DANIEL HAMMERLY DUPUY

Evangelista e Secretário do Depart. de Relações da Imprensa, e Temperança da União Austral 

Importância do Primeiro Tema de Uma Série de Conferências

Quando um orador chefa a uma cidade, pouco é o que se sabe a seu respeito. As reportagens que lhe façam os jornais podem produzir ambiente favorável, porém a verdadeira expectativa é gerada pelo primeiro tema anunciado.

O tema inaugural de uma série de conferências deve chamar a atenção. Êle chamará a atenção se focalizar um problema de interêsse para a maior parte dos habitantes da cidade. Não é a fama do orador mas o desenvolvimento do tema anunciado e devidamente difundido mediante propaganda eficaz, o que atrairá o público. O auditório ficará satisfeito com a apresentação do conferencista se êste é fiel no desenvolvimento da conferência anunciada e sabe descrever vividamente os problemas e es­boçar com clareza a almejada solução, muito embora não chegue a dar mais que um vislum­bre da mesma.

O êxito da segunda conferência depende em alto grau da opinião que o auditório tenha for­ mado durante a primeira. O segundo tema deve ser necessariamente interessante e, se possível, continuar o desenvolvimento dos problemas e soluções esboçados no primeiro.

Entre os muitos problemas que o evangelista deve resolver antes do iniciar uma série de conferências, está o de decidir qual será seu primeiro tema e quais os temas introdutórios subseqüentes.

Não há nem pode haver regra fixa que per­ mita estabelecer com certeza qual o tema mais conveniente para dar início a uma série de conferências evangélicas. Isso em grande parte depende da época e do lugar em que se realizará. Há, certamente, grande diferença entre realizar-se uma série de conferências num teatro ou num templo. Em se tratando de um teatro municipal ou da sala de conferências duma biblioteca pública, estará presente um público mais intelectual e um tanto curioso que, como os atenienses, anda em busca de novida­de. Tratando-se de um templo, os que se apresentam estão predispostos para a apresentação de tema religioso, e por essa razão, certo número de convidados se esquivam de entrar por causa dos preconceitos confessos que os domi­nam.

Tôdas as precauções possíveis devem ser to­ madas para que os primeiros temas da série não se prestem a mal-entendidos, que venham robustecer os preconceitos generalizados. A questão de qual poderia ser o tema convenien­ te a ser apresentado ao público que se apresen­ tará à primeira conferência requer muita re­ flexão e oração. Demanda averiguação em tôr­no da idiossincrasia dos habitantes da cidade, estudo da história do país e da região, conhecimento de seus heróis e mártires, noção dos costumes sociais e até psicologia da massa e do ritmo do pulso comercial.

Será difícil averiguar demasiado a respeito dos diversos fatôres que devem ser tomados em conta para se decidir qual será o primeiro te­ma, que título se lhe deve dar e que elementos locais de interêsse deverá conter para que faça vibrar os ouvintes em consonância com o orador.

Orientação Geral das Primeiras Conferências

Dos primeiros temas pode dizer-se que a assistência dependerá mais que tudo de seu caráter interessante ou importante no conceito do ouvinte, de maneira tal que cative a atenção.

A irmã White foi muito explícita no que tange à atitude que o evangelista deve assumir em seu campo de labor:

“Que todo obreiro na vinha do Mestre estude planos e imagine métodos para alcançar o povo onde está. Devemos fazer algo que ultrapasse a rotina ordinária. Devemos atrair a atenção; manifestar um fervor inamovível. Estamos tão próximos de tempos de provas e perplexidades que mal imaginamos.” (Carta n°. 20, de 1893.)

Alguns criam que ao iniciar as conferências em lugares novos, convinha que o conferencista se identificasse de imediato com a mensagem adventista, porém a Sra. White assinalou a vantagem de surpreender o auditório: “Qualquer que tenha sido vossa prática anterior, não é necessário repetir vez após vez a mesma coisa. Deus quer que sigamos métodos novos e não experimentados. Apresentai novidades ao povo; surpreendei-o.” — Manuscrito n°. 121, de 1897.

Inconfundível é o seu conselho referente às primeiras conferências de uma série:

“Estai em guarda sempre. Não apresenteis ao povo de início os conceitos de nossa fé que suscitariam as maiores objeções, para que não fecheis os ouvidos daqueles a quem estas coisas chegam como uma nova revelação.” — Manus­ crito, n°. 44, de 1894.

