O Ministério da Morte

Queiram por favor explicar II Cor. 3, princípalmente o ministério da morte.” Que significa isto?

Êste capítulo é melhor compreendido se conside- rado com base cm sua história. É sempre melhor ler todo o contexto de um passo bíblico intricado, pois há grande perigo de ficar-se mal orientado por tomar pequenas partes isoladas, princípalmente se o leitor tem idéia preconcebida. Êste capítulo não pode ser inteiramente compreendido se não relacionado com I Coríntios. A igreja de Corinto tinha cm si sérios elementos de perigo devidos ao passado indecoroso e à natureza insubordinada e rebelde de muitos de seus membros. Paulo escreveu palavras de condenação a igreja de Corinto mais que a tôdas as outras igrejas combinadas, concluindo com a advertência de uma possível maldição. (I Cot. 16:22.)
A segunda epístola foi escrita depois de Paulo ter sida informado de como haviam êles recebido suas reprovações. Alguns dêles haviam ficado tão tocados que sentiram necessidade do conforto tão repetidamente mencionado por Paulo. (II Cor. 7:6 e 7; 1:3-6.) Êle foi brando e conciliador em sua segunda carta e mais auto biográfico do que no resto de seus escritos. Isto porque haviam insistentemente perguntado por sua autoridade. Era êle de fato apóstolo?

Tôda a segunda carta aos Coríntios foi escrita para provar o apostolado de Paulo. Nos primeiros capítulos êle apela para a demonstração do Espírito em seu trabalho, como a principal prova. Depois descreve fartamente seus sacrifícios, perseguições e sofrimentos. Finalmente descreve suas visões, pelas quais tinha sido transportado ao Céu e visto e ouvi­ do o que estava além da possibilidade de ser exposto em palavras (verdadeiro significado de II Cor. 12:4.)
O terceiro capitulo de 11 Coríntios é parte de seu argumento com respeito à demonstração do Espirito Santo. Os próprios Coríntios eram a cre­ dencial de Paulo: êle não necessitava da credencial de Jerusalém, quando êles eram o fruto de sua obra. (11 Cor. 3:1-4.) No verso 5, Paulo acrescen­ ta que êles não deveriam pensar que fôsse por al- gum mérito próprio que havia sido escolhido para fazer a obra de um apóstolo. Foi o poder divino que fêz de Paulo e de seus companheiros, servos de Deus, (“ministros”) para levar as boas-novas da justiça pela fé (“o Novo Testamento”). No verso 6, Paulo diz que os Coríntios sabiam serem êle e seus companheiros servos de Deus, porquanto se manifestara mais poder em sua pregação do que houve com o formalismo dos judeus.

No verso 7 e restante do capítulo, Paulo põe ênfase entre o formalismo judaico — a que chama “a letra” — e sua viva fé em Cristo. Isto ele faz pela referência à experiência de Moisés quando co­briu a face com um véu. Ao que Moisés estava fazendo nesse tempo, Paulo chama “o ministério da morte” e “ministério da condenação”; diz que era glorioso mas estava fadado a desaparecer sendo substituído pelo “ministério da justiça”, que era mais glorioso. Se pudermos descobrir o que estava Moisés fazendo quando tinha o véu sôbre o rosto, descobriremos o que é “o ministério da morte” que deveria passar.

Leia-se cuidadosamente Êxo. 32-34. Isto foi depois de haverem os israelitas feito o velho concêrto (Êxo. 19:3-8), que foi a promessa feita em sua própria fôrça de obedecerem a tudo que o Senhor ordenasse. Em seguida Deus promulgou Sua lei, do monte Sinai (Êxo. 20), que pelo concêrto êles se obrigaram a obedecer. Moisés subiu então ao Monte para receber de Deus um conjunto de “juí­zos” nos quais basear a aplicação da lei, na maneira em que os modernos juizes usam “precedentes”. Enquanto ali esteve quarenta dias, levantaram osisraelitas o bezerro de ouro, quebrando assim o concêrto e acarretando sôbre si a penalidade da morte que Deus ameaçava executar. (Êxo. 32:7-14.)

