Karen Nuessle, Esposa de pastor residente em Port Orchard, Washington.

Nossa autora, Karen Nuessle, escreveu um artigo muito perspicaz. Com efeito, ao lê-lo, senti, nalguns aspectos, que minha própria vida estava transparecendo diante de mim. Delineando as etapas da experiência de uma esposa de pastor, Karen diz ser possível que ela use cinco “faces” durante sua existência. Embora haja ocasiões de infindo alegria, ela também encontrará períodos de dificuldade e de tomar decisões. Ao ler este artigo, creio que você também será capaz de identificar-se com a maioria dessas faces. Ao enfrentar novos desafios, é confortante saber que Deus tem um plano para sua vida e que outras esposas de pastor estão passando por circunstâncias similares. O conhecimento prévio de que haverá tempos difíceis, a oração e o amor a ajudarão a transpô-las. — Marie Spangler.

– Oh! eu a conheço. Você é a esposa do pastor.

Sejam quais forem os seus talentos ou suas realizações pessoais ou profissionais, quando ela é apresentada à congregação, sempre o será como a esposa do pastor. Em nenhuma outra profissão do mundo uma mulher é tão firmemente vinculada ao marido e seu trabalho. (Pode ser uma vocação ou uma profissão, mas é sempre um trabalho.)

Essa constante aliança tem vantagens e desvantagens. Visto que ela precisa mudar-se frequentemente, a esposa do pastor pode achar tranquilizador saber que há um lugar adequado à sua espera para ser preenchido por ela. A maioria das pessoas tratá-la-á com afabilidade simplesmente porque é a esposa do pastor, e ela desenvolverá profunda amizade com alguns desses membros da igreja, com o passar do tempo.

Que dizer, porém, das desvantagens, das tensões e pressões que afetam singularmente a mulher que também é a esposa do pastor? Às vezes tenho pensado que necessitamos de uma Erma Bombeck para indicar-nos que, embora os nossos problemas sejam peculiares, quase todas as esposas de pastor terão de enfrentá-los numa ocasião ou outra. Podemos ter o estímulo de saber que outras pessoas conseguiram transpor com êxito situações similares.

Creio que há cinco “faces” distintas que nós esposas de pastores assumimos devido ao impacto do trabalho de nosso marido sobre nossa vida.

A jovem que se enamorou de um futuro ministro do evangelho é arremessada na função de esposa de pastor. Idealista e ansiosa, ela pretende virar o mundo em direção a Cristo, afastar a apatia e realizar toda a espécie de sonhos dourados e róseos planos em sua nova congregação.

Quer trabalhe fora de casa ou em seu próprio lar, ela assume de bom grado a preparação do boletim da igreja, a realização de visitas, estudos bíblicos, cestas de alimentos, responsabilidades na Assistência Social e na Escola Sabatina, a fim de cumprir “sua” parte para terminar “a obra”. Excitada e entusiasmada, ela encontra realização em gastar seu tempo nos alvos de seu marido, nos objetivos da Igreja e na comunhão com Cristo.

Às vezes, ela talvez pergunte a si mesma quais são os seus motivos. Está realizando tudo isso por amor a Deus ou por amor a seu marido? Afinal de contas, porém, no primeiro ardor da iniciação ministerial, o total envolvimento da esposa é tido como certo. Ela faz parte da equipe. Eles trabalham juntos.

Então chega o primeiro filho, geralmente seguido pelo menos por mais outro. Embora continue sendo esposa de pastor, ela acrescenta uma nova “face” a sua vida — a face de mãe.

A chegada do bebê faz com que ela recue um passo de seu papel como esposa de pastor totalmente envolvida. Seu retraimento aumenta a tensão da relação entre o marido e a esposa, já precipitada pela chegada do bebê. É como se a esposa do pastor houvesse mudado de profissão. Em essência, isso ocorrerá cinco vezes em sua vida, e tudo porque é esposa de pastor.

A mudança de função tornar-se-á mais acentuada se a esposa trabalha fora de casa e continuar a fazê-lo após o nascimento do bebê, ou se trabalhou fora de casa até esse tempo e decidir ficar em casa. Ambos os aspectos ocasionam tensões e requerem adaptação. Se o casal compreender que essas tensões constituem uma consequência natural do seu “ditoso acontecimento” e que todo casal precisa de tempo para superar as dificuldades, eles reduzirão as tensões e se adaptarão com mais facilidade.

No entanto, de certo modo, a chegada de um bebê afeta mais a família de um pastor do que outras famílias. Os membros, em geral, ficam contentíssimos com o novo bebê, mas não compreendem que a esposa do pastor, Consequentemente, terá de diminuir algumas de suas obrigações. E muitas vezes a nova mãe enfrenta pressões para que seja uma pessoa exemplar, criando um filho “perfeito”.

