Creio que temos tido as melhores impressões da mensagem do Concílio Anual de 1974. Pudemos perceber a preocupação de que a igreja permanece morna, e que o “caráter de Cristo não está perfeitamente reproduzido em Seu povo”. Preocupou-se também com o fato de que a vinda de Cristo tem tido a sua demora, e que a tarefa fundamental a ser realizada pela Igreja Adventista do Sétimo Dia, consiste em dar às primeiras coisas o primeiro lugar, de tal forma que se possa apressar o retorno de nosso Senhor.

Meu anelo é que este retiro sirva para nos ajudar a dar às primeiras coisas o primeiro lugar.

O Senhor quer que ao voltarmos para as nossas igrejas nossos irmãos reconheçam, como os homens do Novo Testamento, que estivemos com Jesus.

Em nossos dias o ganhador de almas, embora orientado pelo Espírito Santo, tem sido, não raras vezes, suplantado pelo orador presunçoso. Num seminário foram postas à venda algumas pinturas de destacados artistas. A mais impressionante entre elas foi a que representava um púlpito adornado, com um pregador bem vestido discursando eloqüentemente. O título da pintura era: “O Púlpito Moderno”. Lamentavelmente, em muitos lugares hoje não se percebe a influência do Espírito Santo, senão apenas o grito agudo do púlpito secularizado, onde, com freqüência, há disputa pessoal. Não se prega mais com grande poder senão com grande debilidade. As pessoas não olham para nós como naqueles memoráveis dias dos apóstolos mas, sim, com grande indiferença.

Por isso estou persuadido de que há uma só solução para o problema, tanto do ponto de vista individual como denominacional. A solução seria o derramamento da chuva serôdia. Notemos o que nos é dito por intermédio do Espírito de Profecia: “A igreja por muito tempo se tem contentado com um pouco das bênçãos de Deus. Não tem sentido a necessidade de alcançar os exaltados privilégios para eles comprados a um custo infinito. Sua força espiritual tem sido fraca, sua experiência de caráter definhado e defeituoso, e estão desqualificados para a obra que o Senhor gostaria que fizessem. Não estão habilitados a apresentar as grandes e gloriosas verdades da santa Palavra de Deus que convenceriam e converteriam almas por intermédio do Espírito Santo. O poder de Deus espera seu pedido e recepção. Uma colheita de alegrias será feita pelos que semeiam a santa semente da verdade”. (Testemunhos para Ministros, p. 175).

Nosso Exemplo e Modelo

Este princípio vital, tão necessário em nosso ministério e em nossa igreja, torna-se evidente quando estudamos a vida de Jesus, “Autor e Consumador de nossa fé”. A relação entre o Espírito Santo e o Homem perfeito é iluminadora. Suas ações e Seus processos mentais eram motivados pelo Espírito Santo. Seu nascimento e crescimento, bem como Suas tentações, Seu ministério, Seus milagres, Sua morte e ressurreição e ainda a organização da igreja cristã primitiva, tudo, enfim, foi operação do Espírito Santo. (S. Lucas 1:35;. 4:1, 2, 14; Atos 10:38; S. Mateus 12:28; Hebreus 9:14; I S. Pedro 3:18; Atos 1:1, 2). A unção completa e a posse do Espírito Santo fizeram de nosso Senhor o que Ele chegou a ser como homem.

Durante Sua meninice e Sua juventude, Cristo esteve constantemente sob a influência modeladora do Espírito de Deus. Sim, não há dúvida, na ocasião em que Ele foi batizado, passou para uma nova fase de Sua experiência, caracterizada por uma relação mais íntima com o Espírito do Senhor. Este foi o Seu Pentecostes pessoal. Foi dotado e ungido sem restrições algumas. (S. João 3:34). Sempre esteve consciente de que o Espírito Santo Lhe dera a unção para pregar (S. Lucas 4:17-19). Seus milagres e Suas palavras procediam dessa inspiração. Por obra do Espírito Santo Ele Se ofereceu a Si mesmo na cruz e depois de Sua ressurreição “foi declarado Filho de Deus, com poder”. (Romanos 1: 4). Na verdade Jesus possuía o Espírito Santo em Sua plenitude. É admirável o fato de que o mesmo Espírito que esteve em Cristo anela estar em nós.

Resultado da Ação do Espírito

Podemos distinguir três resultados de realce produzidos pela plenitude do Espírito Santo:

1. O Espírito produz uma nova e vivida consciência da presença de Jesus.

No Antigo Testamento Jesus era uma figura vaga e imprecisa e a luz de Sua presença quase não era notada. No Novo Testamento, entretanto, Jesus era tudo. Hoje também deve ser tudo. Ele quer fazer morada em nós e o faz mediante o Espírito Santo.