A sabedoria e o trato devem predominar nas primeiras conferências, de maneira que os adversários não questionem o que foi dito. Is­ to requer medida extraordinária de prudência devidamente planificada:

“Não deveis pensar que se deve apresentar tôda a verdade aos incrédulos em tôda e qualquer ocasião. Deveis planejar cuidadosamente sôbre o que dizer e o que deixar de dizer. Isto não é enganar; é trabalhar como trabalhou Paulo. Disse Êle: ‘Sendo astuto, vos tomei com dolo.’ (II Cor. 12:16.) Deveis variar vossos labôres, e não ter uma só forma que pensais dever ser seguida em tôdas as ocasiões e em todos os lugares. Vossos métodos podem pare­cer um êxito, mas se houvésseis usado mais ta­to, mais da sabedoria da serpente, teríeis visto resultados muito mais reais em vosso trabalho.” — Carta n° 12, de 1887, em Evangelismo, pág. 91. (Espanhol.)

A palavra grega “dolo”, empregada pelo apóstolo Paulo para referir-se à forma como havia cativado e interessado para o evangelho, os Coríntios tem o sentido de “astúcia, engôdo, estratagema, disfarce.” Os temas das primeiras conferências devem ser como um engôdo que atraia os ouvintes por “interessantes”, sem que ó orador revele totalmente que é que considera verdadeiramente “importante.” Jesus disse a Seus discípulos que faria dêles pescadores de homens, e é fato mundialmente conhecido que os pescadores fazem todo o possível para ocul­tar o anzol dentro do engôdo que atrai os peixes. Contudo conserva seu valor a expressão bíblica que deve caracterizar o evangelista: “O que ganha almas sábio é.” Prov. 11:30.

Os Temas Introdutórios Devem Variar com o Tempo

As questões que interessam aos povos em particular e à humanidade em geral, variam com o tempo, ao modificar-se o quadro dos acontecimentos e a maneira de encará-los.

Os temas da etapa introdutória devem ser considerados por sua atualidade ou por har­monizarem-se com questões que revestem grande interêsse humano. Por êsse motivo, quando um evangelista revisa a lista de seus temas iniciais no decorrer de sua atuação, descobrirá quais os títulos que mais influência exerceram no ânimo das pessoas, quando apresentados.

É um fato que os mesmos temas podem to­ mar colorido algo diferente, tonalidade distin­ta, como acontece com uma montanha coberta de neve, que em determinados momentos do dia, conforme a posição do Sol, apresenta colo­ ração azulada, esbranquiçada, fulgurante, ama­ rela, roxa, purpúrea, para tornar à tonalidade violácea à noite, ou prateada com o luar.

A mudança do título de uma conferência deve dar ao conteúdo colorido novo, se é que se deseja manter o mesmo tema. Por essa razão, aos quatro temas introdutórios que publiquei para proveito dos evangelistas em 1942, dei sete títulos diferentes, para serem adaptados segundo as predileções do momento. São êles: 

1º  — O Fracasso da Liga das Nações

— Triunfará o Pacifismo?
— Que Significam os Preparativos
—Entre a Paz e a Guerra.
—Prepara-se o Mundo Para a Paz ou para a Guerra?
—As Alternativas de Guerra e Paz.
— Quando Desaparecerá o Clima de Guerra?

2º — O Destino da Europa. (Dan. 2.)

—Marchamos para a Bancarrota da Civili­zação?
— A Unificação das Nações do Mundo.

—Para um Novo Império Universal.
— Poderão as Américas Salvar a Europa?

— A Confederação dos Estados do Mundo.

— Para onde Marcha Nossa Civilização?

3º. — A Angústia do Mundo.
— Que Significa a Crise Mundial?

—O Ponto Fraco de Nossa Civilização.

— Nosso Século Paradoxal: Miséria e Opulência.
— Assistimos à Bancarrota de Nossa Civilização?
—O Sentido da Angústia de Nossa Era.

— Quando o Agigantamento É um Sinal de Decadência.


4º.—O Significativo Despertar do Oriente.

— A Crescente Maré de ódios Raciais.
— O Bélico Despertar do Oriente.
— O Drama da Civilização Ocidental.
—Enquanto o Ocidente se Debilita, o Ori­ente …
—O Levante dos Povos de Côr Contra a Raça Branca.
—Ante o Ciclone Bélico do Oriente. *

Os temas devem variar com o tempo, quan­do assumem o caráter de atualidade. Por êsse motivo, a primeira conferência que pronunciei no Teatro Sodré, de Montevidéu, em 1954, recebeu o título: “A América em Face do Fracas­so do Racismo.” A conferência inicial pronunciada no Teatro Municipal de Assunção, no Paraguai, em 1948, pouco depois da morte de Gandi, recebeu o título: “Aspectos da Vida Focalizados por Cristo e por Gandi.” A série pronunciada no templo de Paraná, Entre Rios, Argentina, em 1952, teve início sob a epígrafe: “Otimismo e Pessimismo na Idade Atômica,” com duas conferências intituladas respectivamente: “Dos Triunfos da Ciência à Idade Atô­ mica” e “As Lições de Hiroshima e da Coréia.”