Nada aflige mais uma esposa de pastor do que lutar sozinha com duas crianças pequenas, num banco nos fundos da igreja, e ser punida pelos olhares, se não pelas palavras, dos casais sentados ao seu redor, que apenas precisam cuidar de uma criança entre eles. Como nenhuma outra coisa, esse ato de humildade lhe ensina a compadecer-se das jovens mães — especialmente das que vêm à igreja sem o marido, e que necessitam de sua compreensão e amparo. Ela conhece algo sobre cuidar sozinha dos filhos na igreja, pois o tem feito durante anos!

Quando Júlio e Julieta começam a ir para a escola, a mãe enfrenta outra mudança de profissão. Em muitos casos, a esposa do pastor gostaria de mudar a marcha e retornar à forte intimidade da primeira etapa de sua vida — ela e o marido, uma equipe para Cristo. Na maioria das vezes, porém, o demônio das despesas escolares ergue a cabeça. A necessidade sobrepuja a preferência, e a mãe retorna a sua profissão original ou tem de aprender uma. Seja como for, ao reingressar no mercado do trabalho, ela recua mais um passo de seu primeiro envolvimento no trabalho do marido.

Agora, até mesmo os poucos deveres que ela reteve durante os anos iniciais da qualidade de mãe, têm de ser deixados à beira da estrada. Mais desligada ainda do trabalho que o casal tanto ama, ela não se sente como esposa de pastor, a não ser no sábado. Neste sentido, pode identificar-se com muitos “adventistas do sétimo dia” — só está empenhada na igreja no sétimo dia. Esse período pode ser um dos mais traumáticos para seu marido, para sua família e para sua relação como casal.

Se ela trabalha fora de casa, a esposa do pastor necessita de mais cooperação e ajuda do marido e dos filhos. Aqui o pastor depara com um aspecto delicado. Ele pode ficar em casa e, até certo ponto, sujeitar seu programa ao da esposa. Será, porém, que deve fazê-lo?

Indubitavelmente, a esposa necessita do apoio do marido durante esse tempo. Talvez esteja sofrendo de sintomas de retraimento causados pela falta de empenho na igreja. Pode ser que sinta frustrações porque seu tempo é mais agitado — todas as coisas que ela costumava fazer durante o dia precisam ser agora realizadas à noite. Os filhos talvez também fiquem desnorteados. Antes disso, eles ajudavam nos serviços domésticos, mas agora sua “ajuda” tornou-se uma necessidade. As irritações são abundantes nesse período, até que, com oração e amor, ocorra uma adaptação.

Talvez a etapa mais embaraçosa na experiência da esposa do pastor seja a quarta. Até agora seus alvos e objetivos têm sido muito coerentes, pois, na realidade, teve poucas alternativas além daquela que escolheu. Aquilo que ela fez proveio da necessidade. Mas agora os filhos não estão mais em casa. Os encargos financeiros que a obrigaram a trabalhar fora de casa foram reduzidos a tal ponto que lhe é possível fazer uma escolha. E isso ocasiona o que talvez seja o maior receio — o receio de tomar a decisão errada.

Até agora, talvez, a esposa tenha feito alguns cursos, a fim de estar habilitada para ocupar posições mais elevadas e ganhar melhores salários. Para realização pessoal e segurança financeira, ela esforçou-se ao máximo para atingir o auge de suas possibilidades na carreira que escolheu. Agora terá de tomar uma decisão.

Convém voltar atrás para renovar o íntimo companheirismo no trabalho que ela e o marido desfrutavam no começo de sua obra pastoral? Ou será melhor continuar a trabalhar fora de casa e da esfera pastoral, colhendo a messe, que está começando a sazonar, produzida pelos anos de penoso esforço que ela investiu em sua carreira?

Ninguém poderá fazer essa escolha por ela. Ninguém poderá dizer o que é melhor. A esposa do pastor poderá escolher a primeira etapa e encontrar tal emoção e alegria em sua relação com Deus e com o marido que se equipare ao Céu na Terra. Poderá experimentar a doçura de partilhar de vitórias, de respostas à oração, e do júbilo que resulta quando duas pessoas trabalham juntas, amparando-se mutuamente. Às vezes, porém, quando uma mulher acostumada a exercer autoridade procura retornar à primeira etapa, ela talvez se torne muito autoritária, sendo assim um estorvo para o quadro de auxiliares do pastor.