“A comunicação do Espírito Santo era a comunicação da própria vida de Cristo” (Review and Herald, 13 de junho de 1899).

“A obra do Espírito Santo é incomensuravelmente grande. Desta fonte o obreiro recebe o poder e a capacidade. O Espírito Santo é o Consolador, como se fosse para a alma a presença pessoal de Cristo. Os que contemplam a Cristo com uma fé sincera e infantil, são os que participam da natureza divina mediante a agência do Espírito Santo. (Id., 29 de novembro de 1892).

Necessitamos de Cristo. Necessitamos de Seu Espírito a fim de que tome posse de cada um de nós e nos dirija. Esperamos que Ele revele em nós a Sua vida e o Seu poder, transformando-nos em verdadeiros cristãos.

2. O Espírito torna as pessoas semelhantes a Jesus.

Quando possuímos a experiência de ter o Espírito serão revelados muitos pecados que nos assombrarão.

Os discípulos puderam ter a presença externa de Jesus mas não se mostraram semelhantes a Ele. Jesus era humilde e eles, orgulhosos. Era abnegado, eles, egoístas. Mas quando o Espírito se apoderou deles, tornaram-se semelhantes a Jesus.

No terceiro volume de Testemunhos Seletos, páginas 209-215, a irmã White pergunta: “Qual foi o resultado do derramamento do Espírito no dia de Pentecostes?” Logo a seguir ela enumera as coisas maravilhosas que o Espírito fez pela igreja primitiva cristã. Diz o seguinte: “Um só interesse prevalecia. Um só objeto de emulação absorvia todos os demais. A única ambição dos crentes era revelar a semelhança do caráter de Cristo e trabalhar pelo engrandecimento de Seu reino”.

3. O Espírito traz o poder de Jesus.

Desejamos poder e quase nada possuímos dele! Esse poder pertence a Deus, mas ele nos é dado em Cristo, por meio do Espírito Santo.

A resposta não só ao chamado dos delegados ao Concílio Anual de 1974, mas também às necessidades do nosso ministério, está na abundante provisão do Espírito. Nossas igrejas enlanguescem com um ministério lânguido. Nosso povo não reflete a imagem de Jesus porque nós não temos refletido ainda essa imagem em nosso ministério. Evidentemente não precisamos de um conjunto de novas pessoas, mas dos mesmos homens e mulheres transformados pelo poder de Cristo através de seu Espírito. Daí a razão por que pensamos haver chegado a hora de deixar certas atitudes pouco recomendáveis e, como ministros do evangelho, dedicar-nos a orar como ministros, a pregar como ministros, e a fazer tudo que se relaciona com a religião como se nada houvesse de casual em nossa vida. Também creio que é tempo de romper com a monotonia e deixar a velha tendência de buscar no arquivo os sermões amarelecidos e muito usados. Devemos, antes, buscar de Deus luz e poder que nos capacitem para preparar mensagens apropriadas às necessidades de nossos ouvintes. Tudo isso ocorrerá se nossa vida e mensagem destilam o poder do Espírito Santo.

Condições para Receber esta Provisão

“Cristo prometeu o dom do Espírito Santo a Sua igreja, e a promessa nos pertence também a nós da mesma maneira que aos primeiros discípulos. Mas, como todas as outras promessas, é dada sob condições”. (O Desejado de Todas as Nações, p. 502).

Vejamos:

1. Sentir “fome” e “sede” do Espírito Santo.

Devemos compreender que a provisão do Espírito é para a última geração, tanto quanto o foi para os dias apostólicos. Precisamos sentir que devemos possuir o Espírito a qualquer preço. Devemos compreender que cada faculdade de nosso ser e cada momento de nossa vida têm que pertencer ao Senhor a fim de que Ele cumpra o que prometeu por meio do profeta Isaías: “Porque derramarei água sobre o sedento, e torrentes sobre a terra seca; derramarei o meu Espírito sobre a tua posteridade, e a minha bênção sobre os teus descendentes; e brotarão como a erva, como salgueiros junto às correntes das águas”. (Isaías 44:3, 4).

Ao ter “fome” e “sede” do Espírito Santo, que devo fazer com este poder? Nunca se concederá o Espírito Santo para nos tornarmos famosos em nossas atividades religiosas. Se o objetivo se prende a alguma vaidade ou à glorificação própria, torna-se impossível o cumprimento da promessa. Aquele que deseja receber o Espírito para tornar-se famoso, não poderá recebê-Lo em maior porção do que Simão o mago O recebeu, porque o seu desejo era comprá-Lo.

