“Bem-aventurado aquele que encontrou seu trabalho! Que não peça outra felicidade!” afirmou T. Carlyle, famoso historiador e pensador inglês do século XIX. Esta declaração também é muito significativa: “Onde não há trabalho não há prazer.”1 A procura da alegria é comum a todos os seres humanos; e, para consegui-la, quanta coisa é dissipada, sendo que nunca tanto custou tão pouco. Partindo da premissa de que os leitores deste artigo já têm seu trabalho, o fundamental é que encontremos real prazer nele. Por meio de algumas sugestões práticas pretendemos ajudá-lo a desfrutar o trabalho de um modo que ainda não foi imaginado.
O Trabalho, uma ordem di-vina para todos. — Os observadores do sábado temos a tendência de dar ênfase à parte correspondente ao repouso estabelecido no quarto mandamento. Devido a isto, muitas vezes passamos por alto que o trabalho precede o descanso e que a atividade deve abranger seis dos sete dias do ciclo semanal. O Criador, que delineou o maravilhoso organismo humano, prescreveu para seu ótimo funcionamento períodos de atividade alternados com períodos de descanso. O trabalho produtivo, além de ser uma fonte de alegria, é essencial para manter a saúde nas melhores condições.
O trabalho do ministério, um privilégio que Deus nos concede. — A tarefa de maior transcendência que pudesse ser confiada ao homem é a de difundir o evangelho, a fim de que os pecadores possam conhecer e aceitar o Salvador. Por isso, participar na proclamação das boas-novas é motivo de muita satisfação para nós obreiros. Quão privilegiados somos por este trabalho que os anjos quiseram realizar!
Organizando o tempo para o trabalho produtivo. — O sábio rei afirmou: “Tudo tem o seu tempo determinado”, e ainda que seja óbvio, cumpre destacar quão importante é designar certo tempo para todos e para cada um dos assuntos de competência do pastor. Salomão foi um mestre nisso, pois, segundo as evidências que temos, disciplinou seu próprio tempo até para rir e chorar . . .
De maneira alguma pretendemos forçar a interpretação do texto se afirmarmos que o monarca teve um duplo acerto em sua vida: primeiro, na petição para que Deus lhe desse sabedoria; e, em segundo lugar, ao usar esse dom para distribuir sabiamente suas atividades nas 24 horas dos trezentos e sessenta e cinco dias do ano. Sem dúvida essa foi uma das principais fórmulas que deu a seu reinado a grandeza que teve.
Por conseguinte, quer seja em seu distrito, instituição ou campo, se deseja que Deus o ajude a fazê-lo prosperar sob a sua direção, organize-se da maneira como o permitam suas capacidades e depois designe o tempo que for necessário para realizar correta e oportunamente todas as tarefas que empreender. Se a isto se acrescentar uma boa dose de entusiasmo, será bem sucedido em qualquer empreendimento que resolver levar a cabo.
Sugestões Para Organizar o Trahalho de um Dia
Para pôr em prática o que habitualmente fazem os homens que têm êxito, distribua as horas do dia na forma que mais se ajuste aos requisitos de um pastor. A seguir lhe propomos este programa sugestivo:
- 1. Levantar-se, exercícios físicos e preparação da aparência pessoal para o encontro com Deus 6:00 h
- 2. Devoção pessoal 6:30 h
- 3. Culto familiar 7:15h
- 4. Pesquisa profissional, estudo de assuntos gerais, preparação de sermões e temas 8:00 h
- 5. Correspondência, relatórios, relação com o campo 9:30 h
- 6. Assuntos de administração de igreja (orçamentos, aspectos legais, etc.) 10:00h
- 7. Estudos bíblicos e visitas pastorais 10:30 h
- 8. Almoço 13:00h
- 9. Descanso 13:30 h
- 10. Estudos bíblicos e visitas pastorais 14:00h
- 11. Jantar e culto familiar 18:30h
- 12. Reuniões na igreja ou estudos e visitas 19:30 h
- 13. Tempo para a esposa 21:30h
- 14. Descanso 22:00 h
Num concilio de obreiros, um pastor piloto consultou-me a respeito do grau de rigidez que deveria ser designado a esse tipo de distribuição do tempo. A resposta que dei naquela ocasião se resume nos seguintes termos: “Um programa para o pastor — incluindo o plano diário — é como as asas de um avião. Estas são tão rígidas que permitem que o aparelho se eleve e voe, e tão flexíveis que quando é produzida uma turbulência, cedem o suficiente para que o avião não se desintegre e continue voando. ”
Reconheço que este programa requer muita coisa de nós, mas a nossa aplicação a um plano que dá atenção às atividades essenciais do pastor, nos ajudará a jamais estarmos entre os que “não ardem nem resplandecem, no entanto estão contentes”.2 Oxalá o entusiasmo que temos pelo trabalho nos mantenha inflamados na Causa, para que num dia não muito distante possamos resplandecer — segundo a promessa— “como as estrelas, sem-pre e eternamente”. Comecemos já a desfrutar o contentamento a que têm direito os que vivem constantemente como o mordomo fiel, fazendo bem todas as coisas e no menor tempo possível.