Poderá ser que ela escolha ingressar plenamente na quarta etapa, encontrando tempo para instalar-se confortavelmente numa profissão que nunca lhe tenha pertencido. Essa etapa possibilita uma bela florescência da vida matrimonial do pastor e sua esposa. Ambos têm interesses externos, mas estão sozinhos em casa agora. Podem desfrutar a doçura de um casal que passa a conhecer-se cada vez melhor. A relação que talvez se tenha embaçado durante os anos de crescimento e educação dos filhos pode ser revitalizada com uma nova primavera.

Assim, a quarta etapa constitui uma escolha importante, que não é feita com facilidade, mas modifica novamente a face da esposa do pastor. Essa etapa possibilita que seja tomada uma decisão mais espontânea do que em qualquer uma das outras etapas.

A quinta etapa — a viuvez — não oferece nenhuma alternativa para a esposa do pastor. Certamente nem todas as esposas de pastor passarão por essa etapa. Seja qual for, porém, a face que estejam usando quando isso acontecer, essa experiência provavelmente será mais traumática para elas do que para qualquer outra mulher, devido a sua estreita ligação com a vocação do marido.

Em grande parte, quando morre o seu marido, a esposa do pastor perde a identidade. Oh! ela sempre teve sua própria identidade, porém esta se achava tão intimamente relacionada com a do marido que essa etapa pode reduzir uma mulher à metade do seu tamanho.

Ela perde sua função na igreja como a esposa do pastor — pois virá um outro pastor. Comumente também perde sua casa, e acaba se mudando pouco depois da morte do marido. Perde mais que o marido com a morte deste último. Penso que não estarei sendo muito dramática ao afirmar que ela perde quase tudo. Nessa ocasião, sua fé e confiança no Senhor serão tudo que realmente lhe restará.

Por que definir essas cinco etapas? Por que indicar alguma coisa tão evidente? Todas as esposas de pastor terão de enfrentar pelo menos uma das mudanças de função. É confortante e tranquilizador saber que outras pessoas tiveram de adotar essas cinco faces e viveram bem com elas — não subsistindo apenas, mas vivendo alegremente.

E, embora não nos conheçamos pessoalmente, podemos ser compreensivas e amparar-nos mutuamente, estando cientes das provações e vitórias que nossas irmãs estão enfrentando.

Quando temos conhecimento prévio das dificuldades que teremos de enfrentar na transição entre essas etapas, podemos considerá-las como desafios e superá-las com êxito. Satanás, o “leão que ruge” procurando destruir-nos destruindo nossos lares, usa essas ocasiões especiais de tensão em seus esforços nesse sentido. Por meio de cautela, oração e amor poderemos derrotá-lo em nossa própria casa. Então, quando alguém nos cumprimentar dizendo: “Oh! eu a conheço. Você é a esposa do pastor”, seremos capazes de responder: “Sim, e sou muito feliz por isso!”

ORAÇÕES da casa pastoral

Há tanta coisa para fazer que, mesmo trabalhando dia e noite, eu não conseguiría efetuá-lo. Já estou cansada só ao pensar sobre a tarefa de hoje; como conseguirei virar-me amanhã, e na semana que vem, e na outra?

Por que tenho tanta coisa para fazer?

É porque espero demais de mim mesma? Caí na armadilha de pensar que sou a única pessoa capaz de realizar o trabalho? Se assim é, Senhor, torna-se realista no tocante a minhas motivações, e também no tocante a minhas energias e ao tempo de que disponho.

É porque os outros esperam demais de mim? Ajuda-me, então, a pensar nas pessoas que precisam de preparo e experiência. Oxalá eu seja cortês ao dizer “não” e sábia ao delegar responsabilidades.

Careço de domínio-próprio? Por favor, livra-me de ser perturbada pelo estado de ânimo ou pela obstinação! Chama-me a atenção para projetos que precisam ser realizados, e ajuda-me a enfrentá-los primeiro.

Careço de eficiência? Mostra-me, Senhor, melhores métodos de trabalho. Estou certa de que eu poderia dar um aspecto mais dinâmico a muitas tarefas e pôr mais ordem em minha vida.

“Se cada momento fosse devidamente avaliado e empregado do modo devido, teríamos tempo para tudo que necessitamos para nós mesmos e para o mundo. No emprego do dinheiro, no uso do tempo, das energias, das oportunidades, volva-se cada cristão para Deus em busca de guia.” — A Ciência do Bom Viver, pág. 208.

Agora mesmo eu me sinto como se estivesse caminhando na água, sendo tragada por uma onda de responsabilidade após a outra. Quase não consigo reter a respiração. Oh! Senhor, dá-me uma clara visão do Teu propósito para minha vida. Concentra minha atenção no Teu plano.

Por favor, não me deixes fracassar!