Não há dúvida de que este anelo do Espírito em nossa vida nos levará a orar como nos memoráveis dias de Pentecostes. Os discípulos estavam ajoelhados em oração quando receberam o poder do Espírito Santo. Ajoelhemo-nos também em oração diante de Deus e não tenhamos pressa em erguer-nos até que recebamos Sua bênção.

2. Dar lugar ao Espírito Santo

É necessário que nos esvaziemos a fim de receber o Espírito. Temos que deixar o eu e abandonar o pecado. Duas coisas distintas não podem ocupar ao mesmo tempo o mesmo lugar. O eu e o Espírito não podem ocupar o trono do coração simultaneamente. Em cada coração há uma cruz e um trono. Se Jesus estiver no trono o ego estará na cruz. “Ao esvaziarmos o coração devemos aceitar a justiça de Cristo. … Se abrirmos a porta do coração, Jesus encherá o vazio com o dom de Seu Espírito (Review and Herald, 23 de fevereiro de 1892).

Lembremo-nos também de que não seremos cheios do Espírito a menos que estejamos em harmonia com Deus e com os homens. O espírito de rivalidade, de ódio, de descontentamento, impede o cumprimento da promessa. A desconfiança, o ciúme, a crítica e a disseminação de coisas desagradáveis com relação a certas pessoas, são impedimentos. Ao unirmos o nosso coração ao de Cristo, colocando-nos em harmonia com a Sua obra, virá sobre nós o Espírito que caiu sobre os discípulos no dia de Pentecostes”. (Testemunhos Seletos, Vol. 3, p. 250).

3. Exercer fé e manifestar um espírito de obediência.

Precisamos apropriar-nos da promessa, pela fé, e decidir fazer a nossa parte para ser usados pelo Espírito. Devemos reconhecer que Deus também faz Sua parte derramando Suas bênçãos. A promessa repousa sobre uma obediência sincera (Atos 5:32). Quando em resposta ao chamado de Cristo abandonarmos todas as coisas sórdidas, considerando-as perdidas para que se possa receber o Espírito, a partir deste momento de submissão, Deus nos concederá o Seu Espírito. Daí a importância de fazer com que esta promessa seja nossa. “Manhã após manhã, ao se ajoelharem os arautos do evangelho perante o Senhor, renovando-Lhe seus votos de consagração, Ele lhes concederá a presença de Seu Espírito, com Seu poder vivificante e santificador. Ao saírem para seus deveres diários, têm eles a certeza de que a invisível atuação do Espírito Santo os habilita a serem ‘cooperadores de Deus’ ”. (Atos dos Apóstolos, p. 56).

Queira Deus que nossa experiência seja igual à dos cinco pregadores prudentes da seguinte parábola:

Parábola dos Dez Pregadores

O reino dos Céus é semelhante a dez pregadores que tendo recebido seus diplomas de Teologia saíram para servir ao Senhor e Sua Igreja.

Cinco deles eram prudentes e cinco presunçosos. Os cinco que eram imprudentes passavam seu tempo dedicando-se ao trabalho de visitar as pessoas, dirigir comissões, conferências públicas e reuniões de toda espécie, enquanto negligenciavam o estudo da Palavra de Deus e a prática da oração e meditação, faltando-lhes, portanto o azeite em suas lâmpadas.

Os cinco prudentes faziam visitas pastorais, assistiam às reuniões de comissão, dirigiam conferências dentro do limite de seu tempo, sabiam dizer não às coisas desnecessárias e não negligenciavam o estudo da Palavra de Deus, bem como a oração e a meditação.

Afinal os anos se foram. E, com o tempo, a igreja começou a sentir a necessidade de um grande reavivamento ouvindo-se o clamor: “Organizemos uma cruzada para Cristo! Avancemos por Cristo e Sua igreja! Ê hora de fazer a colheita!”

Todos os pastores foram chamados a participar desse programa de reavivamento, dando cada um o melhor serviço possível. Levantaram-se e se uniram para contribuir com o melhor de seus esforços.

A esta altura os imprudentes começaram a sentir-se abalados porque não sabiam qual a sua real posição. Faltava-lhes o poder. Foram então consultar os que não eram imprudentes:

— Repartam conosco o poder que vocês possuem — disseram eles. E acrescentaram:

— Vocês têm poder em sua obra e nossas lâmpadas se apagam.

Os prudentes responderam:

— Isso não se pode fazer. Temos poder suficiente apenas para as nossas necessidades. Não podemos reparti-lo. É necessário que este poder seja adquirido. Só nos resta aproximarmo-nos da fonte de poder e sua provisão se mostra inesgotável. Tomem tempo em buscar uma vida santa. Procurem permanecer com Deus, confiando em Sua Palavra.

Quando o Espírito Santo vier todos serão testemunhas fiéis de Cristo.

Ricardo Cabero, pastor evangelista da Missão Equatoriana