Sugestões Para Organizar o Trabalho de uma Semana
- 1. Divida o território de sua igreja de acordo com os dias de que dispõe para visitação e estudos bíblicos.
- 2. Suponhamos que designe cinco dias para essas tarefas. Se for assim, designe uma zona para cada dia, adotando este procedi-mento sugestivo:
- 2.1. Prepare uma ficha para cada membro ou interessado, num tamanho que permita levar essas fichas na carteira ou no bolso.
- 2.2. Organize-as de acordo com as cinco zonas em que dividiu seu território. Então terá cinco grupos de fichas.
- 2.3. Comunique a sua congregação a distribuição territorial que acaba de fazer, para que cada membro possa identificaria zona a que corresponde o seu domicílio.
- 2.4. Instrua os membros para que saibam como está organizado o seu programa de visitação e o dia em que poderá dar-se o seu encontro com eles.
- 2.5. Depois de fazer a visita, anote a data e o assunto de que tratou nessa ocasião. Além de servir de controle do programa de visitação, isto será uma confirmação para aqueles que dizem: “Meu pastor nunca me visita. . .”
- 2.6. Seu plano para os estudos bíblicos deve ser organizado de acordo com o mesmo esquema. Combinar os estudos bíblicos com as visitas, além de economizar muito tempo e de proteger seu orçamento, lhe dará a oportunidade de fazer uma contribuição pessoal para a economia de energia que a humanidade reclama. O mais importante, porém, é que, com este sistema, estará equilibrando o trabalho pastoral com a evangelização de casa em casa.
- 2.7. Para os outros assuntos que devem ser atendidos diariamente, leve uma agenda, e ao organizar seu trabalho para a jornada, qualifique a urgência de cada assunto com as letras, A, B e C, usando a letra A para os compromissos que não admitem postergação; a letra B para aqueles que devem ser atendidos nesse dia, se for possível; e a letra C para o que puder ser atendido se o tempo disponível o permitir.
- 2.8. Dedique a segunda-feira inteiramente à família e considere tanto esta inversão como qualquer outro tempo de seu pro-grama.
Lembre-se de que a vinha do Senhor, isto é, a Igreja de Cristo, começa na casa do pastor. Oxalá nunca necessite expressar-se com estas palavras: “E me puseram por guarda de vinhas; a vinha, porém, que me pertence não a guardei. ”3
Sugestões Para Organizar o Trabalho de Cada Mês
- 1. São tantas as ocupações que requerem a atenção pessoal do pastor que este com facilidade se esquece de uma ou outra delas. Esta situação se torna mais evidente e dramática quando ele negligencia a evangelização pública e a habilitação dos instrutores bíblicos indispensáveis para reforçar seu trabalho no púlpito. Também requerem sua atenção a escola, a Colportagem, a visitação, a remessa de relatórios, as cerimônias fúnebres e as unções, entre outros misteres próprios de sua ordenação, além da responsabilidade pela manutenção do aspecto físico dos edifícios e cuidar de que o pagamento das contas da luz, da água e do telefone seja efetuado a tempo.
- 2. Para estabelecer um bom programa de trabalho que abranja todas as tarefas que lhe são próprias, tome pelo menos 13 folhas em branco e dê a cada uma delas o nome dos meses do ano eclesiástico, que no caso da Divisão Sul-Americana começa em outubro.
- 3. Na folha adicional anote todas as recomendações, sugestões e planos da Organização, e depois acrescente as suas.
- 4. Com todos os pontos anotados nessa folha, responda cuidadosamente nas páginas já previstas a cada uma destas perguntas:
- 4.1. Que devo fazer?
- 4.2. Quando devo fazê-lo?
- 4.3. Como devo fazê-lo?
- 4.4. Onde devo fazê-lo?
- 4.5. Com quem devo fazê-lo?
Exemplificação do Procedi-mento
- a) Que devo fazer ou se espera que eu faça? Uma campanha de evangelização na Semana Santa. Tome a folha de abril e anote: Evangelização na Semana Santa. Com isso também está respondendo à pergunta: Quando?
- b) Sendo que outro item é onde, anote o lugar: Vila Independência.
- c) Supondo que deve alugar um salão, escreva na folha correspondente ao mês de janeiro: Procurar salão e firmar contrato.
Na folha de março anote: Preparar o salão: 4 — Procurar pintores 11 — Comprar tinta 18 — Pintar o salão
- d) Com quem é outra pergunta importante. Tome a folha de dezembro e anote: 8 — Começar a preparar os instrutores bíblicos.