E Deus teria o direito de assim proceder, por estar tôda a nação sob a sentença de morte como penali­ dade da lei quebrantada. Moisés desceu do monte e executou esta sentença. (Êxo. 32:7, 10, 15, 22-29; 33: 1-10.) Êste foi o “ministério da condenação”, ou “o ministério da morte” — a execução da penalida­ de da morte. Não a lei, mas a execução da pena da lei. Como símbolo de que o povo estava sob êste “ministério da condenação”, Moisés quebrou as tá­ buas da lei. O povo ficou privado da guia de Deus e deixado na incerteza quanto a se Deus os poupa­ ria ou não. (Êxo. 33:1-10.) Moisés deixou-os aca­brunhados e retornou ao monte para receber de Deus a decisão final quanto à punição dêles. (Êxo. 32:17-23; 33:5-9.)

Os israelitas aguardavam angustiados por saber qual seria sua sentença. Quando viram Moisés aproximar-se (Êxo. 34:20-35), notaram duas coisas:

Trazia êle a duplicata das tábuas da lei, o que lhes dava a esperança de estar Deus a propiciar- lhes outra oportunidade. Mas sua face brilhava com brilho sobrenatural, tal como tinham visto na coluna de fogo, o que bem poderia significar que de alguma maneira sua aproximação traria a morte. Esta a razão do terror dêles, e até mesmo de Arão. A presença de Moisés era-lhes um “ministério de condenação.” E êle foi maravilhosamente glorioso.

Amoravelmente Moisés reassegurou ao povo que a glória significava que êle havia sido admitido à presença de Deus como representante dêles, e isto era um sinal de que Deus lhes dava (em substitui­ ção ao velho concêrto, que haviam quebrado, e fôra, portanto, abrogado) Seu novo concêrto de graça. Como sinal de pesar pelo seu êrro, Moisés cobriu a face e convocou uma assembléia pública. Suas primeiras palavras foram para anunciar a êles, que se tinham declarado povo do bezerro de ouro do Egito, a restauração do sábado (Êxo. 35:1-3), que é o sêlo da lei, o sinal de santificação (Ezeq. 20:12 e 20).

Êsse foi o sêlo da restauração do favor de Deus ao povo. Então Moisés reptou o povo a que, em sinal de gratidão pelo perdão divino, contribuíssem para a edificação do tabernáculo, no qual o próprio Deus estaria presente para habitar com êles. Não surpreende que o povo, em sua libertação, desse mais do que o necessário. Êxo. 35:20-29; 36:5-7). Assim, “o ministério da morte” que fôra tão glorioso que brilhava na face de Moisés, refletindo a associação que tivera com Deus no monte, fôra substituído pelo muito mais glorioso ministério da justiça, em que Deus habitava visivelmente entre êles no tabernáculo, sendo êles Seu povo perdoado e restaurado.

Paulo usa êste histórico para explicar sua relação para com os Coríntios. Sua primeira epístola era o “ministério da morte”, o “ministério da condenação.” Êle lhes havia demonstrado a violação do sétimo, oitavo e nono mandamentos; tinham violado a lei tôda; estavam sob a sentença de morte eterna. (I Cor. 5:13; 16:22.) Êste “ministério da morte”, diz Paulo que era glorioso porque tinha sido feito no poder do Espírito Santo; e como porta-voz. de Deus, suas palavras tinham o poder divino. Mas Paulo diz em II Cor. 3:8-11, que assim como Moisés havia feito algo mais glorioso do que a ministração do “ministério da morte” (a restauração do povo no favor e perdão divinos), êle igualmente estivera fazendo algo mais glorioso do que condenar os Co­ríntios pela lei de Deus — estivera a apontar-lhes Jesus Cristo que poderia, pelo Espírito Santo, dar- lhes Sua própria justiça, Sua capacidade perfeita para guardarem a lei. (Vs. 1 e 18).

