didache” ou ensino no contexto total da missão da Igreja. Ao olharmos para o capítulo 4 de Efésios somos advertidos da importância deste assunto. Paulo, enumerando os dons do Espírito, menciona no verso 11 “pastores e mestres”. Dean Alford diz ser evidente no texto grego que neste caso as duas funções eram exercidas pela mesma pessoa. Quer dizer, enquanto apóstolos, profetas e evangelistas são alistados separadamente, pastores e professores (mestres) estão juntos gramaticalmente e logicamente.1

Não há nada de arbitrário nisto. Sejam quais forem as atividades de um pastor, ele trata de alguma maneira com os jovens. Há crianças em cada congregação e quase que em cada lar. As igrejas têm a Escola Sabatina. Os jovens das igrejas vão aos nossos colégios e ali a atitude deles e a reação para com os ministros revelam algo do tipo de educação que estão recebendo. Na obra missionária, a educação religiosa vai de mãos dadas com a evangelização. E além disso tudo, há o fato de que tanto o lar como a comunidade estão constantemente exercendo uma influência discreta mas decisiva sobre os jovens. Entre os mais eficientes de todos os educadores estão os pais, as mães, os irmãos e amigos. Em suma, educação de uma forma ou de outra está sempre ocorrendo e é tão inevitável como a própria vida. Um dos equívocos mais comuns em educação é limitá-la às quatro paredes de uma sala de aulas ou ao campus escolar. Na verdade, educação religiosa é um processo contínuo, tão amplo quanto à própria experiência e no qual, todos os que têm contato com os jovens participam consciente ou inconscientemente. Daí o concluirmos que um ministério não interessado em Educação Religiosa é apenas um ministério parcial. Todos os que são chamados a serem embaixadores de Cristo não podem evitar um profundo envolvimento com algo tão intimamente ligado à nossa causa como a Educação Religiosa.

Se Educação Religiosa não faz parte do currículo dos seminários teológicos, então os estudantes poderão estudar a Bíblia mas não aprenderão como comunicar a verdade bíblica às diferentes faixas de idade. Eles poderão estudar Psicologia, mas não aprenderão as necessidades espirituais e a natureza dos alunos nas diversas faixas de idade. Eles poderão estudar Sociologia, mas não saberão como ajudar a satisfazer as necessidades sociológicas através da função educacional da igreja. Eles poderão aprender História, mas não aprenderão a história da Educação Religiosa e sua relevância para a Educação Religiosa de hoje. Eles poderão estudar Filosofia sem aprender sobre a filosofia educacional no ministério da igreja local. A própria natureza, a função, o propósito e os objetivos da igreja determinam a inclusão do ministério da Educação Religiosa em seu programa.

Em vista disso, todos os seminários teológicos protestantes e católicos têm em seu programa curricular a área de Educação Religiosa. Não que todos os pastores devessem se especializar nessa área, mas esses seminários oferecem a possibilidade para tal pensando que “os alunos deveriam tomar pelo menos algumas matérias em Educação Religiosa, porque muitos deles terão que servir simultaneamente como pastores e educadores religiosos.”2 (Asbury Theological Seminary.)

Por essa mesma razão, a Igreja Adventista, embora muito depois das outras denominações, está oficialmente se situando quanto à Educação Religiosa ao estabelecer na Andrews University o programa de Educação Religiosa levando ao Mestrado e Doutorado, tendo como característica a ênfase nas seguintes áreas:

A – O estudo do desenvolvimento do caráter como ciência específica.

B – O estudo dos fatores na transmissão da herança religiosa.

C – Métodos pedagógicos para um ministério educacional.

Pode-se portanto caracterizar a Educação Religiosa como voltada para 2 aspectos distintos:

1. A Educação Religiosa Institucional — Ou seja, o ensino de Bíblia nas escolas adventistas de 1º, 2º e 3º grau. Nessa função, o Educador Religioso deve ser mais do que um simples professor. A ele compete a função pastoral e a responsabilidade pelo bem-estar espiritual de todos os que direta ou indiretamente estejam ligados às nossas escolas. Ele deve ser o evangelista e o pastor de seus alunos e dos pais desses alunos. Sua responsabilidade é ao mesmo tempo ganhar almas e conservá-las para Deus.

2. A Educação Religiosa Não-Institucional — Um profundo interesse pelas necessidades reais da igreja em todas as suas áreas parece ter sido a razão principal de Ellen White afirmar que “deveria haver muito menos ‘sermonar’ e muito mais tato para educar o povo na religião prática. ”3

Tal educação é exatamente a função específica do educador religioso em seu aspecto não-institucional.

Falando sobre a importância de os ministros tornarem-se eficientes na educação de outros, Ellen White diz que eles (os ministros), deveriam educar os jovens para o trabalho.4 Ela amplia o pensamento anterior dizendo que “Cristo deseja que Seus ministros sejam educadores da igreja no trabalho do evangelho. Eles devem ensinar ao povo como buscar e salvar o perdido. ”5

Assim, podemos concluir que na grande missão da igreja, na grande incumbência do Ide; no grande esforço para terminar a obra confiada a nós, temos, como ministros de Deus, duas funções distintas e igualmente importantes. O objetivo da pregação é proclamar a salvação àqueles que estão “mortos em pecados e ofensas”, levando-os a aceitar o dom da vida. O objetivo da Educação Religiosa é ajudar as novas criaturas a viverem à altura de suas decisões e treiná-las na nova vida.

Tendo isto em mente nós deveríamos, ao evangelizar uma pessoa, estar moralmente seguros de que será possível engajá-la em um programa sistemático de Educação Religiosa. Tal programa deveria incluir orientação sobre a família cristã, educação e disciplina dos filhos desde o nascimento até a adolescência, cursos de orientação pré-matrimonial, cursos sobre princípios de saúde, doutrinas bíblicas, métodos de evangelismo, etc.

Cada ministro na igreja, sejam quais forem os seus talentos, é chamado a ser um pregador. Ele deve proclamar o evangelho àqueles que nunca o ouviram. Entretanto, o ministro não deve limitar seu trabalho ao púlpito. Como ministro ele é também um educador. Ele deve educar o povo.

Assim, como educador, ele deve saber como atingir a mente do povo. Deve compreender a natureza humana e os processos de aprendizagem a fim de promover e facilitar o crescimento espiritual de cada um dos membros jovens e idosos. Neste sentido, o pastor pode ser considerado um educador religioso.

Ellen White diz isto nas seguintes palavras: “Cristo era um educador e Seus ministros, que O representam, deveriam ser educadores.”6

Jesus Cristo dedicou-Se à Educação Religiosa quando esteve na Terra. Ele não somente pregava às multidões mas dedicava muito de Seu tempo e atenção aos indivíduos e a pequenos grupos.

Educação Religiosa sempre foi parte integrante da vida do povo escolhido de Deus, os Hebreus.

Referências

1. Henry Alford, The Creek Teatament, Boston, 1878, vol. 3, pág. 117.

2. Asbury Theological Seminary Buletin, 1972.

3. Ellen G. White, Testimonies for the Church, vol. 6, pág. 88.

4. Ellen G. White, Obreiros Evangélicos, pág. 76.

5. Ellen G. White, A Ciência do Bom Viver.

6. Ellen G. White, Testimonies for the Church, vol. 4, pág. 256.

José Carlos Ebling, Doutor em Educação Religiosa pela Andrews University; professor no Instituto Adventista de Ensino.