Na folha de março anote: 1 — Escolher o chefe dos recepcionistas, da evangelização infantil; secretárias; os responsáveis pelas equipes de projeção e amplificação; etc.
9 — Dar instruções aos componentes das equipes.
- e) Como farei a campanha? 1) Preciso ter um orçamento.
Anote na folha correspondente ao mês de outubro: Orçamento para a Campanha da Semana Santa. 2) Preciso fazer propaganda. Tome então a folha de fevereiro e anote:
- 5 — Desenhar a propaganda e preparar outros materiais para a campanha.
8 — Entrar em contato com a imprensa.
Na folha correspondente ao mês de março, anote:
2 — Levar a propaganda à imprensa.
- 6 — Iniciar a distribuição sistemática de folhetos.
28 — Distribuir os volantes e enviar os convites especiais.
Na folha correspondente ao mês de abril, anote:
5 — Começar a campanha.
- 18 — Preparar a propaganda para o batismo e levá-la a estações de rádio e jornais.
- 19 — Distribuir os convites para o batismo.
Batismo demonstrativo da campanha.
Tomar nomes.
26 — Iniciar as classes batismais com os interessados.
Na folha correspondente ao mês de maio, anote:
1 — Iniciar o programa de testemunho com os novos conversos.
31 — Batismo das primícias da campanha.
Essas datas e os itens consignados são apenas ilustrativos. Quanto mais minucioso for o planejamento, tanto maior será o tempo requerido por ele, mas os resultados se traduzirão em tranqüilidade para você, confiança da administração em seu programa e maiores frutos para o seu trabalho.
Um antídoto para a preguiça. — “Segundo o que Deus me mostrou, é preciso haver, entre os ministros, uma sacudidura, a fim de serem eliminados os negligentes, preguiçosos e comodistas, e permanecer um grupo fiel, puro e abnegado.”4 Pois “coisa alguma é tão desanimadora para o avançamento da verdade presente como o trabalho feito a esmo, por alguns dos ministros pelas igrejas.”5
Se tais admoestações expressam o estado de alguém que reconhece com fidalguia a sua situação, cobre ânimo. Pense neste antídoto enunciado por Diderot: “O homem que se entrega completamente a sua ocupação, se é um gênio se converterá num homem prodigioso; se não o é, a tenaz aplicação ao trabalho o elevará acima da mediocridade. Demais, cumpre recordar que, como na sepultura não há obra, nem projetos, nem conhecimento, nem sabedoria alguma, convém que aproveitemos a oportunidade para realizar com entusiasmo tudo quanto nos vier à mão para fazer. Quem assim acomete seu trabalho, já efetuou a metade. A Igreja necessita hoje em dia de homens tão solícitos assim, pois não levará muito tem-po para que tenhamos de testemunhar até mesmo perante os reis e governantes do mundo.
Ninguém — incluindo os administradores — espera o impossível de nós. O certo é que “o Senhor deseja que cada obreiro faça o melhor. … Se possuís apenas um talento, usai-o sabiamente.”6 “Qualquer que seja o ramo de trabalho em que estejamos empenhados, a Palavra de Deus nos ensina a não ser vagarosos no cuidado’; e a ser fervorosos no espírito, servindo ao Senhor’.”7
Oxalá os pensamentos exarados e as sugestões expressas nestes artigo, ajudem todo o corpo de obreiros das Divisões Sul-Americana e Interamericana a encontrar no trabalho ministerial uma fonte permanente de satisfação e felicidade.
Bibliografia
- 1. Cesário Goicoechea, Diccionario de Citas, pág. 640.
- 2. Testemunhos Para Ministros, pág. 169.
- 3. Cantares 1:6.
- 4. Testemunhos Seletos, vol. 1, pág. 35.
- 5. Evangelismo, pág. 325.
- 6. Beneficência Social, pág. 120.
- 7. Parábolas de Jesus, pág. 346.
Referências Adicionais
- 1. Obreiros Evangélicos, pág. 106.
- 2. Mensagens Escolhidas, livro 2, pág. 188.
- 3. Idem, pág. 221.
- 4. Testemunhos Seletos, vol. 2, pág. 27.
- 5. Idem, vol. 1, págs. 534 e 535.
- 6. Atos dos Apóstolos, pág. 501.
- 7. Testemunhos Seletos, vol. 2, págs. 27 e 29.
- 8. Obreiros Evangélicos, págs. 76 e 77.
- 9. Orientação da Criança, pág. 396.
- 10. Evangelismo, págs. 90, 91, 658 e 659
- 11. Testemunhos Seletos, vol. 3, págs. 83 e 84.
- 12. Beneficência Social, págs. 110 e 111.
- 13. Obreiros Evangélicos, págs. 124, 351 e 352.
- 14. Serviço Cristão, págs. 68 e 69.
- 15. Atos dos Apóstolos, pág. 507. |