Não É Imprescindível que as conferências sejam Iniciadas com Temas de caráter Político. As conferências sôbre assuntos de atualidade, geralmente têm um colorido político que em certas ocasiões não é conveniente. Há salões, bibliotecas e instituições onde é proibido falar acêrca de política e religião, e isto está clara- mente expresso em seus regulamentos. Se é necessário começar uma série de conferências em tal lugar, para prosseguir noutros recintos, convém adotar outros temas introdutórios.
Em tais circunstâncias pode iniciar-se a série com temas muito diversos.

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(*) O autor apresenta esta lista de quatro te­ mas com títulos diferentes como um simples exemplo de como variar a epígrafe das confe­rências, sem a menor insinuação de que êsses mesmos temas sejam os convenientes para a nossa época, que apresenta aspecto inconfundí­vel. Muitas pessoas se interessam em temas científicos e sociais. Entre os científicos, há os de ordem prática, como os que se ocupam da temperança, e de caráter filosófico quando fazem a crítica da teoria evolucionista. Uma conferência de temperança pode receber o tí­ tulo em forma alarmista de “Os Grandes Ini­migos da Humanidade.” Tenho atraído grandes auditórios anunciando uma crítica do evolucio­nismo com os títulos: “Darwin e Nosso Século Desorientado” e Darwin e o Problema da Origem do Homem.”

Entre os temas sociais tenho podido atrair a atenção com a conferência: “O Problema da Deliqüência Infantil”, e “A Luta Mundial Contra a Criminalidade.” Há outros temas de caráter social com colorido otimista. Entre êles se destaca a conferência: “O Segrêdo da Felici­ dade” que tem produzido os maiores triunfos para o pastor Walter Schubert, que, comentan­ do o valor da etapa dos temas introdutórios, escreveu o que segue:

“As primeiras conferências devem ser de tal natureza que despertem a confiança e o sentimento amistoso do público para com o orador. Devem ser de caráter tal que os ouvintes sin­ tam que se beneficiam e se habilitam para a realização de seus mais profundos anelos como sejam: a felicidade, o sentimento de segurança, etc. Por isso, os primeiros temas devem desen­volver-se não tanto de acôrdo com uma ordem lógica, mas em harmonia com princípios psico­ lógicos. Portanto, dever-se-ão desenvolver te­mas adequados à idiossincrasia do povo o que ês­te, por isso mesmo, agradecerá. Tendo em conta êste objetivo, convém alternar os temas pro­féticos e de atualidade com os que cativam mais profundamente o coração humano, como sejam: ‘O Segrêdo da Felicidade.’ Assim o auditório começará gradual e imperceptìvelmente a gos­tar dos temas que, por serem religiosos, antes detestavam.” — El Predicador Adventista, Ano 17, n° 5, de 1949, pág. 13.

As conferências introdutórias deverão sem dúvida atrair as mais diversas pessoas e isto justifica a apresentação de temas heterogêneos. Surge, não obstante, o problema da lógica dos temas nos anúncios, de modo que a propagan­ da não dê a impressão de que o orador está desorientado e não traçou devidamente sua série de conferências. Como resolver ao mesmo tempo o problema lógico e o psicológico na etapa introdutória da série? Nem todos os te­mas atraem por igual as pessoas. Algumas são graves e lhes interessam a solução dos problemas mundiais; pertencem em geral a êsse tipo os homens que se sentem atraídos pelo anún­cio dêsses temas. Outros têm senso mais prático e sentimental da vida e a êstes interessa tudo que se relacione com o problema da felici­dade da família; entre estas pessoas se desta­ cam as mulheres.

Diz-se que os homens se dispõem a deixarem-se matar por uma idéia, ao passo que as mulheres se deixam matar pelo que amam. Nossas conferências devem atrair tanto homens como mulheres; por conseguinte, os temas anuncia­ dos devem cativar a uns e outros. Ao buscar a solução dêste problema—que o pastor Walter Schubert crê haver encontrado com temas alternados dentro da etapa introdutória — encontrei uma fórmula conciliatória para dar início a uma série que pronunciei na cidade do Paraná, em 1952. Com efeito, as primeiras três conferências foram anunciadas para os que pensam, sob o título geral de “Otimismo e Pes­simismo na Era Atômica.” As três conferências subseqüentes foram dedicadas aos sentimentais e, por conseguinte, a maioria dos presentes às três primeiras era composta de homens, e às três seguintes, de mulheres. O título da segunda série da etapa introdutória foi: “A Huma­nidade em Busca da Felicidade,” e os temas que incluía eram “É a Felicidade Mito ou Realidade?”; “Aspectos da Vida Focalizados por Cristo e por Gandi” e “A Suprema Esperança da Humanidade.”