Que têm que ver com isto os dez mandamentos? Foi a lei de Deus, escrita em tábuas de pedra e con­ servada na arca coberta pela visível presença de Deus, que foi abolida? Não o foi nos dias de Moisés; muito menos nos dias de Paulo. O “ministério da morte” — a administração da sentença de morte pela violação da lei — é que foi abolido, revogado, subs­ tituído pelo perdão e restauração. O “ministério da justiça” toma o lugar do “ministério da condena- ção.” Mas não poderia haver nem condenação nem justiça se não houvesse a lei de Deus. Se a lei hou­ vesse sido abolida na cruz, Paulo não teria condena­ do os Coríntios pela sua transgressão. Se nos dias de Paulo não existisse a lei, não teria êle oferecido aos Coríntios a justiça, uma vez que não há maneira dc reconhecer-se o direito e o êrro senão pela lei. Assim, ao dizer Paulo aos Coríntios que era mais glorioso falar-lhes a respeito de como poderiam al­cançar a justiça pelo Espírito Santo de Cristo do que apontar-lhes seus pecados, estava estabelecendo a lei e tornando sua obrigação mais forte que nunca dantes. (Rom. 3:31.)

Expiação pelo Pecado

Por que foi necessário morrer Cristo pelos pecados do mundo, e que efeito teria produzido no plano da salvação, se Êle não tivesse morrido como morreu, mas de morte natural, como Moisés, ou não morrido, como Elias?

penalidade da transgressão é a morte, que teria sido eterna, não houvesse Cristo dado a Sua vida pela do homem. Gên. 2:17; Rom. 6:23. Constava do plano divino que a redenção do homem fôsse efetuada mediante a morte ele Seu Filho, pois Cristo foi Cordeiro morto desde a fundação do mundo.” Apoc. 13:8. ‘‘Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o Seu Filho unigênito”. E o Filho amou de tal maneira que deu a Sua vida pelo homem. S. João 3:16; 10:17 e 18.

Para dar esperança ao homem caído e fazer-lhe compreender o preço de sua redenção, o Senhor lhe deu, logo após o pecado, o sistema sacrificial. Pela oferta de sacrifícios poderia vir o homem a compreender que a penalidade da morte que sôbre deveria ter caído, foi infligida a seu substituto, e manisfestar assim, sua crença no sacrifício quo o Filho de Deus por êle faria, bem como a aceitação (dêsse sacrifício. O cordeiro sacrificado por Abel Gên. 4:4 e Heb. 11:4) era o tipo do “Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.” S. João 1:29. O profeta viu-O como um Cordeiro, sendo “levado tinha ao matadouro. ’ Isa. 53:7.

O ponto vital do plano da salvação é o sangue expiador. “Sem derramamento de sangue não há remissão.Heb. 9:22; Efés. 1:7; Col. 1:4. A Moises Deus declarou o significado do sangue sacrifical: “Porque a alma da carne está no sangue; pelo que vo-lo tenho dado sôbre o altar, para fazer expiação pelas vossas almas.” Lev. 17:11. O sangue do cordeiro pascal e de outros animais sacrificados, não si mesmo poder para purificar do pecado, mas era o tipo do sangue expiatório de Cristo, o qual purifica. Heb. 9:12-14; I S. João 1:7. O sangue de Cristo era a Sua vida, que Êle deu para salvar do pecado o homem. O sangue sôbre o altar expiava o pecado, o sangue tinha de ser derramado; o animal não podia permanecer vivo, nem morrer de morte natural. Além disto, o tipo requeria para o sacrifício um animal sem mancha. Cristo, em Seu sacrifício, preencheu todos êsses requisitos. Cre­mos,- portanto, que por nenhuma outra maneira que não pelo derramamento de Seu sangue poderia Jesus fazer expiação pelo pecado do mundo.